Futebol

Opinião: Homenagem a Dener, o rei do drible

Dener, que no último dia 2 de abril completaria 49 anos, foi o personagem de uma matéria no Esporte Espetacular, neste domingo, 26/04, na Rede Globo.

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Eu vi o Dener jogar. Mais do que isso, estava no Canindé nos dois jogos em que o Reizinho do Canindé viveu uma tarde e uma noite dignas de Rei Pelé. Contra a Inter de Limeira, em 1991, e diante do Santos, em 1993, ambos no estádio da Lusa.

Dener brilhou na mesma época em que Edílson, o Capetinha, também brindava os trocedores com grandes atuações no Palmeiras, então impulsionado pelo dinheiro da multinacional Parmalat. No jornal onde eu trabalhava, o Diário Popular, houve quem escrevesse que o Edílson era o Dener com juízo.

Não concordava inteiramente com a Ironia, pois Edílson também não primava pela correção e disciplina em seus atos. Mas, sim, a comparação não era tão descabida assim. Dener gostava de viver perigosamente. Nascido e criado na Vila Ede, bairro da Zona Norte de São Paulo, não sabia escolher bem as suas companhias.

Conta o goleiro o ex-goleiro Leão, que foi seu treinador na Portuguesa, que um dia, irritado com as entradas de um colega de time em um treino, Dener disse a leão, enquanto mostrava uma tesoura que trazia escondida dentro da meia, “vou dar uma tesourada neste branco, se ele não parar de me dar pancada”.

Leão disse também que por várias vezes viu o carro de Dener com perfurações de balar. “Ele emprestava o carro para os seus amigos e no dia seguinte ia treinar no carro cravado de balas”.

Uma pena que Dener não tenha conseguido dar uma rumo certo para a sua vida. Futebol ele tinha. De sobra. Suas arrancadas a partir do meio-de-campo lembravam Pelé no início de carreira.

Contra a Inter de Limeira, numa noite de quarta-feira, Dener deixou os torcedores que estavam no Canindé extasiados. Saiu driblando do meio-de-campo, deixou uma fila de adversários no meio do caminho e, depois de se livrar de uma voadora do último oponente, finalizou para o gol. Inesquecível.

Contra o Santos, a sucessão de dribles se repetiu. O último a ser humilhado foi o lateral-esquerdo Silva que, após ser ultrapassado, em desespero, ainda tentou se aproximar. Levou uma cotovelada no peito. Se o lance fosse comum, fatalmente a falta seria marcada. Mas como foi uma jogada genial, daquelas que poucas vezes vemos nos nossos gramados, o árbitro fingiu que não. O gol (golaço) foi confirmado. Não poderia ser diferente. O futebol naquela tarde de domingo seria desrespeitado, ofendido, caso o homem do apito anulasse a obra de arte.

Um de seus adversários no confronto com o Santos naquele domingo era o lateral-direito Índio, um dos melhores amigos de Dener. Índio e Edinho, o filho do Rei Pelé, eram presenças frequentes na Vila Ede. Eram parceiros de Dener.

A diretoria da Portuguesa recusou propostas para vender Dener para clubes do futebol paulista. Corinthians e Santos mostraram interesse pelo craque várias vezes. A Lusa preferiu fazer negócio com o Grêmio. Não queria que o “Reizinho do Canindé” reforçasse um dos rivais de São Paulo. Esteve muito próximo do Corinthians, mas acabou emprestado ao Vasco. No dia 19 de abril, aos 23 anos, morreu em um acidente de carro, no Rio de Janeiro.

No Vasco, encantou o meia Diego Armando Maradona, em um amistoso contra o News Old Boys, defendido na época pelo astro argentino. Dener entortou seus rivais argentinos, para a admiração de Maradona.

Apesar de andar em más companhias, Dener teve uma única passagem pela polícia. Foi em 1987, quando foi detido com outras cinco pessoas e levado para a 9ª Delegacia de Polícia do Carandiru, bairro da Zona Note de São Paulo.

A detenção ocorreu no dia 17 de outubro de 1987. Mas o garoto logo foi liberado pelo delgado, que o considerou “de boa índole”. Outro fato que pesou bastante para a liberação do garoto Dener é que era primário.

“Dener era brincalhão, sorridente, mas tinha um ar meio triste, acho que era porque não ter conhecido muito o pai”, afirma Tico, que jogou com Dener desde os juniores da Lusa.

O traço psicológico, o fato de não ter conhecido o pai, pode ter influenciado na maneira de se comportar de Dener.

Dener poderia ter brilhado na Seleção Brasileira. Tinha futebol de sobra para isto. Mas o que ficou, embora tenha desfilado pelos nossos gramados por pouco tempo, foi a sua arte.

Manchetes dos jornais da época chegaram a chamar Dener de “Vagabundo genial”. Chamá-lo de vagabundo foi, sem dúvidas, um exagero do mancheteiro de plantão. Pois que Dener, como confirmam suas familiares, era dedicado e tinha como seu maior sonho comprar uma casa para a sua mãe.

Não deu tempo. Dener foi embora muito cedo. Mas deixou para a história do futebol brasileiro o talento de um menino driblador. Um artista da bola.

Fonte: Terceiro Tempo