Futebol

Opinão: Pra tudo recomeçar na quarta-feira"

Vinícius Faustini (v_faustini)

\"\"A quarta-feira era de Cinzas, momento da volta pra casa também para o futebol do Rio de Janeiro. Depois de passar os dias com os pés sambando de acordo com os ritmos da folia de Momo, Botafogo, Fluminense e Vasco voltaram a pôr seus pés nos gramados e a sambar em busca do gol adversário, pois nenhum deles pode esgotar o tempo no Estadual – afinal, só o Flamengo se garantiu na final depois de vencer a Taça Guanabara.

A transição do carnaval para o futebol aconteceu num horário extremamente ingrato. Por mais que a quarta-feira trouxesse um feriado, às 16h da Quarta-feira de Cinzas muitos olhos do Rio de Janeiro ficam atentos à apuração do desfile das escolas de samba. E enquanto a Beija-Flor de Nilópolis ia levando 10, nota 10 em vários quesitos, o Botafogo ia deixando cinzento seu futebol contra o Nova Iguaçu. Novamente, os alvinegros desfilaram sem qualquer preocupação com beleza ou qualidade com a bola no pé. A equipe achou um gol aos oito minutos – quando Everton aproveitou rebote do zagueiro Leonardo Luiz e emendou sem chances para Diogo Silva – e, de resto, resumiu seu jogo em uma palavra: espera. Espera para combater os prováveis ataques do time laranja. Espera por uma oportunidade de contra-ataque que culminasse em bola alçada na área para Loco Abreu. E, depois que o Nova Iguaçu dominou de vez a partida (e até chutou bola no travessão com Maycon), veio a amarga espera de quem conta os minutos para que o árbitro dê o apito final. Os três pontos vieram, mas a magreza do placar de 1 a 0 confirmou o quanto o Botafogo de Joel Santana está magro em sua qualidade ofensiva – e não podia se dar ao luxo de perder Renato Cajá para o futebol chinês, deixando Everton como única válvula de escape para a bola chegar a El Loco e a Herrera.

\"\"Mas a data não ficou associada apenas ao sabor de fim de festa. Dois ressurgimentos importantes para o futebol carioca surgiram na noite da Quarta-feira de Cinzas. No Engenhão, voltou a surgir o futebol de Darío Conca com a camisa do Fluminense. Pela primeira vez em 2011, o argentino superou a falta de ritmo de jogo causada por sua cirurgia e teve forças para ser decisivo. Primeiro, abrindo o placar ao completar bom passe de Rafael Moura. E, no segundo tempo, ao devolver em dobro a gentileza. No segundo gol, por intermédio de Araújo, que ao cabecear um cruzamento de Conca deixou He-Man livre para marcar. E, no terceiro, o camisa 11 serviu com um bom passe para Moura apenas desviar pro gol. É bem verdade que todo este bom desempenho de Darío Conca foi na vitória por 3 a 1 diante de um América que, após um bom início de jogo, viu sua chance de vitória frustrada após o pênalti perdido por Diguinho (tanto pela cobrança ruim quanto pela maneira absurda como o goleiro Ricardo Berna se adiantou, e com o aval do árbitro João Baptista de Arruda). Só que o renascimento de Darío Conca é fundamental na autoestima do torcedor – que ensaiou até o grito de “o campeão voltou” no estádio – e, principalmente, dá forças para que a equipe de Muricy Ramalho ainda encontre esperanças de prosseguir na Taça Libertadores da América. Já está mais do que na hora do Fluminense finalmente surgir na competição sul-americana.

O outro ressurgimento da noite carioca veio diretamente de São Januário, com um Vasco que inverteu a ordem natural do calendário carnavalesco. Depois de adentrar a sexta-feira do início de Carnaval com muitas cinzas de um futebol que parecia de ressaca enquanto via a banda do Macaé passar e vencer por 3 a 1, a Quarta-feira de Cinzas vascaína terminou cercada de folia diante do Duque de Caxias. Num primeiro tempo impecável, a equipe se mostrou afinadíssima ofensivamente, aliando a cadência bonita dos passes e da maestria de Felipe com a velocidade e a disposição de Bernardo. O camisa 6 ousou num chute de direita e recebeu a reverência após um golaço. O novato roubou a cena, ao cruzar no primeiro pau para Anderson Martins desviar de cabeça para a rede. No finzinho, Bernardo coroou sua atuação quando cobrou com categoria um pênalti que ele mesmo sofreu. Só que no segundo tempo os vascaínos desafinaram. Permitiram o gol do oportunista Somália após desviar de cabeça um cruzamento em cobrança de falta e deixaram Gilcimar tocar de calcanhar para Ari marcar. O samba atravessava (ainda mais depois que Anderson Martins foi expulso) e tudo parecia se acabar na quarta-feira. Até o zagueiro Dedé, incansável guerreiro e aplaudido pela torcida, colocar a fantasia de cobrador de faltas e, num chute colocado, fascinar a arquibancada de São Januário. A vitória por 4 a 2 foi para o Vasco o retrato do que simboliza a data do fim do carnaval: não há mais espaço para fantasiar uma equipe perfeita ou colocar máscara depois de um bom início de partida. E, em meio ao tanto riso e à tanta alegria que surge nas semifinais de cada turno do Campeonato Carioca, o Vasco não pode repetir a história da Taça Guanabara rotulado como um dos mil palhaços no salão.

Fonte: Blog de Lédio Carmona