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Opinião: Enfrentando a crise

Imagine o representante do clube e o dos jogadores numa mesa conversando a partir de uma premissa inescapável em tempos de inferno de pandemia. Todos vão perder, eis o ponto de partida. Estamos nesta reunião para encontrar um jeito de equilibrar as perdas de forma que as duas partes sintam que estão se sacrificando na mesma proporção em nome da preservação do futuro para um e para outro. Se os dois representantes firmarem este primeiro compromisso, o da lealdade, a possibilidade de um acordo, ainda que duro, aumenta. Se uma das partes não confiar na outra, aí adeus.

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Imagine o Fluminense ou o Vasco, por exemplo. Seus dirigentes propondo aos jogadores cortes no salário. O empregado teria o direito de pensar: como quer cortar meu salário se não conseguiu nem pagar os salários que me deve? O empregador pode pensar: não consegui não porque não quis, porque não tive dinheiro! Se não topar a redução, aí mesmo é que não terei! Aqui, já há uma fratura prévia de expectativa e de confiança que pode dificultar qualquer acordo e, caso seja feito, deixar sequelas de ressentimento para depois.

Imagine o Flamengo ou o Palmeiras. Clubes endinheirados que cumprem o que assinam com seus jogadores. O Palmeiras é o penúltimo campeão brasileiro, tinha ganho antes Copa do Brasil, está sempre na disputa de semifinal ou final de campeonato. Direção e jogadores, neste caso, partem de outra base de negociação. Ambas as partes sabem que é preciso sacrificar agora para que logo adiante as coisas voltem à normalidade possível.

O Flamengo, então, olhe o crédito que esta diretoria tem com o elenco. Houve uma turbulência quanto a premiações do título da Libertadores, ela foi sanada com equilíbrio. De resto, nenhuma das partes tem do que se queixar em relação à outra. Logo, prever um acordo razoável aqui é natural. Aliás, que grande notícia esta que a Justiça mantém, ainda por liminar, a obrigação do Flamengo de pagar 10 mil reais por mês às famílias dos meninos mortos no Ninho do Urubu e aos sobreviventes também. A maneira equivocada com que a direção do clube continua lidando com o episódio é a única nuvem de tempestade no céu azul do Flamengo.

Então, leitores e leitoras, Grêmio e Internacional estão tentando se preparar para o enfrentamento da baixa da receita nos próximos meses. Em algum momento, talvez na virada do semestre, o futebol vai voltar, mas será ainda sem torcida, o que compromete a fonte dos sócios, nem todos conseguirão manter em dia as mensalidades precisando enfrentar os números das suas finanças pessoais. Não é possível se desfazer dos jogadores, elencos devem estar completos. Racionalizar os gastos a ponto de poupar na caneta e no cafezinho vai virar mantra, se já não virou. É inevitável. Depois, bem, que surja logo este depois para que todos nós consigamos viver a nova normalidade como sobreviventes.

Fonte: Blog do Maurício Saraiva - ge