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Manoel Amaro de Lima – o árbitro do 1000º gol de Pelé, no Vasco x Santos

“Muitos anos depois de marcar o milésimo gol, Pelé reencontrou o goleiro Andrada, que atualmente mora na Argentina, no Maracanã. Personagens imortais de uma partida inesquecível apitada por Manoel Amaro de Lima.”

Corriam os anos da década de sessenta, quando a arbitragem brasileira começou a sentir necessidade de renovação. Armando Nunes da Rosa Castanheira Marques, trejeitos à parte, era não apenas o melhor do Brasil. Figurava, também, entre os melhores do mundo.

Num patamar bem abaixo, estavam José Mário Vinhas, Carlos Costa, Antônio Viug, Wilson Lopes de Souza, Amílcar Ferreira, José Assis Aragão, Clinamute Vieira França, Olten Ayres de Abreu, Sebastião Rufino e mais alguns poucos. Há muito já não se tinha Mário Vianna.

A arbitragem carecia, por isso, de uma renovação de valores e começou-se a pensar na formação de um Quadro Nacional, para evitar, principalmente, gastos excessivos com passagens aéreas, estadias e outras mordomias colocadas à disposição dos árbitros de centros mais desenvolvidos.

As regiões Norte-Nordeste, que tinham o comando incontestável de Rubem Moreyra, então presidente da Federação Pernambucana, que, por anos foi o manda-chuvas, começaram a apresentar árbitros jovens e de futuro garantido. Nessa safra surgiram os nomes de Lourálber Pereira Monteiro e, principalmente, Manoel Amaro de Lima.

Manoel era ainda um adolescente quando viu, num programa de TV, anúncio da Federação Alagoana de Desportos, convidando jovens a participar de um curso para formação de árbitros.

Nascido a 5 de outubro de 1946 na cidade alagoana de Murici, Manoel Amaro de Lima tinha apenas 17 anos e meio, quando iniciou a carreira, apitando partidas amadoras. Seu primeiro jogo como profissional foi uma decisão de turno do campeonato alagoano, entre CRB e Penedense.

Os baianos Lourálber Monteiro, Clinamute França e Garibaldo Matos; os pernambucanos Sebastião Rufino, Armando Camarinha e Aristóteles Cantalice da Silva e o alagoano Manoel Amaro de Lima eram, na década de sessenta, os melhores árbitros das regiões Norte-Nordeste. Foram sempre requisitados para apitar os clássicos regionais, como Fortaleza x Ceará, ABC x América, Treze x Campinense, Sport Recife x Santa Cruz, Náutico x Sport, Ceará x Ferroviário, Botafogo x Treze, Paysandu x Remo e tantos outros.

Surgiram as competições interestaduais, como Taça Brasil, Torneio Rio-São Paulo, Campeonato Brasileiro e, com esses, ganharam nome os árbitros Walquir Pimentel, Airton Vieira de Moraes, Wilson Carlos dos Santos, Néri José Proença, Arnaldo César Coelho, Romualdo Arpy Filho, Dulcídio Wanderley Boschilia e, a esses se juntaram o alagoano Manoel Amaro de Lima e o pernambucano Sebastião Rufino, por conta do prestígio de Rubem Moreyra.

A partir daí, Manoel Amaro não parou de crescer. E, como árbitro aspirante ao quadro da FIFA, viveu seu maior momento ao lado de Pelé. O ex-árbitro Manoel Amaro de Lima está imortalizado na história do futebol, por ter apitado a partida entre Santos e Vasco no dia 19 de novembro de 1969, em que Pelé marcou seu milésimo gol na carreira. O alagoano é lembrado até hoje pelo feito, que o coloca como personagem marcante da bola.

Eram 34 minutos do segundo tempo, quando Pelé foi derrubado dentro da área vascaína pelo zagueiro Fernando. Manoel Amaro marcou o pênalti que o Rei do Futebol cobrou e converteu, apesar do goleiro argentino Andrada ainda ter tocado na bola. Começava naquele momento uma das mais emocionantes festas da história do Maracanã.

”Quando soube que iria apitar aquele que poderia ser um jogo histórico, não mudei em nada a minha rotina. Procurei enxergar como apenas mais uma partida”, diz Amaro.

Comportamento que levou para o gramado do Maracanã. Até que Pelé foi derrubado na área.... ”Marquei aquele pênalti com convicção. Estava muito próximo do lance. Seria melhor se o milésimo gol tivesse ocorrido com a bola rolando, mas foi emocionante fazer parte daquele momento. Estamos aqui para cumprir uma missão. E eu cumpri a minha”.

A importância daquele fato na vida de Manoel pode ser medida em algumas extravagâncias. Até hoje ele guarda moeda e uniforme utilizados naquele inesquecível 19 de novembro de 69. Atualmente reside em Recife, onde está aposentado como professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco.

Fonte: Jornal Pequeno-MA