Presidente da CBF fala sobre futuro do futebol brasileiro
Foi num domingo, dia de futebol, 15 de março de 2020. Ali tomamos a difícil e inédita decisão de parar as competições nacionais. Na mesma direção, as Federações Estaduais suspenderam seus jogos. Naquele momento, a pandemia começava a mostrar seus impactos sobre o Brasil.
Foram mais de 120 dias de paralisação dos campeonatos da CBF. Nesse período, a entidade atuou de forma decisiva para a manutenção do futebol brasileiro doando ou antecipando sem juros quase R$ 170 milhões, em benefício das Federações Estaduais e suas competições locais, dos clubes de todas as séries, do futebol feminino e da arbitragem.
O Brasileirão só começou em 8 de agosto, mais de três meses depois da data original. Nesse intervalo, trabalhamos duro para retomar o futebol com segurança. Os clubes precisavam jogar para manter seus contratos geradores de receitas e preservar pagamentos de salário e outros compromissos.
Organizar o calendário é uma tarefa complexa e vital que a CBF realiza, traduzindo em datas as obrigações contratuais que os clubes assumem de entregar um determinado número de jogos na temporada. Sem jogar, eles não sobrevivem. Por isso, decidimos, de forma assertiva, pela manutenção das competições em sua integralidade.
O Brasil é um raríssimo exemplo de país que não abriu mão de realizar seus campeonatos. Em conjunto com os clubes e as Federações, assumimos a responsabilidade de um calendário apertado, mas possibilitando a participação de quase 200 clubes de todos os estados.
Desenvolvemos um cuidadoso protocolo de proteção. Foram quase 90 mil testes para Covid em atletas, comissões técnicas e árbitros, num investimento superior a R$ 30 milhões. Realizamos 21 competições, com 2.600 jogos, incluindo as séries C e D do Campeonato Brasileiro, as femininas e as de base, que dependem integralmente dos recursos da CBF.
Preservamos milhares de empregos diretos e indiretos. Apenas entre atletas e treinadores foram 11.270 contratos ativos no sistema da CBF nesta temporada.
Não passamos incólumes pela pandemia. Houve surtos localizados em clubes, mas sem evidências de que isso tenha desencadeado contágio entre jogadores no campo de jogo. Garantimos que o futebol não fosse um fator de expansão da epidemia. Poucos setores da cadeia produtiva se mostraram tão seguros.
De todas as medidas de proteção, uma das mais penosas foi a ausência dos torcedores nos estádios. Sonhamos com a volta da torcida, quando as condições de saúde do país, com a vacinação, permitirem.
Trabalhamos o tempo todo trocando experiências com especialistas e autoridades sanitárias. Respeitando o trabalho heroico dos profissionais da linha de frente no combate à pandemia. Foi em reconhecimento a eles que, com o projeto Craques da Saúde, doamos a cada um dos 27 estados brasileiros uma ambulância, entregue ao hospital que mais se destacou no combate à Covid-19.
Outra iniciativa importante foi a campanha Seleção Solidária, com os craques da Seleção Brasileira e a CBF engajados e estimulando doações de 64 mil cestas básicas a famílias carentes.
Neste domingo, Palmeiras e Grêmio escrevem o último capítulo desta temporada, com a final da Copa do Brasil. O futebol brasileiro prova que é muito forte e, unido como hoje, é capaz de superar enormes obstáculos.
Quase um ano depois daquele 15 de março, o cenário continua desafiador. Mas estamos muito mais preparados para enfrentá-lo com as lições que aprendemos e serão aplicadas na temporada de 2021. Seguiremos tomando decisões corajosas com racionalidade, responsabilidade e permanente diálogo.
*Rogério Caboclo é presidente da CBF
Fonte: Agência O GloboMais lidas
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