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No século XXI, setor de estatísticas do Vasco não sabe o que é computador

Neste início de ano, a saga de Romário para chegar ao milésimo gol chama a atenção não só pela sua persistência e pelos \"amistosos\" marcados para facilitar a tarefa, mas também pelas várias alterações na sua contagem.

No momento, o Baixinho diz ter 958 gols na carreira, enquanto o Vasco afirma que o número é de 963. Tal polêmica despertou a atenção para um outro tipo de problema: a falta de zelo com que muitos clubes cuidam das suas estatísticas.

Não que o Vasco seja o único culpado pelas constantes mudanças dos gols de Romário, já que o atacante atuou também por PSV, Barcelona, Flamengo, Fluminense, Valencia, Sevilha e seleção brasileira. Mas demonstrou que o Gigante da Colina, assim como a maioria dos clubes cariocas, deveria reservar mais atenção para o seu departamento de memória.

\"Os clubes cuidam muito mal disso, muito mal. No geral deixam muito a desejar\", atestou Antonio Carlos Napoleão, historiador do futebol e atualmente responsável pelos arquivos da CBF.

Para se ter idéia, tanto em São Januário quanto na Gávea, os responsáveis pelas estatísticas de Vasco e Flamengo, respectivamente, não utilizam computador. Em pleno século XXI e com o uso do computador, da internet e de vários programas em voga, o trabalho é feito manualmente.

\"Eu tenho computador aqui no Flamengo, mas não tem o programa necessário para eu utilizá-lo. Então tem muita coisa na minha memória e nas prateleiras\", disse Ayer Andrade, profissional que há 46 anos cuida pessoalmente da memória do futebol rubro-negro.

Mas, se pelo lado do Flamengo há lamentações por não possuir um programa adequado, do lado vascaíno isso não chega a ser um incômodo. Pelo menos para dona Alice, senhora que há 27 anos faz todas anotações a caneta azul e guarda em uma pequena sala tudo sobre os jogos do Vasco.

\"É um trabalho muito bonito, feito a mão. Eu faço tudo a mão, não preciso de computador\", disse.

Quanto dona Alice diz \"faço tudo a mão\", esse \"tudo\" significa aquilo que todo historiador guarda sobre as partidas: todos os jogadores que entraram em campo, data do jogo e adversário, gols, cartões amarelos e cartões vermelhos.


Desta forma, o uso do computador se torna fundamental para facilitar a contagem e evitar erros. \"Eu arquivo tudo no computador. A contagem de gol, por exemplo, faço no excel. Quando é dado biográfico, fica guardado em Word. Já a súmula de jogos e estatísticas das partidas, eu armazeno no banco de dados do computador. Além disso, 80% do que faço eu guardo em cadernos e em cds, para garantir\", explicou seu método Napoleão.

Por sinal, tal preocupação na CBF só começou há pouco tempo. Contratado em 2004 para fazer um levantamento minucioso de todos os jogos da história da seleção brasileira, Napoleão teve de começar praticamente do zero.

\"Cheguei em 2004 aqui na CBF e não tinha essa parte de acervo, memória, aqui. Estou recuperando tudo e até hoje não terminei\", contou de forma bem-humorada Napoleão, que citou o Fluminense como exemplo de trabalho:

\"No Rio, o clube que cuida melhor disso é o Fluminense. O Botafogo também cuidava bem, com o Pedro Varanda, mas ele foi demitido em 2003 depois de anos de clube e não sei como andam as coisas lá hoje em dia\".

Nas Laranjeiras, o trabalho é feito por Gilberto Bueno, que desde 1978 cuida da memória do Tricolor. Atualmente, usa método semelhante ao empregado por Napoleão na CBF, guardando os dados tanto no computador quanto nas prateleiras.

Entretanto, Gilberto prefere não se gabar do trabalho e elogia o seu antecessor. \"Antes de eu chegar, tinha aqui no Fluminense o \"Papa\" disso aqui, o José de Almeida Filho. Ele trabalhou 50 anos no clube e fez um trabalho maravilhoso\", disse Gilberto.

Fonte: Pelé.Net