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Opinião: Hélio Ricardo Rainho escreve sobre o momento do Gigante

Tudo Passa, o Vasco Fica!
Helio Ricardo Rainho

Nós escolhemos assim: amar! Amar sob qualquer circunstância; amar sob o signo da resignação diante de tão delicado momento de nosso clube. E, como tudo que nos é digno de estima, o Vasco não sairá de nossos corações e de nossas mentes, com toda controvérsia que seu momento nos designe.

Seria inimaginável, inconcebível ao mais cético dos vascaínos, anos atrás, ver o clube moralmente tão devastado quanto agora! Após sucessivas gestões desgraçosas e dilapidadoras de seu patrimônio histórico, a "fama" que "assim se fez" - cantada em seu hino - desfez-se nas três quedas, nas perdas de receita, na falência de ídolos, no sucateamento dos meninos da Colina.

Triste por este domingo, voltei atrás no tempo. Pude ver, como torcedor vascaíno, um finzinho da carreira gloriosa do então ídolo Dinamite! Vi a geração de Geovani e Romário se expandindo com Bismarck e William; vi o Vasco de Bebeto, Mazinho e Sorato campeão no Morumbi; vi a leva fantástica do tricampeonato com Denner, Valdir, Germano, Yan, Gian, Tinho e Cassio; vi o escrete do Centenário com Edmundo, Mauro Galvão, Juninho, Felipe, Evair ganhando tudo; vi o título carioca com Marcelinho iluminado e Léo Lima dando passe de letra.

E depois...o que nos restou?!

A paixão. Somente a paixão.

Usurparam um "sentimento que não para", tiraram de nós a esperança. Quando o Gigante se tornava cada vez mais gigante, a sanha agoureira interrompeu sua ascensão. Dividido, o clube acenou com a esperança de ver seu maior ídolo reestruturar o que estava corroído. Já em fase ruim, ameaçamos renascer numa Copa do Brasil, fizemos um ano bom. Mas a sequência de rebaixamentos foi revelando a fase cruel da decadência moral nas tribunas: pouco a pouco, vascaínos ilustres que queriam ajudar o clube foram substituídos por currais políticos, cargos familiares, testas-de-ferro, amadores e jactantes. Acirrou-se a divisão interna. "Um reino dividido não subsiste" - ensina a Palavra de Deus. Instaurou-se o caos: ficamos entre o despotismo  esclarecido e uma democracia frouxa.

Tivemos uma eleição com gente comprada e coação a níveis da beligerância. Saiu a covardia inoperante, voltou a bazófia retrógrada. Foi boa a alegria do Carioca, mas "o respeito não voltou" porque o respeito começa de dentro pra fora!

Olhe, vascaíno, para o time que montamos neste segundo turno. A boa campanha, apesar do infortúnio final. Não é um time dos sonhos, é verdade. Estaria em 8ª posição, caso considerássemos só o returno. Na ânsia de nos livrarmos da queda, achamos até que uma 8ª posição seria "honrosa". Mas o Vasco nunca quis ser "oitavo". O Vasco sempre foi de primeira linha, primeira grandeza. Ainda assim - vá lá! - na força da camisa, na raça, na fibra, o grupo mostrou que um mínimo de liderança e esforço podiam ter sido feitos a tempo e no prazo certo.

E por que não fizeram antes? Por que não investiram? Por que não trocaram a arrogância pelo planejamento?

O cálculo é burro. Pouparam em investimento o que, agora, perderão dez ou vinte vezes em queda de faturamento. O rebaixamento é uma perda de receita lastimável - de cara, estima-se uma descida de R$28 milhões!

Não sei como será. Não sei que movimento e que esboço de reação terão agora.

E o que é pior diante de tudo isso: cadê a terceira força?! Cadê a oposição séria, o nome de repúdio a tudo isso e de consenso a todos nós?!

Resta-nos respirar o fim de 2015 e aguardar.

Qual a nova palavra de ordem? "Invadir" o programa de sócio do clube seria uma saída. Diminuiria a força do curral eleitoral. Estamos abalados e desanimados.

A única coisa que consigo lembrar, neste momento, é da última estrofe de um poema que escrevi em minha adolescência sobre o Gigante da Colina. O poema, que me concedeu até moção honrosa na Câmara dos Vereadores, encerrava assim:

"Vasco,
És paixão que não se explica
Tudo passa, o Vasco fica
Vivo em nosso coração"

Nossa única e maior certeza neste momento é essa!

E só.

Hélio Ricardo Rainho, autor da biografia de Mauro Galvão, foi o primeiro colunista convidado do site SuperVasco, há 15 anos, e hoje é blogueiro do Vasco no site SRZD.COM, do jornalista Sidney Rezende.

Fonte: SUPERVASCO.COM