Os principais pontos da reestruturação que o Vasco deve passar após o acesso
Poucos têm a chance de um verdadeiro recomeço, depois de tantos erros acumulados, más escolhas, azares. Chega uma hora em que, por mais que se queira fazer diferente, o fardo passado é pesado demais. Neste domingo, essa possibilidade remota sorriu para o Vasco, com o retorno à Série A após uma vitória de 1 a 0, com doses de sofrimento, sobre o Ituano. O acesso, somado à injeção de capital prometida com a venda da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) para a 777 Partners, permite ao cruz-maltino e seu torcedor deixar o que passou para trás e olhar para frente. O trabalho no horizonte é gigantesco, para se construir uma equipe vencedora praticamente do zero.
A reformulação mais óbvia é a do grupo de jogadores. Do atual, que terminou a Série B em quarto lugar, 16 têm contrato para terminar. Dos titulares em campo contra o Ituano, oito precisariam assinar novos contratos para seguirem no cruz-maltino na primeira divisão em 2023.
A tendência, porém, é que quase todos esses jogadores tenham se despedido da cruz-de-malta em Itu. Os que possuem vínculos mais longos são basicamente os jogadores formados nas categorias de base e mais o chileno Palacios. Três goleiros do elenco — Thiago Rodrigues, Halls e Fintelman — possuem contrato para terminar por agora.
A promessa é de investimento em reforços na casa dos R$ 190 milhões ano que vem, entre o dinheiro para a compra de direitos econômicos e mais o aumento da folha salarial. A busca precisará ser por jogadores de primeira divisão. Os jovens talentosos que devem permanecer na Colina — especialmente Andrey, Marlon Gomes e Eguinaldo — não possuem um minuto sequer jogado na elite. Não devem ser lançados aos tubarões como titulares, logo de saída.
Esse trabalho de montagem de elenco deverá passar por duas mãos principais: a de Paulo Bracks, diretor da SAF, munido das informações que a matriz da 777 oferece; e também a do treinador que será contratado para comandar a equipe em 2023. Jorginho cumpriu a missão de levar o Vasco de volta para a Série A, mas não deve convencer a SAF de que merece continuar.
Paralelamente, o Vasco deve concentrar esforços em 2023 na melhoria de sua infraestrutura de trabalho. O centro de treinamento ainda está muito atrás dos melhores do país. Falta uma melhor estrutura de transição entre a base e o time profissional, acomodações, equipamentos. O gramado onde os jogadores treinam precisa ser melhor.
O problema do estádio
O Vasco, enquanto negócio, também precisa evoluir. Não deve depender apenas da injeção de capital proveniente de Miami para sustentar equipes competitivas daqui para frente.
Neste sentido, uma das carências maiores é o local de jogo. São Januário é pequeno para a torcida e a SAF precisa encontrar um local para mandar as partidas com capacidade maior do que os 22 mil atuais da Colina. Somente assim conseguirá dar um salto no arrecadado com sócios e bilheteria. Para se ter uma ideia do potencial inexplorado: um jogo com São Januário lotado gera R$ 216 mil de receita líquida; já no Maracanã, R$ 600 mil.
Uma alternativa é assumir a gestão do estádio palco de duas finais de Copa do Mundo. A 777 Partners se aliou à WTorre, responsável pela gestão do estádio do Palmeiras, e também à empresa americana Legends, de olho na nova licitação. Mas o caminho promete ser tortuoso, com a disputa com Flamengo e Fluminense do outro lado e todas nuances políticas que uma decisão dessas possui.
O trabalho mais longo de todos será o de reposicionamento de imagem. O Vasco terá daqui para frente que convencer os outros de que a realidade de time gangorra, de acessos e rebaixamentos, não existe mais.
Será preciso fazer isso para convencer jogadores de melhor qualidade a assinar com a SAF — apenas a boa oferta de dinheiro não é o suficiente para superar a concorrência de outros times também fortes financeiramente. Precisará convencer também o mercado de que virou a página, para assinar bons contratos de patrocínio, negociar com fornecedores de material esportivo. Há muito a ser feito, mas ao menos agora o torcedor pode sonhar.