Torcida

Para blogueiro, torcida deu banana ao Consórcio Maracanã

O segundo tempo de Fluminense 1 x 3 Vasco estava em andamento quando um e-mail chegou às caixas postais dos jornalistas:

“Nota Complexo Maracanã Entretenimento S.A – A concessionária Complexo Entretenimento Maracanã S.A esclarece que a presença reduzida de publico nas áreas centrais do jogo deste domingo (21.07), entre Fluminense e Vasco, é devido a redução da carga de ingressos total para 80% do estádio, que teve 18 mil ingressos a menos. Como se tratava do primeiro clássico regional, depois da abertura do Maracanã, a carga foi reduzida para garantir mais segurança para o publico. O balanço total de venda e público presente serão divulgados ao término da partida pela Federação de Futebol do Rio de Janeiro”. O comunicado foi enviado por Danielle Franca, Coordenadora Núcleo Geral da Monte Castelo Ideias. A agência de comunicação tem entre os clientes apresentados em seu site a Confederação Brasileira de MMA, a SuperVia, que opera o serviço de trens urbanos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro; a construtora Odebrecht e o Consórcio Maracanã Rio 2014.

Inacreditável tal nota ser disparada DURANTE o jogo quando já repercutia o evidente mal negócio para o consórcio ao ficar com os ingressos (bem) mais caros, deixando os atrás dos gols com o Fluminense. Importante: quem comprou os bilhetes nesses setores pagou R$ 60 a inteira e R$ 30 a meia entrada. Os comercializados pelos novos “donos” do estádio custavam: setor Premium Oeste, R$ 300; Premium Clube Oeste, R$ 250; Premium Leste, R$ 300; Premium Clube Leste, R$ 250. Ou seja, quem comprou ingresso nas área do consórcio pagou pelo menos R$ 125 (estudantes, por exemplo), o dobro do valor da inteira nos setores cuja arrecadação foi para os cofres tricolores. Resultado: 34.634 pagantes (46.860 presentes, lembrando sempre que lei estadual dá acesso gratuito a crianças até 12 anos e adultos a partir de 65) e renda de R$ 1.554.510,00. Preço médio do ingresso vendido: R$ 44,88, justamente o valor intermediário entre os R$ 30 da meia e os R$ 60 da inteira mais caras.

É evidente que na maioria dos jogos, com as tradicionais médias de público do futebol brasileiro, o Fluminense vai levar a melhor. Isso não significa que abrir mão da arrecadação nos setores ditos “nobres”, mais caros, em todos os jogos e por 35 anos (!) seja uma boa escolha. A meu ver, mais ambicioso seria o clube estabelecer metas de público cada vez maiores, para encher ao máximo o “New Maracanan” e faturar. Até porque é evidente que depois da paulada recebida pela torcida, que praticamente ignorou os ingressos por ele oferecidos, o consórcio deverá reavaliar sua política de preços que é obviamente pífia.

Não para o jogo de domingo, entre Flamengo e Botafogo, com tíquetes ainda mais salgados (R$ 50 a meia menos cara). mas em futuros compromissos tricolores. Pode ser melhor vender, por exemplo, 7 mil bilhetes de cadeiras centrais por R$ 80 e mais 14 mil de meia entrada a R$ 40, embolsando R$ 1,120 milhão do que, digamos, mil a R$ 300 e dois mil a R$ 150, arrecadando R$ 600 mil, 53% do que teria nas bilheterias com os preços mais baixos exemplificados acima. O que isso significa? O consórcio poderá, adiante, reduzir os valores na tentativa de atrair o torcedor que está atrás do gol para o setor central. E aí pesarão alguns aspectos, como o fato de o tricolor preferir direcionar seu dinheiro para o clube ou, independentemente disso, optar por um local mais confortável e com visão privilegiada do gramado. Vai depender do perfil de cada um.

O fato é que na primeira peleja de clubes no “New Maracanan” o grande derrotado foi o consórcio, que viu seus setores quase desertos. De minha parte, dou os parabéns a quem valorizou seu suado dinheiro e comprou os ingressos atrás das metas, ainda assim caros (R$ 60 são quase US$ 27). Você duvida? Um trabalhador que recebe o equivalente a dois salários mínimos no Brasil (R$ 1.356) fatura, bruto, ou seja, fora os descontos em folha, R$ 45,20 por dia. Muitos empresários gostam de pagar o piso nacional ou algo próximo disso, mas não têm a menor idéia do que é sobreviver com tal quantia. Assim, é fácil estabelecer valores absurdos para um programa como o futebol, que é POPULAR, queiram ou não. Mas a resposta das arquibancadas pode lhes ensinar isso. Hoje, o consórcio provavelmente deverá contabilizar seu primeiro prejuízo com o estádio que caiu em seu colo. E a partir daí, basta saber fazer contas.

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O jogo

Vasco, 132 vitória, 513 gols. Fluminense, 111 vitórias, 472 gols. Nos quatro últimos duelos, três triunfos vascaínos e um empate. Isso com o time de São Januário em crise, colocando em campo um elenco remendado na virada de 2012 para 2013. Sabem qual é o nome disso? Freguesia. Confirmada com base no fim de um sistema defensivo sólido que levou os tricolores ao título nacional de 2012 e não mais existe. Isso ficou claro logo na falha de Edinho, Digão e Gum, que não interceptaram o cruzamento de Wendel e permitiram a Juninho fazer 1 a 0.

Com a retaguarda rival tão vulnerável e um homem a mais desde os 25 minutos devido à ridícula expulsão de Fred, o time de Dorival Júnior aproveitou. Isso sem deixar de mostrar sua fragilidade, quase levando o empate em 2 a 2 quando havia feito 2 a 0 e tinha 11 contra 10. Depois da expulsão de Digão, o gol de Tenório foi apenas o golpe de misericórdia numa vitória importante de um Vasco ainda frágil e que não ilude o torcedor mais atento. Mas que dorme feliz e lamenta que o próximo duelo com o Fluminense só vá acontecer em 9 de outubro.

Fonte: Blog Mauro Cezar Pereira – ESPN.com.br