Opinião: 'O caso Guilherme Costa e a exigência por sucesso precoce'
Quando soou o apito final da goleada do Vasco por 4 a 1 sobre o Vitória, nesta quarta-feira, Guilherme Costa era dos jogadores mais festejados em campo. Autor de um gol e uma assistência, o meia ganhou espaço no time em 2017, aos 23 anos. E é mais uma prova de que não há uma regra para o momento em que o jogador deve estourar.
Guilherme, que começa a cumprir finalmente o que um dia prometeu na base. Não o fez antes por diversos motivos que passam por lesões, problemas na base do Vasco em 2013 e 2014, falta de ritmo de jogo e talvez, digamos, uma postura "educada demais" em alguns momentos. Chegou a treinar em separado do elenco no fim do ano passado e foi "descartado" por muitos torcedores que ouviam falar dele desde 2009, na seleção sub-15, e o chamavam de eterna promessa. Mas aprendeu a se impor, e categoria com a bola no pé nunca faltou. O caso dele está longe de ser isolado.
É parecido, por exemplo, com o de Éverton Ribeiro, que surgiu como lateral-esquerdo do Corinthians no profissional em 2007. Não se firmou e demorou cinco anos até fazer uma bela temporada no Coritiba e chamar a atenção do Cruzeiro, que o contratou. Falta a Guilherme, obviamente, estourar de vez como o agora rubro-negro fez, aos 24 anos.
A regra se aplica também a Lucas Lima, um dos principais jogadores do Santos há alguns anos. Aos 23 anos, ele foi liberado pelo Colorado por empréstimo ao Sport. E quase foi parar no Palmeiras numa troca por Luan, atacante canhoto que estava sem clima com a torcida.
É possível falar também de Paulinho, que só estourou aos 22 anos no Corinthians após um belo Paulistão pelo Bragantino e algumas passagens discretas por Polônia e Ucrânia. Ou de João Paulo, que agora, aos 26 anos, vive seu melhor momento na carreira com o Botafogo. Ou de Bruno Silva, 31, que foi visto por muitos anos como um jogador comum de Série A que se destaca.
A conta só aumenta. Podemos falar também sobre Moisés, do Palmeiras, que chegou aos 28 anos no clube e tomou conta do meio-campo. Ou de Michel, do Grêmio, que construiu a carreira inteira em clubes pequenos até brilhar no Atlético-GO campeão da Série B aos 26 anos. Borges, artilheiro de São Paulo e Santos por alguns anos, também entra nessa estatística.
Todos esses casos mostram uma coisa simples de entender: aquele papo de que "o jogador que é bom é bom com 18, 20 ou 40 anos", muito presente na cultura do futebol brasileiro, não encontra eco na realidade. O jogador, assim como qualquer outro profissional, melhora, piora, muda de comportamento com o tempo. E quando a frase acima vem seguida do argumento de que "Pelé foi campeão do mundo aos 17"...
É desnecessário discorrer sobre a covardia da comparação acima, até porque Pelé, o original, só existe um. Mas é fundamental, numa cultura que impõe a esses jovens estar pronto o mais cedo possível para explodirem e gerarem retorno (esportivo e financeiro) para seus clubes, dizer que há vida dentro do futebol, mesmo se o jogador não der certo até os 21, 22 anos. E que ser craque aos 18 não garante absolutamente nada, como mostra o exemplo de Carlos Alberto, coincidentemente presente no noticiário da semana saindo de mais um clube na carreira, o Atlético-PR.
Não há, portanto, regras fixas, receitas de bolo e nem bolas de cristal. É impossível prever o futuro de Guilherme Costa, mas dá para dizer perfeitamente que é provável que mais jogadores tenham uma história parecida. Até porque não se encontra um Neymar em qualquer esquina.