Os bastidores da passagem de Alexandre Mattos pelo Vasco
Dona do futebol do Vasco, a 777 tomou a decisão de demitir Alexandre Mattos na quinta-feira, mas a ideia vinha sendo amadurecida nas últimas semanas. Desde que chegou à Colina, em dezembro, o diretor teve diversos atritos com seus chefes da 777. O ge explica o que causou o fim da curta passagem do dirigente por São Januário.
Impaciência com processo de contratações
A burocracia na contratação de reforços foi o primeiro problema na relação. Conhecido por ser agressivo no mercado, Alexandre Mattos se deparou com um processo mais lento no Vasco. A aprovação de um jogador precisa passar por crivos dentro da empresa antes de a negociação ser levada adiante.
De cara, Mattos apresentou uma série de sugestões de reforços à SAF, mas poucos tiveram o "ok" do grupo. O executivo demorou a se adaptar ao processo, novo para quem tinha muita autonomia em trabalhos anteriores.
No meio da janela, com a dificuldade de trazer os nomes pretendidos e a pressão da torcida por reforços, começaram a surgir notícias de que o diretor aguardava apenas o aval da 777 para contratar determinados atletas. Isso incomodou a empresa, que enxergou um método de pressão pública.
Internamente, pessoas da 777 avaliam que o dinheiro disponível para contratações poderia ter sido gasto de uma forma melhor. A SAF acredita que a falta de autonomia não foi problema. Mattos teve mais de R$ 100 milhões para investir em reforços e escolheu, com aval de outros setores, nomes como João Victor, Adson, David, Sforza e companhia.
Havia confiança no trabalho do diretor, por se tratar de um nome experiente e com uma carreira vitoriosa. Apesar disso, a janela teve pouca influência na demissão. A quebra de confiança, principalmente com o vazamento de informações e narrativas consideradas prejudiciais à empresa, culminou na decisão.
Coletiva causa mal-estar
No dia 6 de fevereiro, a impaciência de Mattos com a burocracia da 777 ganhou capítulo público. Durante coletiva de apresentação de Adson, Victor Luís, Galdames e Keiller, o diretor de futebol deixou claro o incômodo com a demora no processo interno de contratações.
- Tenho que entender que a palavra final não é minha. Eu direciono alguns caminhos que eu faria. Alguns são aceitos e outros não. (...) Em menos de 24 horas já dei duas ou três opções (para substituir Paulinho e Jair). Estou esperando aprovar. Se aprovar, virão - disse Mattos na ocasião.
As declarações caíram muito mal dentro da empresa. A partir dali, o diretor tentou aliviar o clima com postagens nas redes sociais nas quais externava tranquilidade em relação aos processos e dizia estar 100% adaptado ao dia a dia da SAF.
Caso André Silva
A negociação com o atacante, que preferiu fechar com o São Paulo, desencadeou o auge da crise. Na ocasião o ge trouxe as duas versões sobre o negócio: uma pela ótica de pessoas ligadas à SAF e outra com a visão do diretor de futebol.
Na primeira versão, o nome de André Silva foi sugerido pelo auxiliar técnico Emiliano Díaz no fim de janeiro. No início de fevereiro, Mattos foi atrás de dois jogadores com características parecidas - Breno Lopes e Pedro Henrique. Os dois nomes foram vetados pela 777. A proposta por André Silva, por sua vez, chegou à mesa da empresa norte-americana para aprovação do orçamento apenas na semana do dia 19 de fevereiro. No dia 22, a 777 deu aval para a contratação do jogador, no valor próximo aos 4 milhões de euros (R$ 21 milhões).
Outra versão diz que o primeiro contato buscou o empréstimo de André Silva, porque a princípio não havia orçamento. A negociação se estendeu por cerca de 10 dias, mas o Vitória de Guimarães não topou. O perfil do jogador foi de cara aceito pela 777, mas a necessidade de mudar o rumo da negociação para uma compra precisou passar pela liberação de dinheiro, o que levou mais tempo. Mesmo assim, a SAF topou investir. O negócio só não aconteceu porque o atleta preferiu a proposta do São Paulo.
Há quem diga que Mattos deixou o nome de André Silva de lado por preferir os outros dois jogadores que estavam na mesa naquele momento. Ao ge, o diretor negou preferência e afirmou que o nome de Pedro Henrique era o favorito dele e da comissão técnica, mas não o da 777.
Comissão técnica
O episódio causou rusga também com a comissão técnica, que chegou a cobrar uma resposta por André Silva. Na ocasião, o CEO Lúcio Barbosa foi quem explicou o andar da negociação a Emiliano Díaz. O auxiliar ficou insatisfeito com a postura de Alexandre Mattos, mas não chegou a procurar o diretor para abordar o assunto.
O ápice da insatisfação foi o vazamento na quarta-feira de prints de uma conversa de Mattos em que ele explicava o motivo de não ter contratado André Silva. A exposição de informações incomodou profundamente a SAF.
Apesar da rusga, Alexandre Mattos se reuniu com Ramón e Emiliano para planejar a intertemporada e falar sobre reforços. O diretor chegou a levar novos nomes para a 777. Após a demissão na quinta, recebeu ligação de agradecimento da comissão técnica.
Os argentinos da comissão técnica têm um ponto em comum com Mattos: o empresário André Cury tem boa relação com o dirigente e foi o responsável pelo acerto de Ramón e Emiliano com o Vasco. O agente também trabalha com David, contratado em janeiro, e Breno Lopes, que interessou ao clube. Lúcio Barbosa chegou a abordar o diretor de futebol sobre a relação com o empresário, o que incomodou Mattos.
Movimentação para deixar o Vasco
Dentro do Vasco - com informações que chegavam tanto à diretoria da SAF como do associativo -, havia insatisfação com a movimentação de Alexandre Mattos para deixar o clube pouco após ser contratado. Os dirigentes ouviram que Mattos procurou a CBF para ficar com a vaga hoje ocupada por Rodrigo Caetano, o que na ocasião desagradou ao atual diretor de seleções da CBF, que teve duas passagens pelo Vasco.
Também por esse comportamento, Lúcio Barbosa confidenciou nas últimas semanas que poderia desligar Mattos em pouco tempo. As mesmas informações chegavam com contatos no Corinthians antes da contratação de Fabinho Soldado. No mercado da bola, a informação rodava. Era sinal claro com a insatisfação com os processos da 777 semanas depois de sua chegada.
Relação com jogadores
Outro ponto da crise foi a relação do diretor com os jogadores. Pessoas do futebol do Vasco afirmam que houve problemas do dirigente com parte do elenco. Atletas chegaram a reclamar da ausência de Mattos no dia a dia de trabalho.
A relação azedou, principalmente, com Medel. O chileno é capitão do time e amigo de Ramón e Emiliano. O zagueiro chegou a discutir com Mattos e deixar a sala durante um encontro com o diretor. Outros jogadores o acompanharam.
Mattos no embate
O comportamento de Mattos nas últimas reuniões incomodou a SAF. O diretor foi para o embate e fez cobranças à 777, pedindo mais autonomia para trabalhar e buscar as contratações. "Fui contratado para quê?", teria questionado.
Em breve contato com a reportagem, o diretor alegou incompatibilidade de ideias e disse acreditar que essa postura de mais confronto determinou seu futuro longe do Vasco.
- Eu tenho um pensamento, a empresa tem outro. Simples assim - resumiu Mattos.
Alexandre Mattos foi comunicado da demissão horas antes de o Vasco convocar a coletiva de imprensa de Lúcio Barbosa, no início da tarde desta quinta-feira.
Fonte: ge