Opinião: Romário, uma nova edição do João sem medo?
A história do futebol brasileiro apresenta uma vasta relação de personagens marcantes, tanto dentro quanto fora das quatro linhas. Alguns deles deram motivo a diferentes interpretações de suas personalidades: o mesmo que é chamado de gênio por uns, é considerado maldito por outros.
No momento em que Romário chutou o balde e deixou o Vasco, afirmando tomar a atitude em razão da interferência do presidente Eurico Miranda no seu trabalho, uma comparação se torna inevitável. Tal qual o Baixinho, João Saldanha, o "João sem medo", jamais teve papas na língua e ousou enfrentar o poder pelo mesmo motivo. Só que o antagonista de Saldanha era bem mais forte: a ditadura militar.
Durante a preparação para a Copa de 1970, João armou uma equipe fenomenal a tal ponto que seus comandados passaram a ser chamados de feras. Na ocasião, o presidente do Brasil, o General Médici, um confesso admirador de futebol, resolveu expressar sua opinião: achava que Dario, do Atlético-MG, um jogador desengonçado mas muito competente para fazer gols, deveria integrar a lista de convocados. E João Saldanha, usando uma habilidade necessária para se conviver com o poder naqueles anos de chumbo (ainda mais porque nunca escondeu sua ideologia comunista), soltou a seguinte pérola:
"Tenho muitas coisas em comum com o presidente: somos gaúchos, gostamos de futebol e torcemos pelo Grêmio. Porém, ele escala o seu ministério, e o meu time sou eu que escalo."
A declaração caiu como uma bomba e, após alguns resultados runis em amistosos, Saldanha foi comunicado que a comissão técnica da Seleção estava sendo dissolvida, ao que respondeu:
"Não sou picolé para ser dissolvido."
Zagallo assumiu a função e Dario foi à Copa na vaga do craque cruzeirense Dirceu Lopes.
Assim como João, Romário não tolerou calado a interferência do poder em um assunto no qual não precisa de orientação: escolher um atacante para ser titular.
Assim como João, o Baixinho não era treinador (ambos assumiram o cargo por diferentes razões) mas outras coincidências os une: além de serem figuras marcantes do futebol brasileiro, nunca tiveram medo de expressar suas opiniões, mesmo que essas opiniões pudessem causar muita polêmica.
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