Futebol

Opinião: "Apito Amigo: O Charme da Impunidade"

Já se vai uma semana das denúncias da máfia de arbitragem e corrupção nos campeonatos de futebol no Brasil. Como se futebol não envolvesse Direitos do Consumidor e gestão financeira ligada ao poder público, NADA foi feito. Como se futebol fosse apenas um delírio de consumo ou uma paixão subjetiva de imbecis torcedores, NADA foi feito.

E a imprensa?

Semana passada eu desafiei os cartéis de comunicação e os ratos falantes (as \"oligarquias\" e os \"pequenos oportunistas\" - a meu ver, via de regra. as duas categorias preponderantes) a investigarem isso. E fiquei a semana inteira esperando matérias extraordinárias... câmeras escondidas... grampos telefônicos... entrevistas com voz de pato... achei que nossa idolatrada e autoidolatrável imprensa faria um barulho, levantaria provas, ouviria mais gente, investigaria denúncias, traria documentos...

Nada!

Então as denúncias eram vazias? Ocas?

Então nossos árbitros \"são ótimos\", nosso nível de arbitragem \"é excelente\"?

Nas transmissões que os enchem de audiência, os falsos profetas criticam, xingam as arbitragens, como se estivessem contra eles. Pura média com o torcedor. Porque, nos bastidores, não mandam seus repórteres fuçarem e descobrirem um fio da meada que está esticado no meio da sala, esperando alguém puxar. Essa, em linhas gerais, é a imprensa esportiva que temos no Brasil: em vez de se incomodar com os erros e lamúrias de um tenebroso futebol, acoberta tudo, faz vista grossa, e ainda anuncia o próximo campeonato como \"o mais charmoso\". Tem que vender o \"produto\". E é \"produto\" mesmo...já sai pronto de fábrica! Quanto mais errado, mais charmoso. O charme aumenta com a amplitude do vício. Como é que pode! Fazem o torcedor bobo sair na rua, pegar sol, entrar na fila, pagar ingresso e encher ainda mais os bolsos dos gananciosos.

O torcedor brasileiro deveria fazer greve! Somos uma grande força política nesse processo, sabiam? É, poucos sabem! Se ninguém comprasse ingresso, se as filas da vergonha nas portas dos estádios se repetissem nas portas das entidades que devem zelar pela lisura do futebol, exigindo cabeças e providências, talvez eles se assustassem e corressem, como ratos que são. E aí a imprensa esportiva se tornaria \"solidária\", porque ela funciona evitando alguns fatos e, ao mesmo tempo, rendendo-se a eles quando não lhe resta outra opção. Tudo pela \"audiência\"!

\"Clássico regional. Público: zero!. Torcedores protestaram e não foram!\" - essa deveria ser a atitude. Mas aí vem o apelo emotivo, passional, clubístico... a manipulação em cima de uma coisa (sentimento) que não está no vocabulário da cartolada, mas que é uma arma na mão deles para manobra e opressão do povo.

Todo mundo ouviu as denúncias, todo mundo sabe como são as arbitragens dos campeonatos. Mesmo assim, os estádios continuarão lotados, os consumidores lesados, os cidadãos enganados.

Meu medo é que essa figura hoje pouco translúcida, pouco entendida, sujeita a uma entidade de debilitada imagem moral, do juiz de futebol ganhe vulto, a partir disso, e o quadro se reverta.

Em vez de justiça, corremos o risco de ter uma idolatria a essas figuras. Daqui a pouco, a exemplo da galhofa que já se faz com os \"executivos de futebol\", os clubes vão anunciar - felizes da vida - a contratação dos juízes que os ajudarão naquela temporada.

A imprensa irá ao delírio com o assunto:

\"O clube X acaba de contratar Fulano de Tal, que deu 20 pênaltis para o clube Y ser campeão ano passado\".

\"Fulano de Tal é o mais eficiente na fabricação de resultados! Grande contratação do Clube X!\" - dirão os comentaristas entendidos do assunto.

As torcidas irão ao estádio receber o soprador de apito como ídolo, como mito, com brados de vitória. Os \"blogueiros cronistas\" vão tuitar felizes sobre seus clubes... \"Agora vai...!\". As todas-poderosas assessorias de imprensa ficarão ainda mais envaidecidas de seus \"hiperinformados profissionais\": prepararão uma mesinha linda, cheia de logomarcas berrantes e invasivas derramando verba de patrocínio no clube, com muitos microfones para o Fulano de Tal falar como fará para prejudicar os outros clubes e ajudar aquele que o contratou, agora oficialmente e sem nenhum escrúpulo.

A cada ano, tornar-se-á mais caro contratar um juiz desse tipo, porque empresas de saúde, bancos e outros gigantes do capital de giro entrarão mais firme nesse mercado hiperinflacionando salários.

E todos ficarão felizes, muito felizes. Sorrindo como Dilma, que nem parece a presidenta de um país com uma multidão de pessoas afogadas nas chuvas. Um país que prende mendiga falsa pedindo esmola, mas não prende político corrupto nem milionários dilapidadores do dinheiro do povo!

Veja bem, esta coluna não é para aparecer em lugar nenhum. É para ficar aqui, escondidinha, num espaço onde possa causar reflexão. Você a achou? Bingo!!!

Nenhum dos \"gigantes da mídia\" pode arriscar seu tamanho e seu prestígio falando coisas desse tipo. Os gigantes estão falando de contratações... \"fulano é bom reforço\", \"sicrano é bom mas a perna direita tem menos velocidade que a esquerda\", \"eu acho que...\", \"eu quero que...\"... enfim, eles estão exibindo seus incríveis conhecimentos de futebol (anote tudo: os que eles elogiam na contratação, irão meter o malho quando começarem a jogar mal), impondo opiniões, verdades absolutas. Distribuindo ópio para dispersar as denúncias.

Como eu sou um gato velho e escaldado, a pular muros para fugir dos macunaímas patropis que tentam botar coleira e fazer tamborim com quem ama a liberdade, posso propor uma reflexão mais aberta sobre essa dura realidade que as chapas brancas do ofício ainda preservam.

Eu fiz a minha escolha: quero ser Guy Debord, não Cidadão Kane!!!

Que Deus ilumine as mentes e nos proteja dos males que vestem verde-e-amarelo...

Twitter @hrainho

Facebook Hélio Ricardo Rainho

Fonte: Coluna de Hélio Ricardo - SRZD