No início do ano, Sidão revelou ao 'Globo Esporte' luta contra a depressão
Bico como segurança, depressão e quase suicídio: Sidão agradece ao futebol por não ter tirado a vida
Com 100% de aproveitamento e um único gol sofrido em seis jogos, Sidão vive no Goiás o melhor início de temporada de uma carreira marcada por obstáculos e superação. Antes de chegar ao patamar de clubes como Botafogo e São Paulo, o goleiro sofreu com conflitos na vida particular e profissional. Coube ao futebol impedí-lo de recorrer a um ato extremo.
Sidão conta que lidou com a depressão e que cogitou suicídio no início dos anos 2000. Após começo promissor na base do Corinthians, o goleiro reconhece que extrapolou fora de campo e que pagou um alto preço. Sua trajetória saiu de vez do trilho após a perda da mãe.
- Com 17 para 18 anos eu deslumbrei e comecei a ir para a noite. Gastava o dinheiro todo com bebidas e tal. Foi quando tive uma perda muito grande, que foi a morte da minha mãe. Isso me trouxe um sentimento de culpa muito grande. Tive depressão forte. Graças a Deus não tive coragem de tirar a minha própria vida, mas pensava nisso o tempo todo. Para mim, não valeria mais a pena estar no mundo com minha mãe tendo partido - revela.
Jovem e sem alicerce, Sidão não suportou a perda e mergulhou em um conflito que o fazia se sentir responsável pela morte da mãe.
- Achava que a culpa era minha por conta das coisas que eu vinha fazendo. Saía de casa sexta-feira, sumia e só aparecia domingo. Existe a frase "você só dá dor de cabeça" e, coincidência ou não, minha mãe morreu porque sofria com dores na cabeça. Não conseguimos o diagnóstico e ela acabou falecendo. Carreguei esse sentimento de culpa e, para mim, o certo era eu morrer também.
Desiludido, Sidão chegou a abandonar a carreira. Até então, o goleiro colecionava passagens apenas por clubes de menor expressão do interior paulista, como Juventus-SP, Taboão da Serra e União Mogi-SP. Forte e com 1,89m de altura, ele conseguia ganhar mais trabalhando como segurança em eventos e casas noturnas. Foi quando o esporte lhe deu uma nova chance e possibilitou a volta por cima.
- Por volta de 2008 eu queria me casar com a minha esposa, e o futebol não me dava essa estabilidade financeira. Tinha desistido e comecei a fazer alguns "bicos" de segurança. Mas depois o presidente do Taboão da Serra me viu trabalhando como segurança e falou que eu tinha que voltar a jogar bola. Tentei mais uma vez, e as coisas caminharam melhor.
A grande virada, no entanto, veio quando ele fechou com o Audax-SP e, em 2016, foi vice-campeão paulista. A campanha abriu portas para o goleiro ser contratado pelo Botafogo e, posteriormente, pelo São Paulo, seu último clube antes do Goiás. No Verdão, Sidão colhe os frutos da persistência e se emociona ao ver outros casos parecidos com o seu.
- Michael contou a história dele. É impressionante a mudança. Há dois anos ele estava vivendo outro tipo de vida, em um mundo totalmente diferente. Hoje ele está aí ajudando pra caramba o Goiás, a própria família dele e se ajudando. É impressionante como o futebol pode ajudar na vida de um ser humano e como mexe com a paixão dos torcedores. Como diz a frase que o pessoal fala, "não é só futebol". Tem muita coisa envolvida. O futebol nos proporciona muita emoção, e essas histórias de vida valem a pena serem contadas - conclui.
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