Para chegar ao mil, Romário saboreia suco de laranja com berinjela
Duas laranjas espremidas e um quarto de berinjela. O suco, tomado em jejum, desceu arranhando a garganta, logo de manhã. Romário, que acordara às 10h, chegou a fechar os olhos para engolir a bebida de péssimo sabor. E teve de tomar um cafezinho logo em seguida, para melhorar o paladar.
Era um dia quase normal na vida de Romário. Afinal, há dois anos ele toma o tal suco, seguindo a recomendação de seu médico, sob a justificativa de que a combinação da laranja com a berinjela reduz o colesterol. Saiu de casa às 11h, com uma promessa à mulher, Isabella: Vou arrebentar.
No Maracanã de 43.103 pagantes, Romário manteve sua rotina, tão simples como laranja com berinjela: fez um gol, o de número 999, e esteve bem próximo do milésimo. Com a força da família, que se sentou nas cadeiras especiais, até falta o Baixinho cobrou, aos 35 minutos. Mas a bola voou mais do que devia. Muito mais.
Arrancou risinhos de deboche de um ou outro espírito de porco que torcia contra, quando, aos 23 minutos do segundo tempo, tentou, desajeitado, um voleio esquisito: em vez de acertar a bola, estabacou-se no chão.
O jeito foi levantar, sacudir a poeira do calção e dar a volta por cima, aos 33 minutos, num chute de primeira. Era o já citado gol 999. Hora de erguer os braços, bater no peito e ser aclamado pela torcida do Vasco: Urubu, otário, vem pro Maraca só pra ver gol do Romário.
Até a tribuna de imprensa, a área do Maracanã que mais se aproxima da imparcialidade, foi unânime: não houve quem não erguesse os braços ou pelo menos gritasse gooool.
Faltou o milésimo, roubado pelo goleiro Bruno, que desviou com o pé direito o chute que saiu de perna esquerda, sem muito tempo para o domínio da bola e o raciocínio, aos 43 minutos.
A rotina pelo menos estava mantida: o jogo acabou e os repórteres quase trocaram tapas para ouvir algumas frases de Romário.
Na quarta-feira, se é que ele vai mesmo enfrentar o Americano, o Baixinho espera reviver sua doce rotina: suco de laranja com berinjela, cafezinho e gol. Ou melhor: se o sonho se realizar, será um dia diferente, histórico, para nunca mais ninguém esquecer.
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