Opinião: "A vitória da transpiração"
Mauricio Neves
Seis jogos sem vencer criam o hábito do erro. O time não pensa mais na vitória como uma consequência do que foi planejado, as convicções carecem de firmeza, os movimentos perdem a direção. Há teses de psicologia do desporto explicando porque é mais fácil uma sucessão de vitórias rumo ao título do que para escapar do rebaixamento, e elas não passam pela qualidade técnica. Quem corre rumo à consagração olha em frente e vê a glória. Quem foge do abismo, espia no retrovisor e vê o medo.
O que o Vasco precisava diante do Santos era se livrar do lastro das últimas seis rodadas de resultados amargos, insucessos que foram se acumulando lentamente, como craca e limo. Não que a situação fosse desesperadora antes de bola rolar, mas poderia ser ao término dos noventa minutos.
Não era o caso do Santos, ainda almejando o topo, mas com a missão extra de provar que o afastamento de Dorival Júnior foi uma decisão acertada. Um time que não corre riscos maiores no campeonato, que já tem uma vaga na Libertadores e que se concede alguma margem de erro até que se recomponha do desmanche pós Copa do Brasil.
O Vasco começou a desatar seus nós pela direita. Zé Roberto, Fágner e Eder Luis partiram para cima de Alex Sandro, ficou claro que o caminho era aquele e o primeiro gol saiu por onde se desenhou. Eder ganhou de Alex Sandro e rolou para a pancada de Fágner, bomba indefensável, um gol para soltar o time. Felipe ampliou no rebote do pênalti que ele mesmo perdeu, e o Vasco foi para o vestiário com uma tranqüilidade quase esquecida.
Titi falhou logo no início do segundo tempo, Danilo recebeu de Arouca e diminuiu. Então voltou o medo, a sensação de que o final do filme seria o das últimas rodadas. De novo não, pensava o torcedor, enquanto o tempo passava lentamente, quase parando depois da expulsão de Jumar. Prass salvou aos pés de Neymar e depois em chute de Danilo, já se ia além do tempo e a névoa da agonia não se dissipava, até a arrancada definitiva de Eder Luis, para o gol do desafogo, do alivio, da esperança que daqui pra frente tudo seja diferente. Foi o que disse Zé Roberto: \"Espero que daqui para frente seja desta forma, com a mesma disposição e garra\".
Emblemático Zé. Ninguém jogou um futebol de encher os olhos em São Januário, mas é inegável que a vitória sorriu para quem se importou mais com o jogo. É a tônica do campeonato. Contra a falta de inspiração, muita transpiração. E se o Vasco ainda está distante das posições de glória, já vê o medo bem menor pelo retrovisor.
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