Futebol

Mordaça de Eurico impediu Roth de falar sobre seus 4 meses de Vasco

Apesar da penhora de São Januário, do processo por sonegação que pede a prisão de seu presidente e da suspensão da certidão negativa de dívidas, em campo o Vasco vive ótima fase. Ontem, em tarde fresca, de céu azul, os jogadores treinavam após a vitória (4 a 2) sobre o Atlético-PR enquanto uma facção preparava um mosaico com 1.200 peças para saudar o time, domingo, contra o América-RN.

Às vésperas do aniversário de 109 anos do clube, na terça-feira, o presente é bem diferente das tradições democráticas de outrora.

Em vez de esclarecer as pendências que fragilizam sua saúde política e financeira, o presidente Eurico Miranda preferiu punir a torcida e calar os jogadores. Proibidos de dar entrevistas, só podem usar os pés para dizer aos vascaínos que sempre haverá motivos para celebrar a paixão secular.

Com um jogo a menos, time se aproxima do Botafogo Atrás do gol, a estátua de Romário, coberta por um plástico, é um monumento ao clube que impede seus jogadores de revelar suas expressões. Num clube em que seu dirigente diz celebrar contratos verbalmente, tudo é embrulhado em mistério.

O craque não aparece para treinar há quase 40 dias, está em recuperação de lesão no tornozelo, mas é aguardado para inaugurar a estátua, sábado. Na falta de comunicação oficial, as arquibancadas têm voz.

\"Se fosse o Romário, continuava sem aparecer, porque o time embalou\", disse um aluno da escolinha, sem saber que cometera dupla transgressão num clube que dá imunidade ao ídolo e censura o resto.

Quando o presidente cruzou o gramado a caminho do departamento de futebol, todos já estavam recolhidos. Sob a lei da mordaça, o técnico Celso Roth não pôde analisar seu trabalho, que ontem completou quatro meses. Tampouco falou sobre as opções no elenco. Poupados da estréia na Sul-Americana, Jorge Luiz, Wagner Diniz, Perdigão, Conca, Alan Kardec e Leandro Amaral voltam domingo pelo Brasileiro. O Vasco tem dois pontos e um jogo a menos do que o vice-líder Botafogo. O torcedor Rodrigo Ferreira já montou o mosaico que o técnico tem para escalar o time.

\"Deve manter três zagueiros e pôr o Andrade no lugar do Amaral\", disse, livre da censura. \"Somos independentes, pagamos ingresso\".

Também fazem festa e sustentam uma paixão de 109 anos. Ninguém fala melhor pelo Vasco do que sua torcida. Esta só perde a voz depois de gritar o quanto quiser.

Fonte: O Globo