Opinião: "O Sorriso do Ricardo Gomes"
Nas minhas tantas décadas de convivência com o futebol, não me lembro de ter sido testemunha de uma corrente de solidariedade tão unânime, tão intensa e tão emocionante quanto a que se espalhou pelo Brasil inteiro, para que Ricardo Gomes se recupere rapidamente do AVC de que foi vítima, domingo passado. É, sem dúvida, a consagração do bom caráter.
Foi uma corrente que teve início, é claro, na família do técnico e atingiu todas as equipes do futebol brasileiro, a partir do elenco do Vasco, cujo comportamento não deixa dúvida de que Ricardo Gomes inspira amor, umsentimento que, cá entre nós, não é tão comum nas relações dos atletas com os técnicos. Se não fosse amor, como se explicaria o fato de Juninho Pernambucano só ter conseguido dormir à base de medicamentos na noite de domingo para segunda-feira? E o desespero de Felipe, presente ao Hospital Pasteur minutos depois da chegada de Ricardo? E o choro de Márcio Careca na entrevista coletiva? E o comportamento do time na partida contra o Ceará? Lembro-me dos meus primeiros anos como jornalista, quando um velho chefe, Carlos Eiras, advertiu-me que minha carreira iria depender menos da eficiência na profissão do que no caráter. \"Se você for conhecido pelo bom caráter, nunca enfrentará o desemprego\", disse-me ele.
Ricardo Gomes é assim. Jamais deixou de lado o interesse no desenvolvimento profissional e soube aproveitar as experiências nacionais e internacionais, que foram muitas e enriquecedoras. Além disso, onde trabalhou, deixou amigos e admiradores, sem que, para isso, precisasse fazer concessões ou cometesse injustiças. Aliás, ele é a prova de que ninguém precisa ser demagogo e abrir mão do cumprimento do dever para ganhar amigos. Como já acentuei aqui mesmo, ele sempre teve o respeito da imprensa, sem que, para isso, precisasse deixar de ser duro, quando julgava necessário.
O seu bom caráter já é bem conhecido desde o tempo de jogador. E não se diga que ficava em cima do muro nas questões polêmicas do futebol. Lembro-me de suas entrevistas, inclusive em programas de TV com a minha participação, em que assumia o papel de portavoz trabalhista dos colegas, fazia exigências e criticava os dirigentes que não levavam em conta os direitos dos atletas. Abria a boca com tal veemência que me arrisquei, numa previsão com um companheiro, que Ricardo acabaria fazendo carreira política. Ou seja: era craque na bola (craque mesmo. Foi um zagueiro sensacional) e, ao mesmo tempo, um militante na defesa das reivindica ções profissionais dos jogadores. Por tudo isso, aponto como a melhor notícia da semana a de que Ricardo Gomes sorriu quando soube da vitória do Vasco sobre o Ceará.
(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal Lance)
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