Futebol

Na prancheta: Análise tática de Fluminense x Vasco

O Corinthians vencia em Florianópolis. Só a vitória interessava, portanto, aos guerreiros vascaínos. Num clássico diante da equipe mais temida do momento, a situação não prometia facilidade. A agonia seria intrínseca a mais uma tarde de domingo carioca.

Engenhão dividido, fãs apaixonados perdiam unhas a uma velocidade incomum. Sentimentos varriam a tranquilidade minuto a minuto. Na velocidade da luz, no bote de uma cobra perversa, numa fração de segundos tudo podia acontecer. Vascaínos já viam o filme: tudo estaria perdido. O ano fantástico terminaria numa fatídica tarde de domingo.

Eis que o pessoal de Ricardo Gomes, Cristóvão Borges e Rodrigo Caetano, exaustos pela maior sequência de jogos dentre todos os clubes da série A, inexplicavelmente foram atrás do impossível. Bernardo saíra do banco para mostrar que, de fato, é iluminado. Pra mostrar que, de fato, o Vasco se supera quando ninguém mais supõe superação. Para mostrar que o Vasco continua vivo, para mostrar que o título ainda é possível.

Um 2 x 1 de suor, raça e brio. Um jogo em que, nitidamente, a equipe vascaína estava já sem muita força física, mas retirou da vontade a força de superação. Porque forte não é aquele que tem força física, mas aquele que tem força para a acreditar que é capaz. Bernardo e Alecsandro foram simplesmente os personagens icônicos, mas a força e os méritos devem estar com todo o grupo.

O time de Cristóvão viria a campo repetindo a sua formação tática da partida diante da “La U”, da última quarta feira. Viria em um 4-1-3-2, com Rômulo encarregado em marcar Deco, Felipe aberto pela esquerda e Allan pela direita, com Juninho mais centralizado, caindo pela direita.

O Fluminense, por sua vez, repetia time e formação do último confronto diante do Figueirense, quando derrotou a equipe catarinense por expressivos quatro a zero. Viria o tricolor, então, novamente em um 4-3-1-2, com Deco de “trequartista”. A diferença na formação do Flu esteve na mudança de posicionamentos entre Diguinho e Edinho. Enquanto o primeiro viria jogar centralizado, o segundo jogaria como volante pela direita, a fim de pegar Felipe. Diferentemente do duelo diante do Figueirense, quando esse posicionamento foi contrário.

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Foi o Vasco quem se adequou melhor a formação inicial e dominava amplamente o meio de campo. Com isso, o time de São Januário estava melhor na partida e tinha domínio de boa parte das ações. Abel Braga, porém, não demorou muito para perceber isso. Fez então, o treinador, uma mudança de posicionamento em seu meio de campo. Chamou Deco para jogar mais recuado, para fugir da forte marcação de Rômulo, que não o deixava jogar. O volante Edinho foi recuado para a zaga, fazendo terceiro zagueiro. Os laterais foram liberados. Marquinho também. E com isso, o tricolor se posicionou em um, já bastante usado nas laranjeiras, 3-4-2-1.

Foi dessa forma que o Fluminense subiu de produção e, guiado por Deco, agora livre de marcação, esteve bem próximo do gol e terminou melhor a primeira etapa:

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Mas foi para o segundo tempo que a verdadeira emoção da batalha estava guardada. O Corinthians marcara em terras catarinenses, o título não era mais possível para o Flu, mas para o Vasco ainda havia salvação: um gol para continuar vivo.

Dessa forma, Cristóvão Borges fez algumas alterações na equipe. Notando o cansaço excessivo de sua equipe, o treinador sacou Juninho e Felipe, colocando Fellipe Bastos e Alecsandro, se juntando a Bernardo, que já havia entrado no intervalo. Na nova configuração vascaína, o time esteve no seu mais mais habitual da temporada, 4-3-2-1. Com Bernardo aberto pela esquerda e Diego Souza pela direita, sempre invertendo os lados.

O Fluminense também se alterou. Edinho foi novamente deslocado para o meio de campo, fazendo um 4-3-2-1. Deco, no entanto, continuara mais recuado, a fim de jogar com mais liberdade e boa distância de seu marcador implacável, Rômulo.

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O gol cruzmaltino tão precisado e aclamado finalmente saiu com Alecsandro. Estaria o Vasco, novamente, livre para continuar disputando a conquista do título nacional, se não fosse, porém, Fred. O artilheiro tricolor recebera nas costas de Renato Silva para empatar novamente o pleito. Um balde de água fria para os vascaínos. Um gol em situações físicas precárias já havia sido difícil de se fazer, outro então…

O título já cheirava a Corinthians, o jogo em Florianópolis já havia, inclusive, terminado com vitória paulista. E no Engenhão um fatídico 1 x 1. Não dava mais para os guerreiros templários, a brava batalha pelo professor Ricardo Gomes e toda a nação vascaína estava se terminando. Ficaria para o ano que vem…

O silêncio perpétuo da sensação de que poderia ter sido melhor, de que o grupo merecia mais já se ameaçava a ser a trilha sonora de São Januário no domingo noite carioca.

Eis que Bernardo, a promessa predestinada vascaína, descartada do Cruzeiro como uma simples eterna promessa… Eis que Alecsandro, o #9 predestinado de gols em momentos importantes, descartado do Internacional como um simples jogador em fim de carreira com cheiro de fracasso… Eis que o grupo vascaíno cheio de renegados, porém unidos. Unidos por ideias fortes, por sentimentos bonitos de amor, zelo, carinho e cuidado, guiados pela força de viver de um ex-zagueiro icônico chamado Ricardo Gomes, guiados pelo sentimento de fazer o impossível, guiados pelo amor de vencer. Eis que esses guerreiros templários resolvem mostrar que nada estava perdido. Nada estava definido. O Corinthians não era mais campeão. Bernardo, aos 45′ do segundo tempo veio decretar a vitória vascaína, e em um pranto de sinceros sentimentos de alegria, alívio, orgulho e emoção selou: o Vasco continua vivo.

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O Vasco continua vivo… tão vivo como sempre esteve.

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Fonte: Na Prancheta