Parreira era preparador físico do Vasco quando foi para a Seleção em 70
De agasalho amarelo e calça verde, Carlos Alberto Parreira surgiu sorridente no saguão do Hotel Southern Sun Grayston. As cores poderiam ser da seleção brasileira, mas, agora, ele faz parte do sonho de outro país. Como técnico da África do Sul, este carioca de 67 anos tem a missão de não mudar a história. O primeiro objetivo é evitar que a 83ª no ranking da Fifa se torne a primeira anfitriã na história das Copas a ser desclassificada na primeira fase. Em meio às lembranças de 43 anos de carreira, falou dos acertos de 1994, dos erros de 2006, da despedida e do trabalho para fazer com que os sul-africanos se orgulhem de sua seleção.
O GLOBO: Como têm sido esses dias pré-Copa para o técnico da seleção anfitriã?
CARLOS ALBERTO PARREIRA: Fico contando: \"Faltam 14 dias\". Quando a expectativa é muito grande, você preenche bem o tempo. Não faltam 14 dias para você sair de férias. Faltam 14 dias para você participar de um evento importante na sua vida. A minha oitava Copa do Mundo.
Qual a diferença entre a sua primeira Copa, em 1970, como preparador físico, e a de 2010?
PARREIRA: A primeira foi um sonho. Eu nem acreditava. Tinha 27 anos e era formado (em Educação Física) há apenas dois. São as tais coincidências da vida e as visões estratégicas.
Como assim?
PARREIRA: Outro dia, li uma entrevista do Benítez (Rafa Benítez, técnico do Liverpool, da Inglaterra), em que ele dizia que ganhar jogos depende de um time organizado, rápido, com bons finalizadores, e de sorte. Tive sorte. Além de ter trabalhado e me preparado para as oportunidades, as coincidências foram muito grandes. O Chirol (Admildo Chirol), meu professor na Escola de Educação Física do Exército, foi ser preparador físico do Botafogo e fui vê-lo dar um treino. Depois, o Itamaraty e a escola me indicaram para ser técnico da seleção de Gana. De lá, segui para estudar na Alemanha, na região de Hannover, onde há a segunda maior escola de futebol do país (são 16). Dei sorte que a seleção alemã jogaria com a Inglaterra e com o Brasil. Fiquei conversando com o treinador Helmut (Schön), e ele me \"adotou\". Quando foram enfrentar o Brasil, fui convidado. Então, o Chirol me viu e perguntou: \"Carlinhos, o que você está fazendo aqui?\" Estou fazendo um estágio de três meses. Ele disse: \"Que bacana! Quando você voltar, vamos conversar. Essa experiência vai ser útil para a gente aqui no Brasil.\" Quando voltei, assumi o Vasco como preparador, e o Chirol me levou para a seleção. A primeira Copa foi um deslumbramento, trabalhar com Pelé, Tostão, Rivelino, Carlos Alberto, Zagallo. Eu era mais novo do que os jogadores. E veio o título mundial. O primeiro título de campeão do mundo é que nem o primeiro beijo: a gente nunca esquece.
A preparação física foi decisiva para aquela conquista?
PARREIRA: Foi um salto, com três meses de preparação, todo o trabalho individualizado, testes e os recursos mais modernos da ocasião. O Coutinho trouxe da Bélgica o teste de Cooper. A seleção contava com três preparadores: Chirol, Coutinho e eu. Quando fui para o Fluminense, ganhava quase tanto quanto os técnicos. Hoje, existe uma desproporção grande.
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