Michael Alves acusa Vasco de humilhação e quer R$ 400 mil por danos morais
Após bom trabalho no Criciúma, em 2012, o goleiro Michel Alves chegou ao Vasco para substituir Fernando Prass. Mas perdeu espaço no clube depois de alguns meses e acabou sendo apontado pela diretoria como um dos responsáveis pelo último rebaixamento à Série B. Quase dois anos depois, o atleta vive um verdadeiro inferno.
Em entrevista à ESPN, Michel Alves desabafou e relatou humilhações sofridas no Vasco. Ele saiu do clube no fim do ano passado, depois de uma temporada inteira treinando separado do elenco, e nunca mais conseguiu um time para jogar. Ainda tem salários para receber da equipe cruzmaltina, que depositou apenas duas de 24 parcelas do seu FGTS.
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"Ele tem o direito de querer que eu não trabalhasse lá, mas não tinha direito de me humilhar, de me fazer passar vergonha perante a minha família e para todo o Brasil. Não coloquei uma arma na cara de ninguém para assinar contrato com o Vasco, eles que ligaram, mas não tive nenhuma troca em relação à isso, toda vergonha e humilhação que passei. Foi uma situação lamentável no futebol que eu não desejo para ninguém o que a gente passou", relatou Michel Alves, hoje com 34 anos.
O goleiro ingressou na Justiça para reaver o dinheiro que tem para receber do Vasco e ainda quer indenização por danos morais. Segundo apurou a reportagem, a ação movida pelo atleta na Justiça do Trabalho chega aos R$ 400 mil - uma audiência está marcada para o dia 20 de outubro. Quem o defende é o advogado Fabio Cruz, especialista em direito esportivo.
"Estou precisando queimar as reservas que fiz durante toda minha carreira. Na Justiça, eu cobro nada mais do que é o meu direito, esse fato dos danos morais, da humilhação que sofri com a roupa do clube, foi humilhante e o transtorno emocional perante a família. Não recebi de outubro até dezembro, não pagaram 22 parcelas de FGTS, férias, 13º. Isso é um direito meu", avisou Alves, que também passou por Vila Nova, Ceará, juventude e Brasil de Pelotas.
Confira, abaixo, o desabafo do goleiro Michel Alves:
ESPN - O que aconteceu no seu afastamento do Vasco?
Michel Alves - Quando começou o ano de 2014 eu estava em Goiânia e recebi uma ligação do pessoal do Vasco. Eu estava esperando uma situação de afastamento e perguntei sobre isso, mas me disseram para me apresentar normalmente junto com o restante do grupo. Minha esposa estava com problemas de saúde e hospitalizada e a deixei lá para pegar o avião e ir ao Rio de Janeiro numa segunda-feira. Vesti o uniforme do clube, peguei meu material e fui fazer os exames de rotina normalmente, mas passados 40 minutos que estava dentro do vestiário chegou o supervisor e me chamou todo constrangido: ‘Olha acabou de descer uma lista e falaram pra você, Renato Silva, Alessandro Sandro silva e Nei se apresentarem só na outra segunda'. Imagina o meu constrangimento. Dalei assim: ‘Por que não me avisaram antes? P..., minha mulher está no hospital, nem teria saído de perto dela. Você me falou que era pra eu me reapresentar'. Então ele me respondeu que foi uma decisão tomada em uma reunião pela diretoria naquele instante. Foi um choque, não acreditava, por mais insensíveis que fosse a diretoria e que estivessem dirigindo o time, qual era a utilidade de eu ter viajado se ia ser afastado? Fora a vergonha que você fica, os companheiros te olhando, tanto é que chamei um segurança e pedi para ele esvaziar meu armário porque o clima ia ficar ruim, ninguém ia entender nada, e imagina ter q explicar essa história a cada um deles?
ESPN - Mas por que acha que ocorreu dessa forma?
Michel Alves - A diretoria queria arrumar algum culpado pelo rebaixamento e responsabilizaram os goleiros. Eles tinham direito de me afastar, mas dentro de uma forma honesta, legítima e ética e não da forma que foi, nenhum profissional merece isso. Ele tem o direito de querer que eu não trabalhasse lá, mas não tinha direito de me humilhar, de me fazer passar vergonha perante a minha família e para todo o Brasil. Eles poderiam ter me chamado de outra forma e buscado uma forma de rescindir meu contrato, me emprestar, mas que não me expusesse ainda mais na situação. Numa forma de homem, correta, digna e de um clube que diz grande. Quando falam que uma instituição é grande, ela não pode ser grande só no jornal, nas frases de efeito, ela tem que ser grande todos os dias se mostrando como um clube organizado e que cumpre com as suas obrigações. Fácil passar uma imagem para fora e internamente não ser desta forma, é uma hipocrisia.
ESPN - O que aconteceu depois?
Michel Alves - Na semana seguinte me apresentei e só poderia treinar em horários alternativos, mas eu nunca parei de treinar até mesmo em dois períodos. Fazia treinamentos com bola muito cedo, às cinco e meia da manhã chegava lá e ficava com o Márcio, auxiliar do Carlos Germano, que foi parceiro demais. Ficávamos até umas 7 , eu corria para tomar banho e saia antes do elenco chegar e que a diretoria não achasse que estava querendo fazer alguma coisa. Treinava tudo dia como se fosse jogar no domingo porque sou extremamente profissional. Foi extremamente constrangedor, eu fazia de vontade própria para me deixar pronto para se algum clube viesse atrás de mim. Só que o Vasco não tinha o menor interesse em buscar uma situação para uma alternativa para eu jogar, não ficar afastado sem nenhuma importância e valor, até porque tenho um contrato que eles precisam honrar. Eles não tentaram me emprestar, isso poderia ter até dividido o valor para eles. É deplorável um cara que tem uma carreira de tanto tempo no futebol ser tratado como como eu criaram uma situação de bode expiatórios para os goleiros, nos responsabilizando pela queda em 2013. Mas ninguém sabe que ficávamos três meses sem receber, condições muito difíceis para treinar. Os goleiros não tinham confiança porque nenhum tinha sequencia na equipe. Tudo isso gera desconfiança de todos os atletas porque você pensa assim: se faz isso com ele, fará comigo também.
ESPN - Depois que saiu do Vasco você não foi para nenhum clube mais?
Michel Alves - Eu estou desempregado desde janeiro depois de duas temporadas no Vasco e tive dificuldades para achar clubes, até apareceram algumas coisas, mas o tempo passou e fica mais difícil se empregar agora estou em Goiânia buscando minha condição e treinando bastante. Sempre que posso faço treino com bola e estou em plena forma física. Só teria que me condicionar com o treinamento específico de goleiro e tenho total capacidade para isso, vou voltara jogar em alto nível, só preciso de uma oportunidade para retomar minha carreira. Tenho 34 anos e muita lenha para queimar, penso em atuar até uns 37 ou 38. Tenho que achar uma possibilidade de retomar minha carreira, sempre fui muito feliz, fora nesse momento do Vasco. Só tenho a agradecer a minha carreira e tudo que conquistei no futebol. Agora tem a desconfiança do mercado para eu poder retomar minha carreira no futebol, é difícil conseguir demonstrar seu real valor. Porque você é responsabilizado por um rebaixado é compilado mostrar que existe um outro lado da história, que nem tudo que foi falado era verdadeiro, muita coisa que passava dentro do clube ninguém ficava sabendo. É preciso sempre ouvir as duas versões, de quem acusa e de quem é acusado.
ESPN - E os salários do Vasco, foram quitados?
Michel Alves - Tivemos muitas dificuldades em relação à parte financeira, de cada três meses que eu trabalhava eu recebia apenas um, isso é muito difícil. Tive muitos transtornos financeiros, não recebi 22 parcelas das 24 de FGTS que teria direito, férias, os salários que ainda não foram pagos. Estou precisando queimar as reservas que fiz durante toda minha carreira, isso é muito complicado. Sem falar no prejuízo emocional que isso traz a sua família e todos que estão junto contigo, além da minha carreira. Falam que tenho capacidade e lenha para queimar, mas essa situação eu vivi no Vasco está me fazendo pagar por isso, não é possível que falem isso de mim e eu não consiga provar isso dentro de campo e trabalhar. Eles só passam para fora o que é bom, mas o que é ruim eles escondem, camuflam e ainda expõem os jogadores. Tive que ouvir que estava no Vasco só para aproveitar o Rio de Janeiro e recebendo sem jogar. De forma alguma, todos que estavam afastados queriam jogar em algum lugar, mas o clube que te afastou tem que te ajudar a arrumar outro time. Eles querem que você além de tudo busque um time para sair, é complicado isso. Qual o interesse para minha carreira eu teria em ficar treinando afastado, me humilhando, me desvalorizando profissionalmente? Não tem cabimento, sendo que nem salários eu recebia em ordem. O Vasco que veio atrás de mim para me contratar depois que fui vice da Série B pelo Criciúma, não coloquei uma arma na cara de ninguém para assinar contrato, eles que ligaram, mas não tive nenhuma troca em relação à isso, toda vergonha e humilhação que passei. O que eu podia fazer eu fiz, nenhum ser humano trabalha sem confiança, sem confiança, agora te colocam numa situação e te queimam, não tem como. Foi uma situação lamentável no futebol que eu não desejo para ninguém o que a gente passou.
ESPN - Você entrou na Justiça contra o clube?
Michel Alves - Isso me gerou um prejuízo a minhas imagens de tudo que construí no futebol, sempre lembram da parte final e acreditam nos que os outros falam, não ligam para mim e perguntam a verdade. O que aconteceu, como eu estou. Quem é meu amigo sabe, mas um clube acredita no que foi divulgado pelo outro time. Na Justiça, eu cobro nada mais do que é o meu direito, esse fato dos danos morais, da humilhação que sofri com a roupa do clube, foi humilhante e o transtorno emocional perante a família. Não recebi de outubro até dezembro, não pagaram 22 parcelas de FGTS, férias, 13º. Isso é um direito meu, a decisão ficará nos critérios do juiz que fará a audiência. Eu tentei falar com o Angioni e um acordo sem precisar entrar na Justiça, para resolver de uma forma amigável, mas não fui respondido pediram para esperar, mas é complicado estou quase um ano sem receber nada. Imagina que se você precisa queimar a reserva que fez ao longo da carreira. Não tive resposta da atual e não tive outra alternativa a não ser essa. Para recuperar o que é meu de direto, nada além disso, provado em processo.
Resposta do Vasco
Em resposta às palavras de Michel Alves, o diretor Paulo Angioni disse à reportagem que recebeu, sim, contato do goleiro para receber os atrasados e que explicou ao atleta que o departamento jurídico estava fazendo uma engenharia financeira para ver como iria pagar as dívidas. Deixou claro ao jogador que ele não está esquecido, mas que em qualquer momento ele seria chamado para ver o que poderia ser feito para ver o que o Vasco poderia pagar a esses atletas. Quando entrou, o dirigente diz que ele e o departamento de futebol ficaram cientes de uma série de pendências deixadas pela antiga diretoria com ex-atletas do clube.
Fonte: ESPN BrasilMais lidas
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