Clube
Quando o Vasco chegava ao fundo do poço, um garoto chorava debaixo das arquibancadas de São Januário. Era dezembro de 2008, e Marlone também tinha passado o pior ano da sua vida. Filho adotivo a mãe de sangue deu à luz o jogador e um gêmeo quando tinha menos de 14 anos de um casal que já tinha quatro crianças, o garoto foi vítima de um erro no seu registro de nascimento.
O clube descobriu falsificação de outro atleta da equipe e chegou a dispensar o jovem louro que começou a jogar bola com 5 anos driblando cachorros na roça e hoje se transformou na maior esperança das divisões de base vascaínas.
Costumo dizer que sou um escravo. Pode parecer uma palavra forte, mas é que sempre trabalhei muito, abri mão de muitas coisas. Enquanto os outros dormiam, eu estava sempre trabalhando, diz ele, que completou 19 anos no último dia 2.
Poucas semanas depois de renovar com o clube por cinco anos, Marlone, camisa 10 e destaque dos juniores, lembra da humilhação que passou no pior ano da história do Vasco.
Em todo clube tem humilhação, um rebaixamento porque alguém está melhor do que você. Não foi um, dois meses, foi o ano todo. Eu fui mandado embora do Vasco, conta o garoto, que nasceu em 1992 e foi registrado um ano depois.
Não foi falsificação, falei a verdade. Aí o Vasco pediu para eu ir em casa buscar os documentos. Fui, arrumei tudo e, quando liguei, disseram que não me queriam. Já tinha arrumado tudo e voltei mesmo assim, diz o jovem, que nem treinava.
Às vezes pegava minha roupa e fedia a chulé. Os garotos diziam: Só treino com você quando estou suspenso, você é baba da baba, contavam dinheiro na minha cara. Ficava adoecido, queria minha mãe. Eu chorava muito, diz Marlone, que poucas vezes viu a mãe de sangue e só aos 11 anos conheceu o irmão gêmeo Marlon, que joga no Olaria.
Enquanto o Vasco passava por anos difíceis, ele se virava como podia para comer. Recebia apenas R$ 50 mensais do pai e corria as arquibancadas atrás de restos de comida nos intervalos entre as refeições.
Os meninos soltavam pipa e eu ficava olhando para o chão. Quando via alimento, saía correndo e eles vinham também, achando que era pipa. Mas era um biscoito estragado, lembra ele, que chegou ao Vasco em 2006 depois de tentativas frustradas no Cruzeiro.
Quando o pai já desistia de bancar o sonho do filho, apareceu um carro de som que anunciava a peneira do Vasco, em Imperatriz (MA), divisa com Augustinópolis (TO), onde nasceu. Entre mais de 600 garotos, ele foi aprovado.
Sempre tive o Vasco como um pai para mim. Ganhei carinho, o clube apostou em mim, me ensinou a ser atleta, a ser homem, disse o garoto, que torcia para o Corinthians na infância.
FICHA TÉCNICA
NOME COMPLETO
Jonath Marlone Azevedo da Silva
NASCIMENTO
2 de abril de 1992
CIDADE
Augustinópolis (TO)
ALTURA E PESO
1,80me 70 Kg
POSIÇÃO
Apoiador
ÍDOLO
Kaká
PRIMEIRA VEZ
Aniversário com o gêmeo
Evangélico, Marlone conta que as dificuldades enfrentadas ao longo da vida o aproximaram da religião. Não foi um querer, a igreja era uma forma de buscar uma solução, explica o garoto.
A mãe adotiva, Eunice, que ainda vive em Tocantins, era viciada em álcool e quase morreu após uma recaída. Ela bebeu álcool puro, que meu pai usava para a sinusite. Os médicos falaram que já era para preparar o caixão, lembra o garoto, que sofria à distância. Uma vez eu liguei e vi que a voz estava diferente. Ela fez tratamento e hoje tem pavor de álcool.
No último dia 2, ele comemorou o aniversário pela primeira vez ao lado do irmão Marlon, que também é meia no Olaria e foi criado pela avó de sangue. Da infância, ainda dói a lembrança da rejeição por parte dos irmãos. Na casa nova, mesmo com pouco dinheiro, o sofrimento passou. Minha mãe queria que o Marlon também tivesse sido adotado. Estou muito feliz que agora ele está comigo.
Garoto deve ganhar chance no profissional ao longo do ano
Destaque do Vasco na Copa São Paulo de juniores, quando fez um golaço contra o América de Natal, Marlone é a grande aposta da diretoria.
Vejo nele uma capacidade superior à do Philippe Coutinho. É um meia que a gente não encontra mais. Até por todo o histórico de vida, ele é muito focado, diz Rodrigo Caetano, diretor de futebol, que prevê a utilização do garoto no profissional ainda este ano.
Para estar na melhor forma na Copinha, Marlone não foi ver a família, o que faz apenas uma vez ao ano. Fiquei treinando, me cuidando. No Carnaval também, vai que precisam de alguém? Aí eu já estou aqui, diz Marlone.
Não por acaso, o destino dele começou a mudar com o então técnico Dorival Junior. Ele completou o time no amistoso contra a seleção da Nicarágua. Dei uma arrancada, sofri falta e já entrei no clima do jogo. No fim do treino, o Dorival perguntou quantos anos eu tinha e mandou fazeremmeu contrato.
Técnico de Marlone no júnior, Galdino, de 54 anos, ex-jogador do Vasco, é outro que se impressiona com a gana do garoto. Em treino de recreação, a gente fala Calma, Marlone, o jogo é amanhã, mas ele diz que não interessa. Essa vontade toda parece vir do sofrimento que teve, diz Galdino. O técnico pede duas coisas ao garoto: que solte mais a bola e que seja descontraído. Ele é o contrário dos outros, que brincam demais. No máximo, ele dá uma risada, conta Galdino. Fonte: O Dia
Marlone relembra período difícil da vida e agradece ao Vasco
Quando o Vasco chegava ao fundo do poço, um garoto chorava debaixo das arquibancadas de São Januário. Era dezembro de 2008, e Marlone também tinha passado o pior ano da sua vida. Filho adotivo a mãe de sangue deu à luz o jogador e um gêmeo quando tinha menos de 14 anos de um casal que já tinha quatro crianças, o garoto foi vítima de um erro no seu registro de nascimento.
O clube descobriu falsificação de outro atleta da equipe e chegou a dispensar o jovem louro que começou a jogar bola com 5 anos driblando cachorros na roça e hoje se transformou na maior esperança das divisões de base vascaínas.
Costumo dizer que sou um escravo. Pode parecer uma palavra forte, mas é que sempre trabalhei muito, abri mão de muitas coisas. Enquanto os outros dormiam, eu estava sempre trabalhando, diz ele, que completou 19 anos no último dia 2.
Poucas semanas depois de renovar com o clube por cinco anos, Marlone, camisa 10 e destaque dos juniores, lembra da humilhação que passou no pior ano da história do Vasco.
Em todo clube tem humilhação, um rebaixamento porque alguém está melhor do que você. Não foi um, dois meses, foi o ano todo. Eu fui mandado embora do Vasco, conta o garoto, que nasceu em 1992 e foi registrado um ano depois.
Não foi falsificação, falei a verdade. Aí o Vasco pediu para eu ir em casa buscar os documentos. Fui, arrumei tudo e, quando liguei, disseram que não me queriam. Já tinha arrumado tudo e voltei mesmo assim, diz o jovem, que nem treinava.
Às vezes pegava minha roupa e fedia a chulé. Os garotos diziam: Só treino com você quando estou suspenso, você é baba da baba, contavam dinheiro na minha cara. Ficava adoecido, queria minha mãe. Eu chorava muito, diz Marlone, que poucas vezes viu a mãe de sangue e só aos 11 anos conheceu o irmão gêmeo Marlon, que joga no Olaria.
Enquanto o Vasco passava por anos difíceis, ele se virava como podia para comer. Recebia apenas R$ 50 mensais do pai e corria as arquibancadas atrás de restos de comida nos intervalos entre as refeições.
Os meninos soltavam pipa e eu ficava olhando para o chão. Quando via alimento, saía correndo e eles vinham também, achando que era pipa. Mas era um biscoito estragado, lembra ele, que chegou ao Vasco em 2006 depois de tentativas frustradas no Cruzeiro.
Quando o pai já desistia de bancar o sonho do filho, apareceu um carro de som que anunciava a peneira do Vasco, em Imperatriz (MA), divisa com Augustinópolis (TO), onde nasceu. Entre mais de 600 garotos, ele foi aprovado.
Sempre tive o Vasco como um pai para mim. Ganhei carinho, o clube apostou em mim, me ensinou a ser atleta, a ser homem, disse o garoto, que torcia para o Corinthians na infância.
FICHA TÉCNICA
NOME COMPLETO
Jonath Marlone Azevedo da Silva
NASCIMENTO
2 de abril de 1992
CIDADE
Augustinópolis (TO)
ALTURA E PESO
1,80me 70 Kg
POSIÇÃO
Apoiador
ÍDOLO
Kaká
PRIMEIRA VEZ
Aniversário com o gêmeo
Evangélico, Marlone conta que as dificuldades enfrentadas ao longo da vida o aproximaram da religião. Não foi um querer, a igreja era uma forma de buscar uma solução, explica o garoto.
A mãe adotiva, Eunice, que ainda vive em Tocantins, era viciada em álcool e quase morreu após uma recaída. Ela bebeu álcool puro, que meu pai usava para a sinusite. Os médicos falaram que já era para preparar o caixão, lembra o garoto, que sofria à distância. Uma vez eu liguei e vi que a voz estava diferente. Ela fez tratamento e hoje tem pavor de álcool.
No último dia 2, ele comemorou o aniversário pela primeira vez ao lado do irmão Marlon, que também é meia no Olaria e foi criado pela avó de sangue. Da infância, ainda dói a lembrança da rejeição por parte dos irmãos. Na casa nova, mesmo com pouco dinheiro, o sofrimento passou. Minha mãe queria que o Marlon também tivesse sido adotado. Estou muito feliz que agora ele está comigo.
Garoto deve ganhar chance no profissional ao longo do ano
Destaque do Vasco na Copa São Paulo de juniores, quando fez um golaço contra o América de Natal, Marlone é a grande aposta da diretoria.
Vejo nele uma capacidade superior à do Philippe Coutinho. É um meia que a gente não encontra mais. Até por todo o histórico de vida, ele é muito focado, diz Rodrigo Caetano, diretor de futebol, que prevê a utilização do garoto no profissional ainda este ano.
Para estar na melhor forma na Copinha, Marlone não foi ver a família, o que faz apenas uma vez ao ano. Fiquei treinando, me cuidando. No Carnaval também, vai que precisam de alguém? Aí eu já estou aqui, diz Marlone.
Não por acaso, o destino dele começou a mudar com o então técnico Dorival Junior. Ele completou o time no amistoso contra a seleção da Nicarágua. Dei uma arrancada, sofri falta e já entrei no clima do jogo. No fim do treino, o Dorival perguntou quantos anos eu tinha e mandou fazeremmeu contrato.
Técnico de Marlone no júnior, Galdino, de 54 anos, ex-jogador do Vasco, é outro que se impressiona com a gana do garoto. Em treino de recreação, a gente fala Calma, Marlone, o jogo é amanhã, mas ele diz que não interessa. Essa vontade toda parece vir do sofrimento que teve, diz Galdino. O técnico pede duas coisas ao garoto: que solte mais a bola e que seja descontraído. Ele é o contrário dos outros, que brincam demais. No máximo, ele dá uma risada, conta Galdino. Fonte: O Dia
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