Morre Fernando Silva, ex-jogador do Vasco na década de 70
Fernando Silva, 73, o homem responsável indiretamente pelo milésimo gol de Pelé, morreu no sábado, 5 de junho, por volta das 21h (de Brasília), após infarto fulminante.
Ex-zagueiro de Vasco, Bahia, Vitória, entre outros, ele estava na própria residência, em Maricá, no Rio de Janeiro, quando se sentiu mal. O sepultamento foi neste domingo no cemitério municipal de Maricá, às 13h30.
Revelado pelo Juventus-SP, Fernando cometeu o pênalti em Pelé, que converteu e marcou o segundo gol do Santos contra o Vasco, na vitória por 2 a 1, no Maracanã, em 19 de novembro de 1969. Foi o milésimo gol do Rei do Futebol.
O ex-jogador passou os últimos cinquenta anos vínculado ao lance --embora algumas fontes atribuíssem a Renê, companheiro na zaga do Vasco, a responsabilidade pela penalidade. Em outubro de 2019, ao ser procurado pela reportagem da ESPN Brasil, Fernando assumiu que fora ele responsável pela "fatalidade", forma como classifica a suposta falta que fez em Pelé, e não o amigo Renê.
E assim como fez nos últimos cinquenta anos, sustentava que não ocorreu falta alguma. Culpava o árbitro pernambucano Manoel Amaro de Lima de ter errado. A marcação ainda contou ajuda do auxiliar de Luiz Carlos de Oliveira, o Cacá (amigo de Fernando).
"Não foi pênalti! O Pelé bate na minha perna e cai. Ele tinha muita habilidade e muita malícia, mas ali ele bateu e caiu. O árbitro, que não sei porque veio de Pernambuco, marcou. O Cacá estava um pouco longe da área, mais para o lado direito da nossa defesa. A visão dele não era boa", disse Fernando, cinquenta anos depois do lance, para a ESPN Brasil.
A reportagem fez Fernando e Cacá se encontraram no Maracaã cinquenta anos depois do milésimo gol para tirar a dúvida. Cacá afirmou que o lance foi claro e a conclusão dele não se alterou mesmo meio século depois do fato.
"Foi pênalti! Sem dúvida, foi pênalti. O Fernando pegou o Pelé por baixo, acertou a perna dele e o derrubou. Eu tive a mesma interpretação do árbitro. E fui até a área para ajudá-lo porque os jogadores do Vasco estavam questionando. Fui para acalmar todos", disse Cacá.
Naquela entrevista, Fernando admitiu que os jogadores do Vasco não tiveram nenhum orgulho de levar o milésimo gol de Pelé --algo que se especulou na época. Disse que foi um peso, quase uma vergonha, que tiveram de tolerar nos dias seguintes.
Como exemplo, citou que o goleiro argentino Andrada ficou muito frustrado por quase ter defendido o pênalti e tinha pesadelos com o lance. O elenco vascaíno ainda se incomodou com um camisa dada pelo clube de São Januário a Pelé com o número 1.000 nas costas.
O fardo durou mais tempo para Fernando. Muitas vezes explicou duas, três, cem vezes o lance. Poucos davam razão para as palavras dele. A cada novo aniversário do milésimo ele era procurado para falar do lance. Chegou a ficar magoado.
"Nos dias seguintes, as pessoas me viam na rua e falavam: 'Olha lá, o homem que cometeu o pênalti do gol mil do Pelé'. Foi difícil no começo e eu não gostava de falar do assunto. Todo aniversário do milésimo gol aparecia alguém para falar disso. Mas hoje está superado. Consigo falar, lembrar, mas é preciso lembrar sempre que não foi pênalti", disse Fernando.
Depois do Vasco, Fernando prosseguiu a carreira. Acabou brilhando na dupla Bahia e Vitória, sendo campeão pelos dois rivais de Salvador. Chegou a defender a seleção de novos do Brasil e jogou profissionalmente por vinte anos.
Maricá passou a ser residência do zagueiro depois que ele se aposentou. Ali, ele encontrou uma missão mais nobre. Ensivana futebol para garotos com dificuldades financeiras. Entendia proporcionar lazer e uma alternativa de vida para tantos e tantos jovens esquecidos.Nos últimos anos, a escolinha estava com apoio do América-RJ, e muitos jovens viam em Fernando uma referência como ser humano.
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