Futebol

PC Gusmão: "Quando aproximei mais o Felipe do Zé Roberto, os gols começaram

As raízes do Vasco são portuguesas.

Mas foi da Espanha que veio a inspiração para levar o time à frente.

Com um dos piores ataques do Brasileiro (11 gols), o técnico Paulo César Gusmão armou um time ofensivo no treino de ontem, no esquema 4-2-3-1, utilizado pela Fúria, campeã na África do Sul, e poderá levá-lo a campo pela primeira vez no domingo, contra o Vitória, em São Januário. Em vez de Iniesta, Xavi, Villa e Fernando Torres, os galácticos de São Januário serão Felipe, Zé Roberto, Éder Luís e Carlos Alberto, como centroavante.

— Armei assim para olhar os quatro juntos. Quando aproximei mais o Felipe do Zé Roberto, os gols começaram a sair. Sempre vou ter dois na frente, mas o Carlos Alberto é a referência.

E o Felipe, o meia de ligação. É parecido com a Espanha — disse PC.

No mesmo dia que PC armou o esquema ofensivo, que virou moda ao ser utilizado também pela Alemanha e Holanda, e foi adotado pelo Santos, campeão da Copa do Brasil sobre o próprio Vitória, o Vasco lançou a parceria com uma cervejaria, que vai reformar o vestiário ou a sala de musculação do clube, e serviu a bebida aos convidados. Era o mesmo que fazia a Espanha em seu centro de treinamento na África do Sul, quando era possível comer presunto e beber cerveja, enquanto o treinador Vicente del Bosque comandava o treino. A torcida mal pode esperar para sentir os efeitos proporcionados pelo quarteto de jogadores.

— É uma formação leve, boa. Não haverá problemas — disse Felipe.

Quase não haverá problemas, porque Carlos Alberto, mais baixo do que a maioria dos centroavantes, corre o risco de não ser encontrado.

PC teria Nunes, que não treinou ontem, como opção. Élton negocia transferência para o Sporting Braga, de Portugal. Mas o capitão tem mostrado nos treinos que vai recuperar sua vaga. Nem que tenha que atuar fora de sua posição de origem.

— Ficamos sem um ponto de referência, porque o Carlos Alberto, mesmo na frente, não é atacante. Mas é um excelente jogador. Já o Nunes está acostumado. Oriento o Carlos Alberto, que, às vezes, sai da posição. Digo para ele: “Não volta. Fica que a gente fecha o meio” — explicou Felipe.

Zé Roberto em dia de repórter

Mesmo com o cabelo trançado e pintado nas cores do clube, se Carlos Alberto sumir pelo alto, a solução será a bola rasteira, cruzada pelos laterais Fágner ou Carlinhos, que começaram entre os titulares. O time: Fernando Prass, Fágner, Dedé, Fernando e Carlinhos; Rafael Carioca e Nílton; Felipe, Zé Roberto e Éder Luís; Carlos Alberto.

— O Carlos Alberto pode não ser muito alto, mas me dá uma referência pelo chão — declarou Fágner.

O esquema de campeão, no entanto, não significa que a porteira para uma goleada será aberta. A Espanha venceu a Copa com placares de 1 a 0 desde a vitória sobre Portugal, nas oitavas de final. Derrotou Paraguai, Alemanha e Holanda pela diferença mínima e chegou ao título máximo do futebol com mais posse de bola que qualquer outra seleção, porque a bola passava de pé em pé.

— Não adianta querer jogar sozinho, porque a individualidade dá armas ao adversário. Os bons têm que jogar e ajudar na marcação. Grandes nomes são respeitados, mas só se fizermos nossa parte — disse Felipe.

A parte que cabe a Felipe é a principal.

É dele a função de fazer a bola chegar no ataque. Apesar do discurso coletivo, o jogador ficou conhecido por seus dribles e jogadas individuais.

— Eu vou jogar mais recuado e o Zé Roberto estará mais à frente. Será importante todos se dedicarem para funcionar bem — declarou Felipe, que fará a sua primeira partida em São Januário desde a sua volta: — Foram vários momentos inesquecíveis, sempre com a presença da torcida, como na comemoração do título da Libertadores, em 1998, quando o gramado foi invadido. A torcida tem que comparecer, porque o ambiente é muito bom.

Fúria em São Januário é apenas uma menção à Espanha. Mesmo próximo da zona de rebaixamento, o Vasco vive dias de esperança. Ontem, enquanto Felipe dava entrevista com a camisa 19 do time de polo da Itália, Zé Roberto e Nunes entraram na sala de imprensa. Felipe ironizou, perguntando se eles queriam fazer perguntas.

Zé Roberto pegou o microfone: — Onde você comprou a camisa? Felipe respondeu: — O 10 é do Zé Roberto, o 9, do Nunes.

É em homenagem a vocês.

Felipe foi chamado de Zambrotta, lateral-direito campeão do mundo com a Itália em 2006. Falta agora alguém chamálo de Iniesta, autor do gol do título espanhol, porque os (ralos) cabelos são iguais. Quem sabe domingo?

(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal O Globo)

Fonte: Jornal O Globo