Futebol

Opinião: "O Mantra Cego do Gerente de Futebol"

O futebol sobrevive de lendas, mitos e da devida retroalimentação da mídia esportiva para manter algumas coisas nem sempre boas de se lembrar ou cultuar. Definitivamente valores morais como caráter ou dignidade, que sempre foram prerrogativas da prática do esporte, perdem espaço na grande mídia para os holofotes do show business, que preferem tratar jogadores obesos, amantes de farras, drogas, amigos armados e travestis como se fossem galazinhos burgueses de novelas das oito. Na lógica capitalista do brasileiro, quem sai da pobreza e vira dono de coleira de ouro e carros importados pode tudo. A mídia incensa, o povo aclama. Isto é Brasil!

O futebol recente está investindo na criação de um personagem que, aos poucos, está \"roubando a cena\". Trata-de do \"gerente de futebol\". Pode anotar aí: esta deve ser a primeira vez em que você lerá uma coluna com abordagem crítica a este tema.

De uns tempos pra cá, convencionou-se dizer que todo time \"precisa ter\" um gerente de futebol. Ninguém faz nada sem ele. É um profissional de marketing ultra-poderoso-indispensável que passou a existir de uns anos pra cá com toda a especulação financeira comum ao universo do futebol. Nesse mercado,o salário de um profissional de marketing é duzentas vezes maior que em qualquer outro. A torcida, de modo juvenil, passa a ser fã de homens de terno e gravata como se fossem os jogadores uniformizados do time. Tem até movimento de torcida, com apelos de \"Fica, Fulano!\", como se o gerente de marketing fosse centroavante do time. A incidência é tão infantil que blogueiros, tuiteiros e afins engrossam o caldo de opiniões apaixonadas, e assim fica estabelecido que torcedor que se preze TEM que saber o nome do gerente de marketing de seu clube!

Pão & Circo!!!

Esse cargo de gerente não é nenhuma novidade. Até meados dos anos 90, quando clube grande não caía, quem exercia essa função normalmente era o vice-presidente do clube, acompanhado por algum assessor direto. O clube raramente investia verba tão alta em gente de fora. Com a sequencial queda de clubes grandes para a segundona, passou-se a idolatrar a figura dos \"salvadores da pátria\" que - exercendo tal função - conseguiram o milagre da ressurreição.

O mais célebre deles, por ter resgatado dois grandes, Grêmio e Vasco, é Rodrigo Caetano.

Exageradamente idolatrado e incensado, sai do Vasco sob especulações de denúncias envolvendo a nebulosa gestão das divisões de base do clube que ele acabou näo fazendo. Já que näo saiu como vítima, o caminho foi fazê-lo algoz: estaria mancomunado com a cartolada tricolor, estaria desviando a rota de reforços vascainos para os leitos uniformizados da Unimed...

Enfim, o exagero mítico dessas lendas impede que se encare os fatos com a clareza e a dureza da realidade. Hipervolorizado no mercado e idolatrado nas arquibancadas juvenis, Rodrigo é de carne e osso, e mesmo inflacionado no mercado, não tem nada de \"olimpiano\". Fez proezas no Vasco, sanou finanças, mas também foi mentor do fiasco na temporada 2011 que nos humilhou na Taça Guanabara 2011. Trouxe-nos Juninho, Diego Souza e Felipe, bem como Titi, Pimpão, Victor Ramos e Márcio Careca. Paladino da ética nas vezes em que renovou sua permanência no clube, escorregou feio ao encobrir o aliciamento na surdina que acabou o levando a trocar o Vasco por um aceno de plano de saúde. Como se vê, humano, falho e imperfeito como qualquer outro que se vê por aí. A despeito da idolatria tola e ingênua de quem repetiu o mantra cego de uma falsa perfeição.

Agora o Vasco, que sempre fala de \"não fazer loucuras\" e \"ter pé no chão\" se prepara para reinventar um novo Caetano. Especulam um diretor do Vitória, como se o Vitória fosse o Barcelona brasileiro. Eu, hein...

Mais importante do que isso seria termos um Mazinho ou um Mauro Galvão, sem esses salários astronômicos mas com propriedade no assunto Vasco, alinhando divisões de base e profissional, suprindo a necessidade de treinar fundamentos nas posições dos atletas mirins e, de quebra, sugerindo contratações sem contornos regionalistas ou de empresários amigos. É

hora de guardar os lenços das viúvas, esquecer o passado e, mais que tudo, aprender a não exagerar na idolatria barata ao ponto de ficar cego para a realidade. Pode ser, Vascão?

Por: Hélio Ricardo

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Fonte: SRZD - Sidney Rezende