Futebol

Para Zico, briga em Joinville deixou mancha no futebol brasileiro

Zico está longe, mas acompanha de perto o que acontece no futebol do Brasil. No Catar desde agosto, quando assumiu o comando do Al Gharafa, ele não deixa de assistir aos jogos dos times brasileiros. À distância, o Galinho comemorou a conquista da Copa do Brasil pelo Flamengo, mas viu o ano terminar com um saldo negativo para o país que sediará a Copa do Mundo no ano que vem. Para o ex-camisa 10, a briga entre torcedores de Atlético-PR e Vasco na última rodada do Brasileirão deixa uma mancha na imagem do esporte nacional.

- Quem vê o futebol como espetáculo e quer que as pessoas possam ir ao estádio para se divertir fica entristecido. Toda aquela confusão e violência são lamentáveis. Tudo isso é deprimente. Essa imagens correm o mundo. Estive em um fórum sobre esporte para a juventude aqui em Doha e foi a primeira coisa que perguntaram. Se haveria segurança na Copa do Mundo. Tem que haver punição criminal para essas pessoas - pediu o ídolo flamenguista.

Mesmo envergonhado com o comportamento dos torcedores, Zico confia que não haverá problemas semelhantes durante o Mundial de 2014.

- Para os que estão preocupados com a segurança na Copa, procuro mostrar que o brasileiro adora futebol. Demonstrou isso na Copa das Confederações, com estádios cheios em todos os jogos. A torcida se divertiu e é o que vai acontecer na Copa do Mundo. Mas não se pode ver esse tipo de violência ainda hoje - alertou o Galinho.

A situação do futebol carioca é outra preocupação do ídolo rubro-negro. Com Flamengo e Botafogo na Libertadores, o Rio de Janeiro viu o Brasileirão terminar com Vasco e Fluminense na zona de rebaixamento. A punição à Portuguesa no STJD pode ter salvado o Tricolor da Série B, mas o desempenho ruim deve servir de alerta para os clubes.

- As gozações fazem parte do futebol, mas o Rio de Janeiro perde muito. São duas grandes equipes, de grande tradição no futebol. Se você não se planejar, não entender o que é o Campeonato Brasileiro, você vai correr o risco do rebaixamento porque o equilíbrio está muito grande no futebol. O Fluminense sentiu muito a falta do Fred, que era a referência do time, além de outros jogadores que saíram. O Vasco foi a mesma coisa. Se tivesse mantido o time que venceu a Copa do Brasil, certamente não estaria nessa situação. Tem que melhorar a estrutura econômica para manter os jogadores - sugeriu o técnico.

Assista à entrevista completa  abaixo:

GLOBOESPORTE.COM: Como está a vida no Catar?

Zico: Está tranquila. Já conhecia o Catar porque mandávamos os jogos com a seleção do Iraque aqui. Quando a Sandra (esposa de Zico) está aqui, saímos bastante para jantar. Não tem muitas opções, a não ser os shoppings, que são muito bonitos por aqui.

Catar é muito diferente do Iraque?

Entre os lugares que morei e conheci no Oriente Médio, o Catar está bem aberto, bem tranquilo para andar na rua. O trânsito é um pouco complicado, mas a segurança é total. No Iraque, não dava para morar, principalmente em Bagdá, onde tudo acontece.

Como está o trabalho no Al Gharafa?

Tivemos problemas na preparação. Chegamos com tudo já pronto, não sendo o que gostaríamos, e com muitos jogadores contundidos. Sem os estrangeiros no início do campeonato, perdemos muitos pontos e isso está fazendo a diferença agora. Joguei duas ou três vezes, no máximo com o time completo. O Miku foi jogar com a Venezuela, voltou e foi operar o joelho. O Bresciano foi suspenso pela Fifa, o Nenê machucou. O jogador estrangeiro aqui faz uma diferença grande. Estamos em sétimo e vamos tentar a recuperação no segundo turno.

Você acompanhou a conquista da Copa do Brasil pelo Flamengo?

Foi uma pena não poder ter visto o jogo final. Fiquei esperando aqui, disseram que ia passar ao vivo, mas não passou. Passou só o vídeo às 5h da manhã. Aí eu não aguentei. Mas tinha confiança de que, no Maracanã, o Flamengo dificilmente perderia. Quando esse grupo chegou, dei meu aval. Foi uma mudança grande e nunca esconderam as dificuldades que teriam. Tiveram erros e acertos, mas trabalharam de forma séria e tiveram bom desempenho. Parabéns à direção, à comissão técnica, aos jogadores e principalmente à torcida, que confiou, acreditou. Foi um título com autoridade. Dos quatro times que estão na Libertadores, o Flamengo eliminou três da Copa do Brasil. Foi próprio do Flamengo, aquela coisa: deixou chegar... é volta olímpica. A equipe foi muito bem comandada pelo Jayme e pelo Cantareli. Fico feliz porque eles são da nossa turma.

Você vê o Jayme de Almeida no comando do time na Libertadores?

Eu acredito que ele vá continuar. Está sendo uma rotina com ex-jogadores dentro do Flamengo Como foi com o Carlinhos, o Carpegiani, o Andrade e agora com o Jayme. Tomara que ele se firme e consiga realmente manter esse time com essa cara de Flamengo.

E a Seleção Brasileira? Está pronta para a Copa do Mundo?

O Brasil, pelo que fez na Copa das Confederações, pelo novo espírito que conseguiu, é um dos favoritos. Mantendo essa postura que os jogadores tiveram, não tenho dúvida que é um dos candidatos. Mas, como já mostrou sua cara, tem que ficar atento para não ter surpresa. Deu sorte de cair em um grupo bom. Croácia não está bem, se classificou aos trancos e barrancos. O México, por mais que seja uma carne de pescoço para nós, está muito mal. Precisou da ajuda dos Estados Unidos e ainda teve que pegar uma galinha morta para se classificar. E Camarões não é mais aquele Camarões dos anos 1990. Brasil pode, muito bem, fazer uma boa primeira fase e ganhar confiança para os jogos mais difíceis que vai ter.

Neymar é o camisa 10 de que o Brasil precisa?

Neymar está tranquilo. É isso que se espera dele, mesmo. Cada vez que começam a cobrar muito, ele vai lá e mostra dentro do campo. É um jogador fenomenal e não tenho dúvida que vai ajudar o Brasil como ajudou na Copa das Confederações, como ajudou o Santos e está ajudando o Barcelona. Vamos torcer para não ter nenhum problema de contusão porque ele pode fazer a diferença na Copa do Mundo.

Quais são os principais adversários para o Brasil no Mundial?

Espanha, Argentina, se o Messi estiver na condição que está hoje na própria seleção. A Bélgica me parece ser uma seleção muito boa, que o torcedor brasileiro pode gostar da forma como ela vem jogando. Alemanha e o Uruguai. É uma seleção que pode incomodar muito porque tem um trio atacante que não é fácil. É dos melhores do mundo. Jogando na América do Sul, mais tranquilo, acho que vai ser uma da forças da Copa. Acho que Uruguai tem uma vaga. Inglaterra e Itália que vão disputar a outra.

Consegue imaginar uma final de Copa do Mundo entre Brasil e Argentina no Maracanã?

Não gostaria, não. Gostaria da final contra um adversário que não tivesse o Messi.

Fonte: ge