Futebol

Opinião: Cada Animal no seu gallho

CADA ANIMAL NO SEU GALHO

Ninguém é obrigado a fazer tudo bem. E olha que eu não estou falando sobre “jogar em todas”. Estou falando sobre fazer tudo dentro mesmo da sua profissão, da sua área. Por exemplo, tem roteiristas que são especialistas em estruturas e pecam na hora de escrever os diálogos. E vice-e-versa. Por isso quando monto as equipes dos meus programas, penso sempre nesse quebra-cabeça. Tem músico que não sabe ler partitura. Tem guitarrista tem não sabe solar. Assim caminha a humanidade. Cada um na sua, cada macaco no seu galho.

Essa introdução era para falar sobre o Edmundo. O jogador. Sim, mulheres, o post é sobre futebol, aviso logo para evitar que você perca seu tempo, caso não se interesse pelo violento esporte bretão.

Edmundo tem muitas características de um grande jogador. Acho-o um pouco menos do que se pensa, o que não significa que não o admire e, mais ainda, que não o ache acima da média. Acho sim. Um jogador de destaque, principalmente quando a gente (agora falo pelos vascaínos) olha para o lado e vê um Alan Kardec, por exemplo. Edmundo é acima da média, sim. Um guerreiro. Inteligente. Durante muito tempo (não mais hoje em dia, graças aos seus 37 anos) um atacante de explosão rara, muito forte, veloz. E artilheiro.

Um dos maiores méritos de Edmundo sempre foi sua personalidade. Quem joga bola (mesmo as peladas semanais) sabe que a personalidade conta sim. O cara não ter medo de errar faz com que ele tente uma, duas, três vezes, até acertar na quarta. E é essa quarta que vai consagrá-lo. Um jogador sem personalidade erra a primeira e pára de tentar. Aí não acerta nunca.

Edmundo deu um título ao Vasco. O do Brasileiro de 1997. Acho até que foi o único título que ganhou pelo clube (salvo uma ou outra taça de turno). Acho, não tenho certeza. Não concordo com quem diz que ele carregou o time nas costas, que ganhou aquele título sozinho, pois o time tinha Felipe, Pedrinho, Juninho Pernambucano, Mauro Galvão, Evair, Ramón, Válber, Luisinho, era um timaço. Mas não há como negar que Edmundo foi, vá lá, metade. Fez 29 gols, bateu o recorde de gols num mesmo campeonato (recorde superado já no ano seguinte, mas isso não importa, àquela época o recorde era do Reinaldo há mais de uma década), isso num jogo contra o Flamengo o que, para os vascaínos, tem um sabor mais especial ainda. No mesmo campeonato ainda bateu o recorde de gols num mesmo jogo, quando fez os seis na goleada contra o União São João. E só não fez o sétimo porque naquele jogo (pouca gente lembra) ainda perdeu um pênalti.

Edmundo tem o respeito, a admiração e o carinho da torcida do Vasco. Sempre teve, mesmo quando jogava em São Januário por times adversários, contra o seu time de coração. Sim, muito desse carinho vem pelo fato dele ser declaradamente vascaíno, coisa rara de se ver num jogador de futebol nos dias de hoje. Mesmo quando jogava por Cruzeiro, Santos, Fluminense, Figueirense ou Palmeiras, o Animal nunca deixou de se afirmar torcedor do Vasco. Junta-se a isso a determinação e a garra que sempre colocou na ponta das chuteiras quando jogou por lá. Como agora. Não há como negar. É um dos maiores ídolos (o maior ídolo recente, sem dúvida) da imensa torcida outrora bem feliz.

No entanto, todo mundo tem seus defeitos. Ou melhor, nem todo mundo tem todas as qualidades que uma profissão pode oferecer. Volto, então, ao primeiro parágrafo deste texto. Para afirmar, com todas as letras, Edmundo não sabe bater penalti.

Não saber bater pênalti não faz dele um jogador pior. Uma pessoa mais fraca. Longe disso. Seu nome já está escrito nas histórias de Vasco e Palmeiras. Mas pênalti definitivamente não é a dele. “O Zico também já perdeu”, podem dizer os idiotas da objetividade. Sim, ninguém aqui está dizendo que não se pode perder pênalti. Até porque só perde quem bate. Zico perdeu sim, aquele contra a França em 86 e talvez mais um ou dois por aí. Platini (o maior craque da França) perdeu no mesmo jogo. Roberto Dinamite perdeu uns dois na carreira inteira. O Brasil ganhou uma Copa quando o craque italiano Baggio perdeu o seu. Mas o problema é que o Edmundo perde jogo sim, jogo não. Por algumas vezes calhou desse “jogo sim” ser decisivo. Como na final do Mundial contra o Corinthians em 2000, na final da Taça Guanabara deste ano contra o Flamengo e ontem contra o Sport na semifinal da Copa do Brasil.

O mais assustador é que o técnico do Vasco Antonio Lopes sai de campo afirmando “Edmundo é o batedor oficial do time, não ter porque não continuar batendo”. Como não? Tem, sim, Antonio Lopes. Quer um argumento rápido do porque ele não pode mais continuar batendo? Porque ele não sabe! Simples assim. Como eu não sei tocar piano. Como o Beethoven não saberia batucar um sambinha. Como a Siri não sabe apresentar programa.

Ser o batedor de pênalti oficial de um time é um direito adquirido, não imposto. Pelé não era o batedor oficial do Santos porque tinha no elenco alguém (acho que o Carlos Alberto Torres) que batia melhor que ele. O Rei só bateu o do milésimo porque era o do milésimo. Por outro lado, Zico e Roberto eram os batedores dos seus times porque eram os que melhor batiam, não porque eram camisa 10, capitães e ídolos da torcida.

O respeito, o carinho e a gratidão da torcida não mudam por causa de uma ou duas ou três ou quantas derrotas pintarem no caminho. Mas o sentimento de que Edmundo não sabe bater pênalti também vai continuar intacto. É uma equação absoluta: 2 + 2 = Edmundo não sabe bater pênalti.

Nem dirigir. Mas aí já é outra história...

Bruno Mazzeo

Fonte: Blog de Bruno Mazzeo - Bloglog