Opinião: "Vascaínos são o presunto do Mundial Sub-20%"
A que efetivamente se referem os termos Sub-20, Sub-17 e Sub-15? Será mesmo à faixa etária dos atletas ou ao percentual da comissão embolsada pelos bucaneiros do futebol? O propósito de revelar novos valores nunca foi levado tão ao pé da letra. Há muito que as competições internacionais organizadas pela Fifa se tornaram um grande bazar, onde os corsários e piratas da bola, auto-denominados empresários, enchem seus navios de pé-de-obra barato e ganham seus dobrões.
É impressionante a capacidade dos atravessadores do futebol em fabricar craques antes que eles efetivamente o sejam. Sejamos justos: não jogam sozinhos. Comércio de atletas é esporte coletivo. Em geral, sem generalizações, dirigentes, federações, confederações e até jornalistas vestem essa camisa.
No momento, assistimos a um exemplo clássico de como se fabrica e se coloca uma mercadoria na prateleira do futebol. Seus protagonistas – ou seriam, meros, incautos e deslumbrados coadjuvantes? – são Alex Teixeira, Alan Kardec e Souza, jogadores do Vasco que disputam o Mundial Sub-20 no Egito. Bastaram três ou quatros jogos na competição para que os jornais estampassem em suas páginas o interesse de clubes de diversas latitudes no trio de atletas vascaínos. Não se sabe se existe tanta gente assim querendo comprá-los, mas certamente há muitos querendo vendê-los.
O breve currículo da trinca vascaína ainda não justifica tamanho entusiasmo. Alex Teixeira, o mais badalado dos três, jogou apenas 89 partidas pelos profissionais do Vasco. Na maioria delas, foi criticado pela torcida e pela crônica por sua lentidão e sonolência. Desde que subiu dos juniores, entrou e saiu da equipe sem nunca criar raízes no time titular. De dois meses para cá, tem mostrando sinais de melhora e fez algumas partidas boas na Série B. Ainda é pouco.
Souza é o novato da turma. Está há menos de dois anos no elenco profissional. Jogou somente 32 partidas. Teve boas atuações na Segunda Divisão e já mostrou que é um jogador útil na marcação e com talento na saída de bola. Mas ainda é uma promessa.
O caso mais emblemático é o de Alan Kardec. Em quase cem jogos no time profissional, jamais caiu no gosto da torcida vascaína. Lento e sem habilidade, nunca se encaixou ao time e nem o time a ele. Há cerca de um mês, foi emprestado ao Internacional. Os torcedores vascaínos saudaram a transferência. Em seu último jogo antes da negociação, contra o Ceará, no Maracanã, foi vaiado por todo o estádio ao ser substituído. Àquela altura, quando já se anunciava sua ida para o Inter, torcedores no Maracanã ironizavam o jogador, dizendo que era o Grêmio que estava pagando o empréstimo para que ele afundasse o rival.
Três histórias diferentes unidas pela cobiça alheia neste Mundial Sub-20. De repente, três atletas que ainda não se firmaram em seu clube passam a ser tratados como mercadorias de primeira grandeza no câmbio da bola. Manchester United, Barcelona, Inter de Milão, Rubi Kazan ou Maccabi Haifa. Os empresários plantam o que querem, atiram para todos os lugares, com a escolta de dirigentes e, em alguns casos, da própria imprensa.
Não há ponderação ou bom senso, apenas ganância. No bazar do futebol, sempre sobra uma moedinha para todo mundo. Nos últimos três dias, Alex Teixeira, Alan Kardec e Souza brilharam no noticiário, pendurados na vitrine como se fossem um presunto de Parma ou um jamón pata negra. É o saldo do Mundial Sub-20%.
- SuperVasco