Nova liga projeta versão 100% independente em 2025
Autor do prefácio de “A Liga”, tradução da obra em inglês sobre a Premier League, o advogado Flávio Zveiter sempre foi um apaixonado pela versão original das centenas de páginas que contavam como o campeonato se tornou o negócio mais rico e revolucionário do esporte mundial. É ele, inspirado pelo livro, uma das lideranças do grupo que tenta tirar do papel a ideia de replicar o modelo no Brasil.
Tão logo desembarcou nos Estados Unidos no segundo semestre de 2018 para iniciar um mestrado em negócios esportivos na Universidade de Nova York (NYU), Zveiter iniciou conversas com executivos do ramo para realizar o sonho alimentado pelo livro.
Conversas com clubes há mais de um ano
No final do ano seguinte, após reuniões e planos com executivos estrangeiros, começou a buscar representantes de clubes brasileiros para esboçar um rascunho do que poderia ser feito no país. As conversas, quase sempre sigilosas, envolviam poucas pessoas do Brasil.
A ideia era clara: não tornar o movimento público, temendo uma reação da CBF que viesse a minar qualquer plano.
Flamengo, Corinthians, Palmeiras e Bahia na linha de frente
Os primeiros a serem procurados foram Flamengo, Corinthians, Palmeiras e Bahia. Aos poucos, a resposta à ideia se mostrava positiva. O grupo, no entanto, era restrito. No plano inicial, os dirigentes queriam amadurecer o rascunho da liga brasileira em alguns anos e conversar com a confederação brasileira mais para frente. Com o passar do tempo, até mesmo o presidente afastado da entidade, Rogério Caboclo, foi chamado por Zveiter para começar a entender o que se passava. O plano era claro: não vender uma ideia de rompimento, mas sim de composição entre as partes a médio prazo.
Foi justamente a crise recente envolvendo Caboclo, no entanto, que acelerou o processo. O que se projetava para ocorrer em alguns anos acabou rolando em semanas. O grupo de poucos clubes cresceu. Além do Grêmio, que começou a participar das conversas um pouco antes, outros 16 clubes da série A eram chamados para conhecer o projeto.
Em 15 de junho, o grupo, que não contou com o Sport no dia por uma questão de troca de presidentes do time pernambucano, foi à CBF apresentar a ideia da liga. Cerca de duas semanas depois, na tarde da última segunda-feira (28), os clubes da série B se juntaram. Todos, então, ouviram uma apresentação mais detalhada dos executivos que se juntaram a Flávio Zveiter e de outros dois grupos.
Alguns pontos estavam claros. O que mais chamava a atenção mostrava dois dos principais grupos prometendo captação de até R$ 3 bilhões visando um aporte inicial na liga que se inicia.
Na dinâmica apresentada, os clubes participarão cedendo seus direitos comerciais para mídia e patrocínios da liga enquanto os investidores aportarão capital que será usado para equilibrar o caixa dos times.
A gestão feita por executivos independentes, respondendo a um conselho de clubes, se responsabilizaria pela administração dos campeonatos das Séries A e B em áreas como governança, comercial, marketing, técnica de competições, médica, transmissões, segurança, disciplinar e finanças.
“Não pensamos apenas em ter um liga independente. Questão é dar real protagonismo aos clubes em um produto global, não apenas nacional. Acreditamos em um campeonato forte no cenário internacional, algo ‘top 3’ das principais ligas do mundo”, explicou Flávio Zveiter em uma conversa de aproximadamente 15 minutos com a reportagem do ESPN.com.br.
Contratos de TV mantidos até 2024
Os mais otimistas deixaram o encontro da última segunda-feira projetando o início da liga já na próxima temporada, substituindo o Brasileirão previsto para 2022. O cronograma, no entanto, aponta para um campeonato totalmente independente nas mãos dos times somente em 2025.
Para o período entre 2022 e 2024, os clubes respeitarão o modelo já negociado pela CBF, com a nova liga dando suporte financeiros aos times e uma possível nova “modelagem” para atualizar o produto.
Um ponto importante destacado por todos os envolvidos é o compromisso de respeitar os contratos já assinados pelos times, especialmente os de direitos de transmissão na TV. O grupo aguardará o fim dos compromissos atuais com os grupos Globo e Warner Media (TNT) para buscar possíveis renovações e outros parceiros de mídia.
“Não é apenas dinheiro de TV que estamos falando neste primeiro momento. Há acordos em vigor. É potencializar diversas propriedades ainda não totalmente exploradas neste início”, explicou Zveiter.
Proposta formal em quatro meses
Com a expectativa de uma constituição formal da nova liga em 90 dias, os grupos acreditam em propostas sobre a mesa imediatamente na sequência. Com contrato assinado, os empresários projetam propostas formais de fundos bilionários do exterior ao final dos próximos quatro meses. “Não queremos apenas vender serviços, mas investir. E o quanto antes”, frisou Zveiter.
Endereço de Zveiter vira nome de empresa-embrião da liga
Estruturado, o advogado especialista na área esportiva e membro do comitê de ética da Fifa já constituiu uma empresa que poderia ser o embrião da nova liga. A Codajas Sports Kapital LTDA reúne executivos como Ricardo Fort, que liderou os departamentos globais de Visa e Coca-Cola em diversas negociações de grandes competições esportivas, e foi a responsável por apresentar a primeira proposta na reunião com os clubes na última segunda-feira.
Codajás, por sinal, não foi escolhido por acaso: é o nome da rua onde Flávio Zveiter possui um luxuoso imóvel no Alto Leblon, zona mais cara do Rio de Janeiro, e residiu antes de se mudar para os Estados Unidos.
KPMG e Dream Factory fizeram a segunda apresentação da tarde. Mesmo se apresentando como concorrente da Codajas, o grupo guarda semelhanças em suas premissas básicas para uma nova liga. Um de seus principais representantes, o advogado Pedro Trengrouse, também participou das conversas iniciais de Zveiter há dois anos.
A diferença entre ambos está nas questões técnicas de um novo Brasileirão e na participação de clubes no projeto. O grupo de Zveiter entende que a gestão da sonhada nova liga deva ser tocada apenas por executivos sem ligações com times e que cartolas só estariam presentes em um conselho superior, evitando conflitos de interesses em questões como distribuição de renda, calendário e até arbitragem.
KPMG, Trengrouse e Dream Factory acreditam que os próprios dirigentes de clubes devam assumir a gestão da liga. O grupo também não pretende mexer inicialmente em questões de calendário, rebaixamento e acesso.
A Livemode, especializada em negociação de direitos de transmissão, mostrou ideias para prestação de serviços em sua área. A consultoria Ernst & Young pretende passar aos clubes um modelo de gestão para a liga no próximo mês.
Fonte: ESPNMais lidas
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