Futebol

Preparador físico da Seleção defende abertamente manifesto de atletas

 O treinador da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, disse que o futebol europeu também convive com excesso de jogos. José Luiz Runco e Luiz Rosan, médico e fisioterapeuta da equipe nacional, usaram linhas de raciocínio diferentes, mas estiveram distantes do entusiasmo sobre a criação do Bom Senso F.C., grupo de atletas disposto a discutir mudanças na gestão do futebol nacional. Na comissão técnica canarinho, o preparador físico Paulo Paixão foi o único a defender abertamente o manifesto.

"Você não pode ser irresponsável e acelerar uma preparação porque está trabalhando diretamente com a integridade física do atleta. Então, o movimento é interessante e oportuno. Espero que as partes alcancem seus objetivos", declarou Paixão, que também trabalha no Internacional.

O preparador físico da seleção explicou que a pré-temporada de um jogador de futebol deve ter ao menos 21 dias. Segundo ele, porém, o ideal seria espalhar essa fase em até um mês.

"O calendário tinha de ser revisto, e não é de hoje que estamos falando. É uma situação antiga, mas que está difícil de ser solucionada porque sempre esbarra em questões contratuais de todos os lados. Alguma coisa tem de ser feita", cobrou o preparador físico.

Paixão relatou que a seleção brasileira já foi prejudicada pelo tipo de preparação física que o calendário impõe aos atletas: "Já tivemos problemas físicos, sim. Agora, a vantagem é que você trabalha com excelência. Entre os melhores do mundo, essa defasagem física pode ser suprida pela parte técnica em muitos momentos".

O Bom Senso F.C. foi lançado na terça-feira da semana passada. Trata-se de um coletivo de atletas que quer discutir mudanças na gestão do futebol, e o calendário é o primeiro foco de preocupação deles. A primeira reunião presencial foi realizada na última segunda-feira, em São Paulo, e agora os jogadores querem uma reunião com a CBF.

"Eu acho que a CBF entende esse posicionamento dos atletas. Torço para acontecer essa reunião e para que os jogadores se envolvam nas discussões. Eles são a parte principal na discussão, e eu espero que todas as partes cheguem a um consenso", disse Paixão.

O atual preparador físico da seleção brasileira defende que os atletas devem ser submetidos a um máximo de 60 a 65 partidas por temporada. O número é o mesmo proposto por Carlinhos Neves, antecessor de Paixão na equipe nacional.

"Eu tenho falado isso há certo tempo: é preciso enxugar o Estadual. Muitos falam em um limite de sete jogos por mês, mas eu acho que devem ser seis. Se tirarmos um mês de férias e outro de preparação, teríamos dez meses de seis jogos na temporada. É preciso priorizar as competições", disse Carlinhos Neves, que também trabalha no Atlético-MG.

Neves ponderou que o calendário apertado do futebol brasileiro não prejudica apenas a preparação dos atletas. Segundo ele, isso também causa um problema para a recuperação.

"A intensidade do futebol mudou muito. Estamos falando de um esporte diferente do que foi no passado, com atletas que percorrem distâncias maiores e em maior intensidade. Um atleta precisaria de três ou quatro dias para uma recuperação adequada", afirmou Carlinhos Neves.

"E eu nem acho que temos de encontrar culpados agora. Temos de aproveitar esse momento e discutir. O que ficou para trás não importa. Eu acho que a CBF vai entender essa posição dos jogadores e verá que o movimento é válido", completou o preparador físico do Atlético-MG.

Fonte: UOL Esporte