Os desafios do novo técnico do Vasco
passagem do técnico Zé Ricardo pelo Vasco durou pouco mais de nove meses: 50 jogos, 22 vitórias, 13 empates e 15 derrotas. Resumir a saída do treinador aos 52,7% de aproveitamento em campo, porém, seria leviano. O pedido de demissão foi feito na noite deste sábado, depois da derrota por 2 a 1 para o Botafogo e de reunião de cerca de 50 minutos com a diretoria no vestiário de São Januário. E se a saída foi vista com certa surpresa internamente, para pessoas próximas ficou claro que vinha sendo desenhada há um tempo.
Zé Ricardo estava desgastado. O agora ex-técnico do Vasco esteve no clube em meio ao último (longo e desgastante) processo eleitoral, sobreviveu e teve que estimular o elenco que convivia com atrasos salariais e, em campo, não conseguia entregar os resultados que gostaria. Superou momentos mais conturbados do que a derrota para o Botafogo em si, mas o estresse já o consumia.
A saída e as palavras do diretor Paulo Pelaipe
Entenda, abaixo, as dificuldades pelas quais passou Zé Ricardo e o que o novo técnico do Vasco encontrará:
Desgaste
O processo eleitoral do Vasco, que teve o presidente Alexandre Campello como vencedor, foi desgastante. O clube, às vésperas da estreia na Libertadores, ainda não tinha um só mandatário – Eurico Miranda, Fernando Horta e Julio Brant dividiam o posto por determinação da Justiça. Os problemas financeiros e a confusão política quase deixaram o Cruz-Maltino sem passagem para o primeiro jogo da competição, no Chile, por falta de pagamento.
No início do ano, o Vasco, devendo três meses de salários ao elenco, correu o risco de perder jogadores na Justiça. Zé Ricardo foi decisivo na permanência de atletas que queriam deixar o clube. O técnico, de acordo com relatos, conversou com alguns de seus comandados para convencê-los a não sair. E conseguiu – ninguém deixou São Januário com processo.
O 'não' aos milhões
Em fevereiro, Zé Ricardo recusou proposta milionária do Al Ahli - apesar de a papelada com todos os valores e condições nunca ter chegado a São Januário. A proposta dos árabes era de contrato de três anos e cerca de R$ 500 mil por mês, além de bônus por metas atingidas e moradia. Na ocasião, o treinador estendeu seu contrato com o Vasco até dezembro de 2019.
Resultados
Zé Ricardo também se sentia desgastado pelos resultados e a constante montanha-russa em que vivia no Vasco. Desde o início da temporada, o Cruz-Maltino chegou à final do Carioca, mas teve dias ruins na Libertadores: duas goleadas (4 a 0 para Racing e Cruzeiro, na Argentina e em São Januário, respectivamente) e eliminação na fase de grupos. Na Copa do Brasil, estreou com derrota por 3 a 0 para o Bahia, no jogo de ida das oitavas de final.
Foi na Fonte Nova, inclusive, onde o técnico mostrou o maior abatimento nos quase 10 meses à frente do Vasco. Na entrevista coletiva, se mostrava muito chateado com o desempenho da equipe. Ele foi muito criticado naquela noite por escalar o zagueiro Werley como lateral e ver o Cruz-Maltino ser inoperante fora de casa, quase dando adeus à Copa do Brasil – ali talvez tenha sido o momento mais crítico à frente da equipe.
Polêmica no Chile: a decepção do comandante
A polêmica foto em que aparecem Rafael Galhardo, Paulão, Gabriel Félix, Erazo, Evander, Fabrício e Wellington, publicada antes da partida contra a Universidad de Chile, em Santiago, foi uma grande decepção para Zé Ricardo. O tom de deboche utilizado nas legendas foi amplamente condenado.
O treinador se sentiu traído, já que sempre foi a público defender o caráter do seu elenco, que conviveu com diversos problemas, como a crise econômica e política do clube, e sempre mostrou empenho dentro de campo. A vitória sobre os chilenos não foi suficiente para colocar panos quentes na situação.
Mesma língua?
Zé Ricardo deu como certa uma troca de jogadores com o Atlético-MG na última sexta-feira. Na negociação, Evander seria liberado para o Galo, que emprestaria Lucas Candido e Marquinhos. As conversas, de acordo com o diretor executivo Paulo Pelaipe, foram autorizadas pelo presidente Alexandre Campello. O treinador, quem indicou a dupla mineira, então, falou publicamente sobre o assunto.
No sábado, porém, depois de reavaliar, a diretoria cruz-maltina decidiu recuar no negócio por causa do histórico recente de problemas físicos de Lucas Candido. Campello, então, vetou a troca. Pelaipe, em entrevista coletiva, negou que o assunto tenha sido decisivo para a saída de Zé Ricardo. Faz parte, porém, de um processo maior de esgotamento do técnico, que já não se sentia à vontade no cargo.
Dificuldade financeira
O Cruz-Maltino passa por uma grande crise financeira desde o ano passado. Além dos salários atrasados do início da temporada, o clube não tem recursos para fazer investimentos no futebol. As contratações, sempre alertou o presidente Alexandre Campello, precisariam ser sem grandes custos.
Giovanni Augusto, por exemplo, foi contratado por empréstimo até o fim do ano. O mesmo aconteceu com Paulão, que voltou do Internacional nas mesmas condições. Thiago Galhardo rescindiu com o Coritiba para assinar com o Vasco.
Jogadores lesionados
Zé Ricardo conviveu com diversos desfalques nos últimos meses. Para o jogo contra o Paraná, na última quarta-feira, por exemplo, eram 11: Martín Silva (seleção uruguaia), Gabriel Félix (afastado), Rafael Galhardo (entorse no tornozelo), Paulão (afastado), Wellington (afastado), Bruno Silva (lesão na coxa), Evander (afastado), Thiago Galhardo (lesão na coxa), Kelvin (lesão na coxa), Wagner (suspenso) e Desábato (suspenso).
Dos 11, seis voltaram a ficar à disposição contra o Botafogo: Gabriel Félix, Wellington, Paulão, Evander, Wagner e Desábato. Os demais, porém, seguem fora de combate. Diante do elenco enxuto do Vasco, o novo técnico terá problemas para dar uma cara à equipe quando assumir.
Críticas
Diante de um elenco sem tantas opções, o substituto de Zé Ricardo terá, também, de decidir como lidar com Gabriel Félix, Paulão, Wellington e Evander. Os quatro, que tinham sido punidos por causa da publicação de uma foto ironizando vaias da torcida, são os maiores alvos de críticas. Diante do Botafogo, o lateral-esquerdo Fabrício, que também estava na imagem, mas não divulgou em suas redes sociais, foi vaiado desde o momento em que entrou em campo.
Wellington também foi muito xingado pelos torcedores antes do início do clássico e no intervalo, mas não entrou em campo.
Fonte: geMais lidas
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