Futebol

Para Valdir Bigode, simplicidade é a alma do negócio

Valdir Bigode é simples fora de campo como era dentro dele, um artilheiro de gols minimalistas. Nas fotos, dificilmente sorri, mesmo quando está entre amigos em Campo Grande, tomando “aqueles seis copinhos de Skol”, comendo um churrasco ou jogando uma pelada. No mundo de aparências do futebol, leva a maior parte da vida na Zona Oeste, quase como um gesto de resistência.

Nesta quinta-feira, ele terá provavelmente seu último jogo como técnico do Vasco contra o Atlético Mineiro, às 20h, pelo Brasileiro. Depois disso, é quase certo que cederá o lugar para Alberto Valentim. Sua hora como efetivo ainda não chegou, mas ele não muda o tom por causa disso.

Para Valdir, simplicidade é a alma do negócio. Tanto, que corrige quando fica subentendido que Campo Grande é seu lugar de origem. Valdir Bigode faz questão de frisar que cresceu em Senador Camará e passou rapidamente por Santíssimo antes de subir na vida e se mudar para o bairro onde mora até hoje. Alterna os períodos lá com a Barra da Tijuca, onde, garante, fica pela proximidade com o trabalho. Quando está de folga, prefere o sítio com campo de futebol e piscina que tem no bairro.

- É normal, quando você vai conquistando as coisas na vida, trocar de carro, de casa, mas as pessoas também têm um passado, e eu preferi ficar com o meu. Tenho amigos novos, mas sempre tento levá-los para o meu ciclo mais antigo - explica Bigode, que está à frente do time pela quarta vez.

Não é à toa que é referência para toda região. Em 2016, foi escolhido para carregar a tocha olímpica quando ela passou por Campo Grande. Foi ovacionado por vascaínos, provocado pelos torcedores rivais, mas sempre como uma unanimidade enquanto representante local. No começo deste ano, atendeu ao chamado de amigos e foi conversar com crianças de uma escolinha de futebol na Comunidade do Fumacê, em Realengo. Sempre na sua querida Zona Oeste.

Valdir Bigode com crianças de escolinha de futebol em Realengo Foto: Arquivo pessoal

Equipe com desfalques

O apego às pequenas coisas faz parte do folclore que cerca Valdir. Quando jogador do Vasco - foi artilheiro do time no começo dos anos 1990 —, chamava a atenção ao chegar a São Januário com um Fusca quando seus companheiros apareciam com carros do ano. A infância muito pobre e a necessidade de ajudar a família — ele praticamente criou um sobrinho - nunca deixaram que esbanjasse. Então, não espere dele camisa social no gramado. O interino não abre mão do uniforme da comissão técnica. Fora de campo, usa camiseta regata com os dizeres “Futebol, Cerveja, Churrasco, Samba, Rapaziada”.

De certa forma, isso pode atrapalhá-lo no sonho de ser técnico de futebol. Valdir Bigode, com sua simplicidade, parece remar na contramão dos técnicos acadêmicos, de linguajar técnico e rebuscado, atualmente em alta no futebol brasileiro.

Com investimento do Vasco, ele estuda para se qualificar, tirar o diploma de treinador da CBF, mas nem sempre basta saber: é preciso que as pessoas te vejam dessa forma. Mas Valdir é convicto de seu jeito de ser.

- Não me preocupo com nada, sou tranquilo. Gosto de pescar, o pessoal fala para irmos num barco grande, falo para irmos de barquinho, ficarmos à beira do rio. Não sou beberrão, mas gosto de tomar minha cerveja, ver um jogo na televisão.

Para a partida desta quinta-feira, ele terá alguns desfalques de peso. Além de Leandro Castán e Ramon, Giovanni Augusto também sentiu lesão e não enfrentará o Atlético Mineiro. Luiz Gustavo deve ir para a zaga, Lenon atuar na lateral direita, Henrique na esquerda, e Andrey pode retornar à equipe titular.

O time precisa vencer para se afastar da zona de rebaixamento. Se conseguir, será um bom legado para Alberto Valentim, muito próximo de um acerto com o Vasco para assumir o time a partir de sexta. Valdir voltará a ser auxiliar, enquanto que o ex-técnico do Botafogo chegará com a missão de levar o time a um fim de ano tranquilo no Campeonato Brasileiro.

Fonte: Extra