Opinião: Falta de sorte no futebol
O escritor-cronista-dramaturgo Nélson Rodrigues (1912-1980) costumava dizer que um sujeito sem sorte rigorosamente sem sorte corria o risco de ser atropelado por uma carrocinha de sorvetes ou pipocas quando tentasse atravessar uma rua. Pois foi isso o que aconteceu com Romário, pela primeira vez em seus 41 anos de idade, em sua experiência como técnico do Vasco da Gama na partida contra o América do México, em São Januário. No alagado e quase desmoronado Rio de Janeiro dos últimos dias, o clube cruzmaltino, sob a direção do ex-craque, venceu a partida por 1 a 0 mas não bastou. Como aconteceu com o São Paulo, diante do Millonários de Bogotá (perdeu de 2 a 0), o time carioca foi eliminado da Copa Sul-Americana, que, agora, não tem mais representantes brasileiros, todos devidamente liquidados.
Autoritário e autocrático, Eurico Miranda primeiro e único demitiu o técnico Celso Roth às vésperas da partida decisiva, o que foi um erro grosseiro dos muitos que o dirigente já cometeu. Mas Eurico, sempre sem perder a pose, passou o cargo de treinador a Romário, que só ia ao Vasco de vez em quando, no dia em que lhe desse na telha, fez o que pôde e o Vasco, curiosamente, teve um bom primeiro tempo, quando poderia ter marcado os 3 a 0 que o levariam à semifinal da competição. Mas marcou apenas um gol, pois a sorte sorriu para os mexicanos. No segundo tempo, o Vasco jogou mal, Romário chegou a se escalar mas o técnico-jogador não viu sequer a cor da bola molhada no campo encharcado e o placar não mais se mexeu.
A bem da verdade é preciso dizer que essa Copa Sul-Americana é um sacrifício para os clubes brasileiros embora pague uma graninha àqueles que vão se classificando atolados num Campeonato Brasileiro imenso, num país gigantesco e viagens longas e desgastantes. O resultado é que ficar fora dessa competição inventada pela Conmebol acaba sendo um prêmio para os eliminados, cujos jogadores ganham mais tempo de descanso e um cronograma mais sério de treinamentos. Foi o que aconteceu agora com os cariocas Flamengo, Fluminense e Botafogo, que só voltam a campo na rodada de final de semana e ficaram assistindo de camarote ao esforço do Vasco.
É verdade que os clubes europeus, com seus campeonatos e suas copas, também se sacrificam. Mas a Europa, comparada ao Brasil e à América do Sul, em matéria de extensão territorial, é menor, à exceção da Rússia e dos países que compunham a extinta União Soviética. Na Europa, os jogadores podem viajar de trem e até de ônibus especiais para cumprir um compromisso no exterior. Avião sem apagões aéreos só de vez em quando, mesmo assim em vôos curtos e com mínimas diferenças de fusos horários. Os brasileiros-europeus como Kaká, Ronaldinho e Robinho, para citar apenas estes três só irão sentir o esforço agora, nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010 na África do Sul. Em poucas e resumidas palavras, cair fora da Copa Sul-Americana pode significar perda de dólares mas é um alívio para os clubes brasileiros.