Preços, veto e carga de ingressos reduzidas distanciam a torcida do clube
Quando se viram em situação difícil na Série A deste ano, São Paulo e Inter apelaram ao maior patrimônio de um clube grande: sua torcida. Com promoções de ingressos, Morumbi e Beira-Rio passaram a ficar lotados na reta final. Na Série B, porém, o gigante em apuros adota estratégia oposta. No jogo contra o Luverdense, na terça-feira, a diretoria do Vasco não só manteve o preço dos bilhetes como reduziu a carga, alegando precauções de segurança.
Os dirigentes ainda fecharam ao público metade das cadeiras sociais, argumentando a realização de obras na marquise a menos de 20 dias do fim da temporada. Assim, no momento decisivo da competição, apenas 2.555 pessoas pagaram ingresso para assistir ao empate por 1 a 1, resultado que derrubou o Vasco para o terceiro lugar, a apenas dois pontos do quinto colocado.
Na partida anterior em São Januário, o empate com o Avaí por 0 a 0, houve confusão nas sociais depois de protestos de torcedores contra o presidente Eurico Miranda. O filho do dirigente, Eurico Brandão, discutiu com policiais militares. Diante do Luverdense, o clube fechou metade das sociais, justamente na parte mais próxima à sala da presidência, que ficou isolada.
Havia dois andaimes no local, para reparos e pinturas na marquise, de acordo com a assessoria de imprensa do clube. Mesmo com apenas mais uma partida em São Januário em 2016, no dia 26, contra o Ceará, as obras não esperaram o fim da temporada.
Tudo começou na derrota para o CRB, quando o time ainda estava na vice-liderança, com cinco pontos de vantagem para o quinto. Os protestos contra o presidente ficaram evidentes no segundo tempo, e Eurico chegou a fechar a janela de sua sala. A torcida não perdoou e xingou bastante.
Para o compromisso seguinte em casa, contra o Avaí, a diretoria do Vasco solicitou a proibição da entrada de materiais de organizadas em São Januário. Diante do Luverdense, a medida também foi colocada em prática, mas direcionada a apenas duas: Guerreiros do Almirante e Força Independente. Normalmente, o veto às organizadas parte do Gepe, mas o clube adotou o caminho oposto.
- Não podemos correr risco de ocorrer briga e perder mando de campo. É precaução, nada pessoal contra ninguém. É só para esse jogo, depois a gente vai vendo o que vai acontecer - afirmou Ricardo Vasconcellos, assessor da presidência, antes do confronto com o Avaí.
Sem bandeiras, faixas e instrumentos, o cenário diante do Luverdense era de apatia. Logo aos 10 minutos do primeiro tempo, houve um protesto discreto contra Eurico Miranda. A insatisfação dos torcedores aumentou ao término da partida, mas ainda foi menor do que nos dois jogos anteriores em São Januário. O capitão Rodrigo foi hostilizado pela torcida quando descia ao túnel de acesso ao vestiário, e o time, em geral, ouviu gritos de "sem vergonha". Depois do jogo, os torcedores protestaram na parte externa, em frente à entrada das cadeiras sociais.
Em entrevista coletiva, o técnico Jorginho pediu desculpas aos torcedores e à diretoria pelo mau momento do Vasco na Série B.
- A culpa é toda nossa. Torcedor não tem nenhuma culpa. Tenho certeza de que, se estivéssemos jogando de forma vistosa, com um futebol convincente, o torcedor estaria aqui. Nossa proposta era estarmos classificados a sete ou oito rodadas do fim. A culpa é nossa. Eu, como treinador, como líder dessa equipe, tenho que responder por isso. Só lamento fazer com que o presidente, a diretoria e o torcedor passem por esse momento difícil - disse.
Com um distanciamento claro entre clube e torcida, os dois lados têm uma certeza: a permanência na Segunda Divisão representaria um golpe duríssimo numa relação já estremecida.
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