Torcida

Opinião: "Clube de Regatas Organizações Globo"

Por que o flamengo se tornou tão popular? É uma pergunta que todos que acompanham futebol e que seguem seus clubes nos estádios – e não percebem dentro deles essa superioridade da torcida do flamengo – devem viver se fazendo.

Hoje, quando perguntamos a alguém que não acompanha futebol, não conhece jogadores, nunca foi a um estádio na vida, nunca consumiu nenhum produto de futebol, se bobear não sabe nem quem é aquele homem de preto que fica no gramado, “pra que time você torce?” a resposta será imediata: pro flamengo!
Para entendermos esse fenômeno é preciso voltar quatro décadas no tempo. Boa viagem!

O começo

Anos 1960. O Brasil vivia época de ditadura. Nesse cenário conturbado uma organização começava a dar o “ar da graça”. A TV Globo nasceu e se sustentou da ditadura. Nessa época o campeonato carioca de futebol era o evento desportivo mais importante do país e o futebol já era a paixão nacional há muito tempo. A divisão das torcidas do Rio de Janeiro era parelha e, pasmem, até mesmo o America tinha grande torcida. Segundo pesquisa da década anterior, feita em 1954 por Ibope/Jornal dos Sports, a divisão era assim:

1º Flamengo 28 %
2º Fluminense 18 %
3º Vasco 17 %
4º America 6 %
5º Botafogo 5 %
6º Bangu 2 %
7º São Cristóvão 1 %
Nenhum 22 %
Não opinaram 1 %

Reparem o alto índice de “nenhum”. Pois, essa categoria poderia ser explorada futuramente. Então, veio a década de 1960 e com ela a ditadura e o surgimento/crescimento da TV dos Marinho. Deem pão e circo e o povo ficará feliz, já diziam na antiga Roma. E assim foi feito, só que com uma cereja no (nesse caso) pão, pois o flamengo era o time de coração de Roberto Marinho.
Numa pesquisa realizada em 1971 por Placar/Instituto Gallup, portanto alguns anos após a criação da Rede Globo de Televisão e do começo da disseminação do mito flamengo, o resultado foi esse:

1º Flamengo 35 %
2º Vasco 18 %
3º Fluminense 16 %
4º Botafogo 14 %
5º America 3 %
6º São Cristóvão 1 %
Nenhum 12 %

Notem que houve três grandes mudanças: o Botafogo conquistou muitos torcedores, pois contava na década de 1960 com Garrinha e cia, o flamengo cresceu bastante, apesar do time não ter ganho títulos especiais ou ter contado com grandes equipes e a categoria “nenhum” perdeu muita gente. O nicho começava a ser preenchido.

O apogeu do mito

Chegaram as décadas de 1970 e 1980 e com elas o clímax da mídia no super poderoso flamengo. A essa altura muitos jornalistas e jornais, TVs e rádios já haviam se comprometido também em fortalecer o mito. Foi um festival de cores preto e vermelho nos veículos de comunicação. Na década de 1970 o flamengo ganhou uns estaduais e, pasmem, chegaram a criar dois estaduais no mesmo ano para que ele pudesse vencer os dois e se tornar tri-campeão! Só mesmo nesse país...
Enfim, para alegria da mídia, chegou a década de 1980, que até hoje é lembrada pelos pseudo-jornalistas como a década rubro-negra. Chega a ser hilário para os seres pensantes o fato de não se lembrarem da década de 1960 como a década alvinegra, as décadas de 1940 e 1950 como as décadas cruzmaltinas e a década de 1910 como a década tricolor, afinal esses clubes ganharam muitos títulos e tiveram timaços nessas épocas.
Enfim, na década de 1980, auge do mito, o flamengo ganhou brasileiros, Libertadores e Mundial (mundial jogado apenas por europeu e sul-americano, mas mundial para os acéfalos, que não sabem nem o que é continente, quanto mais o que é mundo). Sempre contou com o 12º jogador. Não, não leitor, eu não caí no conto da mídia para chamar a torcida do flamengo de 12º jogador. Esse clube contava na verdade sempre com os árbitros a seu favor. Os wrigths e coelhos da vida. O Atlético-MG que o diga... Na Libertadores de 1981, disputada, aliás, com os maiores papões do torneio até então, argentinos e uruguaios jogando com times reservas (fato não divulgado pela imprensa), José Roberto Wright expulsou tantos jogadores do Galo, no Atlético-MG x flamengo, em Goiânia, que o time mineiro acabou ficando sem poder continuar jogando. Título dado de bandeja para o flamengo. Hoje, o prêmio para o “grande” árbitro é o emprego de comentarista de arbitragem da Globo. Talvez por esse “pequeno detalhe” (comprometimento com o flamengo e as Organizações Globo) ele, comentando, não veja faltas cometidas por jogadores do flamengo, não veja flamerdistas impedidos, não veja pênaltis contra o time rubro negro... “coincidência”, caro leitor, apenas “coincidência”.
A TV Globo, cujo proprietário Roberto Marinho era torcedor do flamengo, precisava de audiência e conseguia. Os jornais precisavam ser vendidos e assim era feito. A massa que não sabia nem o que era futebol já era flamerdista e vibrava com os títulos. Roubados? Sim, mas que diferença isso fazia?
Em pesquisa realizada em 1983 por Placar/Instituto Gallup o cenário já era muito diferente do da década de 1960. E muito mais flamerdista.

1º Flamengo 54 %
2º Vasco 15 %
3º Fluminense 14 %
4º Botafogo 10 %
5º America 2 %
6º Americano 1 %
7º Bangu 1 %
Outros 2 %
Nenhum 1 %

Veio o Campeonato Brasileiro de 1987 e com ele a maior vergonha da história do futebol brasileiro. O regulamento rezava que os campeões dos módulos verde e amarelo se cruzariam nas finais do torneio. flamengo (campeão do verde) e Inter (vice do verde) se recusaram, então, a enfrentar campeão e vice do amarelo, respectivamente, Sport e Guarani. A CBF, órgão máximo do futebol brasileiro, e a FIFA, órgão máximo do futebol mundial, declararam o Sport campeão brasileiro de 1987. O clube pernambucano e o Guarani foram os representantes brasileiros na Taça Libertadores do ano seguinte. Mas e a imprensa? Até hoje divulga aos quatro ventos que o flamengo é o campeão, ignorando CBF, FIFA, justiça... No ano 2000 um regulamento também confuso afirmava que haveria cruzamentos entre times da primeira divisão com times de divisões inferiores. Tanto é que o Vasco enfrentou o São Caetano na final, mas só que não se recusou a jogar. Ganhou no campo. Provou que não tinha medo e também sabia que não teria costas quentes da imprensa, caso fugisse, como fez o rival.

Anos 1990

Como o Vasco da Gama conquistou muitos títulos nessa época (brasileiro de 1997 e 2000, Libertadores de 1998, Rio-SP de 1999, Mercosul de 2000, quatro estaduais, incluindo um tri), o Botafogo conquistou estaduais, Conmebol e Brasileiro e o Fluminense colocou água na chope do centenário rubro negro, em 1995 com o gol de barriga, aconteceu algo inimaginável: a criação de um jornal de 24ª categoria, nas cores preto e vermelho, denominado Extra. Por uma “pequena coincidência”, afinal só pode ter sido por isso, o jornaleco em questão pertence à família Marinho e tem como manda-chuva Renato Maurício Prado, um dos maiores baluartes da divulgação do mito flamengo. Mais uma vez tudo isso deve ter acontecido por pura “coincidência”: jornal preto e vermelho, pertencente à família Marinho, orquestrado por um flamerdista que odeia e persegue os outros clubes e voltado para as classes baixas. Só não dá pra entender como torcedores de outros clubes compram isso.

E o mito precisava ser alimentado

Com a chegada do novo milênio o São Paulo conquistou títulos, incluindo três brasileiros e, chegando a seis conquistas, passou o mais querido pela mídia. Mesmo que o mais querido pela mídia só tivesse quatro títulos (como Vasco, Palmeiras e Corinthians), pois em 1987, como já sabemos, o campeão foi o Sport. A imprensa ficou desesperada.
O Fluminense historicamente era o maior vencedor de campeonatos estaduais. Sendo assim, com o Fluminense maior campeão carioca e com o São Paulo passando a ser o maior vencedor do brasileiro, como a mídia poderia alimentar os acéfalos compradores de jornais de 24ª categoria e passar a ideia de que o flamengo era o maior em alguma coisa? Simples. “vamos fazer do nosso clube o maior campeão estadual”. Ordem expressa. Ano após ano, título após título, roubo após roubo, em finais e contra os madureiras da vida, o flamengo chegou lá. Como esquecer a falta inventada no final do jogo de 2001? Como esquecer gol do Botafogo anulado? Enfim, o flamengo passou o Fluminense e virou o maior campeão. Não importa se com arbitragens dos índios da vida, com faltas inventadas nos finais dos jogos, com gols legais dos adversários anulados “por engano” e coisas afins. É o maior e pronto. Basta isso pra alimentar os egos dos acéfalos, pra dar audiência e pra vender jornalecos. A coisa ficou tão aberta que a Globo chegou ao ponto de colocar um ex-jogador do flamengo para ser o comentarista da emissora, mesmo no Campeonato Carioca (!), que já pode ser chamado de campeonato da Globo/flamengo.
Em 2009 o flamengo conquistou o Campeonato Brasileiro. Campeonato com altos índices de falcatruas, como já era de se esperar. O Corinthians não pode jogar na sua cidade contra o flamengo, mesmo com mando de campo, sob alegação de que havia outro jogo no mesmo dia na capital paulista. Como se em 100 anos do ex-nobre esporte bretão nunca tenha havido dois jogos no mesmo dia em São Paulo. Deve ter sido novidade isso. O São Paulo, concorrente ao título, teve vários jogadores suspensos de forma absurda na reta final do campeonato. Houve denúncias e mais denúncias de malas pretas, brancas e de todas as cores ao longo do torneio. Ou seja, foi um campeonato recheado de roubalheiras e falcatruas que só poderia ter o desfecho que teve.
Em 2009 pesquisa realizada por Ibope/Globo mostrava os seguintes resultados:

1º Flamengo 58%
2º Vasco 17%
3º Fluminense 13%
4º Botafogo 12%

Porém, você, caro leitor, que já se acostumou a ver nos jornais sempre o nome flamengo na frente do rival (Vasco, Fluminense ou Botafogo) quando há alguma matéria sobre um clássico, que se irrita quando as TVs mostram durante muito mais tempo a torcida do flamengo do que as outras, que fica aborrecido quando qualquer programa esportivo de rádio chama o repórter que cobre o flamengo sempre na frente dos demais, jamais vai ver a grande mídia divulgando a seguinte pesquisa, realizada pelo Instituto Gallup. Essa pesquisa foi muito diferente das realizadas anteriormente nesse país, e que tinham o claro objetivo de fazer crescer a massa flamerdista. Essa nova pesquisa buscou o verdadeiro torcedor, aquele que acompanha seu clube, que consome produtos e que frequenta estádios. Foi descartada a massa bovina, alienada e alimentada pela Rede Globo de televisão e seus seguidores da mídia.
Foram entrevistadas 34 mil pessoas, em 1.913 cidades, incluindo todas as 27 capitais, no primeiro semestre de 2008. Eis o resultado:

1º Flamengo-9,91%
2º Corinthians - 8, 93%
3º São Paulo - 7%
4º Palmeiras - 6,9%
5º Vasco - 6,8%
6º Grêmio - 6,7%
7º Bahia - 5,3%
8º Cruzeiro - 5,29%
9º Atlético MG - 5,27%
10º Inter - 5,11%
11º Fluminense - 3%
12º Botafogo - 2,999%
13º Vitória - 2,8%
14º Sport - 2,7%
15º Goiás - 2,1%

O fato fundamental é que essa pesquisa jamais foi ou será divulgada por jornais, TVs ou rádios, afinal, o mito precisa sobreviver e, para que isso ocorra, ele precisa ser alimentado.

Agradecemos ao nosso colaborador Eliezer pelo envio da matéria.

Nota do SuperVasco: A matéria, embora contenha um excelente material de estudo de como se dá a manipulação da opinião, contém um equívoco: A pesquisa do Gallup, que foi publicada pelo jornalista Juca Kfouri, na realidade não existe. Pedimos, humildemente, desculpas pelo equívoco.

Fonte: Blog Revolta Vascaína