Futebol

Mano Menezes revela pedido feito por um torcedor vascaíno

Há quatro anos, Mano Menezes usa óculos para leitura, mas não precisa deles para enxergar o futuro da Seleção. Seu ideal para a Copa de 2014 é um time jovem, liderado por Neymar ou algum outro destaque da atual geração Sub-20. Mas ainda há vaga para um trintão como Ronaldinho, desde que as noites cariocas não perturbem seu sono. Há vaga também para o tricolor Fred, se as contusões deixarem-no em paz. Aos 48 anos, o técnico enxerga como um menino: “O Brasil vai fazer uma grande Copa do Mundo”.

MARCA BRASIL: Está gostando de viver no Rio?

MANO MENEZES: Sim. E gosto do espírito do carioca, que empurra o seu time para cima, mesmo em dificuldade. Eu e a Maria Inês (mulher) somos de ficar em casa. Assisto a muitos jogos de futebol, uns dois por dia. Se não assisto ao vivo, vejo uma repetição de algum jogo da Seleção, para fazer correções na próxima convocação.

MB: Como analisa a aposentadoria do Ronaldo?

M: Ele provou a inteligência que tem. Encontrou o momento adequado, quando começaram a aparecer suas limitações. Nossa convivência no Corinthians foi de uns 18 meses. Foi intensa porque era o retorno de um grande ídolo ao futebol brasileiro. A mensagem que ele deixa é que mesmo sendo grande você tem que querer ganhar. E ele quer ganhar tudo: as penalidades com o goleiro no fim do treino, o jogo, o enfrentamento individual com o zagueiro... É isso que faz um jogador se tornar vencedor. Ronaldo foi o maior que treinei.

MB: Qual é a sua sugestão para a festa de despedida de Ronaldo?

M: Temos uma faixa etária de jogadores que estão encerrando sua participação na Seleção quase que simultaneamente. Então, se vamos fazer algo lá pela metade do ano — que é a ideia —, talvez tenhamos que aproveitar a oportunidade de estender a homenagem a mais jogadores. Seria injusto fazer a despedida para um só. Nessa Seleção que foi campeã do mundo em 2002, temos jogadores com trajetória significativa. Ronaldo, Roberto, Rivaldo... O ideal seria fazer um jogo para eles, algo bonito, depois da Copa América. Pois, antes, temos que usar as datas Fifa para preparar a Seleção para a Copa América (em julho).

MBH: No passado, alguns jogadores pediram dispensa na Copa América. Há esse risco?

M: Não estou sentindo essa intenção. Os jogadores sabem que a seleção principal terá duas competições até a Copa do Mundo: a Copa América e a Copa das Confederações. Teremos também a Olimpíada, e pode-se convocar até a idade de sub-23, com três excedentes. Esses são os parâmetros para se formar a Seleção.

MB: Vai levar para a Olimpíada três jogadores acima dos 23 anos?

M: Só vamos avançar agora na formação de uma seleção olímpica, a partir de jogadores que estiveram no Sul-Americano Sub-20. A convocação de jogadores que estão fora ainda vai passar por negociações. A Olimpíada não é uma competição Fifa. Logo, os clubes europeus não têm a obrigatoriedade de atender a uma convocação. Simplesmente por simpatia, não vão atender a um chamado se não são obrigados.

MB: Gostou da atuação da Sub-20 no Sul-Americano?

M: Gostei. A Seleção apresentou alguma oscilação, o que é natural pela juventude, e fechou a competição com chave de ouro. É importante deixar boa imagem e não é fácil ser campeão nas condições em que o campo estava.

MB: Não é preocupante o cai-cai do Neymar?

M: Ele está num estágio de amadurecimento final. Todo jogador que é diferenciado e está num grupo como principal ícone sente a necessidade de resolver. Ele confunde necessidade de resolver com individualismo exagerado. Isso gera o choque — o sul-americano marca forte. Às vezes, ele exagera. Mas, às vezes, faz quatro gols e decide. Quando o jogador encontra esse equilíbrio, está pronto. Vejo com naturalidade essas oscilações do Neymar. A gente esquece que ele tem apenas 19 anos. E achei a seleção, individualmente, muito boa, formada por jogadores que já são uma realidade nos seus clubes. É um indicativo de que temos uma geração muito boa.

MB: Esse é também o indicativo de que o Brasil vai fazer uma grande Copa?

M: O Brasil vai fazer uma grande Copa do Mundo. Não tenha dúvida disso. A certeza é que a gente tem realmente uma geração nova, muito boa, muito qualificada, de muito talento. Se você consegue o comprometimento desses jogadores, isso aí elevado ao talento vai te colocar próximo de ser vencedor.

MB: Romário foi o nome da Copa de 1994. Ronaldo foi o craque de 2002... Quem será o cara da próxima Copa?

M: É provável que seja um desses meninos que estão surgindo. Daqui a três anos, estarão com 24, 23 anos. E aí nos favorece muito o fato de a Copa ser no Brasil. O talento num ambiente mais favorável sobressai. Há chance de um desses jovens ser o craque da Copa.

MB: Quem?

M: Vai depender do momento. Havia uma expectativa extraordinária sobre o Messi na última Copa. Ele vinha jogando disparadamente o melhor futebol do mundo. E na Copa ele não conseguiu ser o melhor. Há outros exemplos e, também, surpresas como o Müller, da Alemanha, que não chegou tão cotado e foi um dos principais nomes. E o Forlán, que não era apontado com grande perspectiva e foi o melhor.

MB: Podemos então apostar que Neymar será o craque de 2014?

M: É um jogador que está entre os que podem ser. Vai ser uma regra as seleções chegarem mais jovens nas próximas Copas. A Alemanha chegou com uma média boa em 2010, e você vai vendo que a questão física vai influenciando nessas decisões.

MB: O Brasil, na África, já era um time velho?

M: Comparativamente com os outros, talvez. Mas não era um time velho. Era um time maduro, que chegou assim porque o trabalho foi conduzido para que fosse assim. Mas para a gente a realidade é outra. Como chegamos com uma seleção com média de 28, 29, esses jogadores têm que ser renovados porque senão você chega na Copa com média de 32. E você não pode ter essa média numa competição de curta duração, em que a intensidade dos jogos é alta...

MB: Muricy disse uma vez que o Fred seria o substituto do Ronaldo. O que acha?

M: Está aí o trabalho do técnico da Seleção: encontrar substitutos para grandes jogadores. Quando perdemos o Jorginho, olhamos para o lado e lá estava o Cafu. Depois do Cafu, o Maicon cresceu e se ofereceu como opção. Depois do Maicon (não estou dizendo que o Maicon já passou), já temos o Daniel Alves. No lado esquerdo, a gente sofreu descontinuidade depois do Roberto Carlos. A gente ainda não tem um nome. Na parte que o brasileiro mais gosta, a parte ofensiva, a gente tem que ter também boas possibilidades. Assim como o Muricy, acho o Fred um grande centroavante. Mas a continuidade é importante. Num torneio em que são inscritos de 20 a 25 jogadores, não se pode perder alguém importante ou ficar sem opções por causa de contusão.

MBH: A era dos bad boys acabou?

M: Espero que a era dos bad boys tenha acabado. Não acho que o jogador não deve ter folga. Não saio para ver o que ele faz na folga. Mas não há necessidades extremas de se fazer em 20 dias algo que pode ser feito na outra parte do ano. Esse é o mínimo de inteligência que o jogador deve ter. Se não é capaz de entender isso, como vai entender outras questões no campo?

MB: O Brasil vai ser favorito na Copa América?

M: O Brasil sempre pode ser considerado favorito. Mas a Copa América será na Argentina... E o Brasil tem mais adversários qualificados nessa edição da Copa América do que nas últimas que acompanhei, porque a América do Sul foi muito bem na Copa do Mundo. Nossos adversários adquiriram confiança. Mas isso é ótimo. O Brasil sofre mais quando o adversário pensa menor.

MB: Existe ainda espaço para Ronaldinho Gaúcho?

M: A idade tem seu peso como regra geral, mas, individualmente, é óbvio que vamos ter jogadores com 30 anos ou mais. Para esses jogadores que já tiveram passagem pela Seleção, vai depender exclusivamente do rendimento na proximidade da competição. Você pode estar bem até os 34 e ter uma queda aos 34 anos e meio.

MB: E as aparições noturnas de Ronaldinho?


M: O excesso, na minha opinião, é ruim sempre. Mais dia, menos dia, alguém vai fazer a relação disso com o rendimento. Ainda mais se o rendimento não está bom. Quando você se dedica, é discreto e o rendimento não está bom, a compreensão é maior. Quando você se expõe, a compreensão é menor.

MB: Perdoou o Hernanes?

M: (Risos) Nem o condenei. Foi um lance feio, que atrapalhou nossos planos. Minha preocupação é a exposição dos jogadores. Contra a França, 10 contra 11, na casa deles... Você pode tomar um gol, dois, três.

MB: E já foram duas derrotas seguidas...

M: Não gosto de perder. Não se pode perder essa indignação. Mas é preciso entender as duas derrotas. A gente jogou mais contra a Argentina. O Brasil tomou gol porque bobeou numa bola e essa bola caiu no pé de um jogador que tem a capacidade de definir um jogo, o Messi. Não sou a favor de falta, mas deve-se fazer a falta quando não se consegue tirar a bola. O que não pode é o adversário pegar a bola no meio do campo e parar no seu gol.

MB: A derrota para a Argentina doeu mais?

M: Doeu.

MB: Como tem sido a reação do torcedor?

M: Boa. Recentemente, meu apartamento estava em obra e fui conversar com um funcionário. Ele pediu que eu convocasse três jogadores do time dele, que era o Vasco. Com todo o respeito, eu olhei pra ele, e falei: três não é muito (risos)?

Fonte: Marca Brasil