Mancini diz que Dinamite foi sempre contra sua contratação
Ser técnico no Brasil não é tarefa fácil. Ganha-se bem, mas não há estabilidade no emprego. Na Série A, por exemplo, nenhuma equipe manteve o treinador do início da temporada. No Brasileirão, os clubes já trocaram de técnicos em 29 oportunidades. E apenas três seguem intactos: Joel Santana (Botafogo), Muricy Ramalho (Fluminense) e Vágner Mancini (Guarani). Menos badalado dos três intocáveis, Mancini não é treinador de postulantes à vaga na Libertadores e, muito menos, ao título.
Sua missão, no entanto, não é menos árdua do que a dos demais técnicos-medalhões. Ele tem a tarefa de comandar o Bugre em seu retorno à Série A, após seis anos longe da elite. Além disso, assumiu um time que não conseguiu sequer o acesso à primeira divisão paulista no primeiro semestre.
Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, Mancini fala sobre a sua estabilidade no Guarani, abre o jogo sobre sua conturbada passagem pelo Vasco, critica Roberto Dinamite e revela certo preconceito da imprensa carioca com treinadores de São Paulo.
GLOBOESPORTE.COM: O Campeonato Brasileiro deste ano também ficará marcado pela troca de treinadores. Até quem briga pelo título já demitiu. Somente você, Joel Santana e Muricy Ramalho seguem intactos.
Vágner Mancini: O meu acerto com o Guarani envolve um projeto, um planejamento a ser mantido. É um clube que está voltando à Série A, e com uma enorme dificuldade de estrutura. Temos o planejamento de nos manter e conseguir uma vaga na Sul-Americana. Não estivemos em nenhuma rodada na zona de rebaixamento, e ficamos fora em apenas uma rodada da zona de classificação para a Sul-Americana. Para o casamento dar certo, é preciso colocar as cartas na mesa e deixar o treinador trabalhar. Tenho o respaldo da diretoria.
Se o Guarani estivesse numa situação mais desesperadora, você acredita que seria mantido no cargo?
Essa é uma pergunta difícil. A ameaça de rebaixamento vem acompanhada de uma pressão enorme, 24 horas por dia. Fatores extra-campo vêm à tona e a desconfiança, muitas vezes, deixa um clima insustentável e traz desgaste. A troca de comando é a maneira mais simples de se resolver muitas vezes os problemas de relacionamentos internos no ambiente de trabalho.
Por que tantos treinadores estão sendo demitidos este ano?
A Seleção Brasileira é um exemplo para todos. Talvez, a troca do Dunga tenha influenciado a opinião pública, que conta muito no futebol. Mas, em alguns casos, não há mais o que fazer. Grandes times, com estrutura e excelentes elencos, não conseguem resultados. Mas o Campeonato Brasileiro é muito difícil mesmo. Acho que nem Real Madrid e Barcelona conseguiriam manter a regularidade durante todo o Brasileirão. Para você ver, o Atlético-GO, que luta para não cair, foi ao Pacaembu e meteu quatro no Corinthians, que briga pelo título. O Adílson (Batista) caiu. É difícil se manter neste panorama.
Aliás, a demissão do Adilson Batista o surpreendeu?
Claro. Até porque ele é um treinador com o meu perfil. Gosta de trabalhos longos. Ficou muito tempo no Cruzeiro. Conheço o Adilson muito bem e sei que ele é um cara que gosta das coisas bem feitas. Mas entrou para substituir a peça mais importante de um tabuleiro de xadrez (Mano Menezes) e as coisas desandaram.
Tem aprovado o trabalho do Mano na Seleção Brasileira?
Estou gostando muito. O Mano tem feito um grande trabalho. Ele é um cara do bem, que trabalha muito. Está testando novos jogadores, e uma postura ofensiva, como o povo brasileiro gosta.
Você também é apontado como um treinador que gosta de jogar para frente. Teve até problemas no Grêmio por isso.
É verdade. Sempre segui os conselhos do meu pai. Desde quando eu era jogador, ele me mandava ir para a área, fazer gols. Tento levar isso às equipes que treino. Não gosto de atletas que só saibam marcar. Por isso tive problemas no Vasco e no Santos. Os clubes tinham muitos jogadores de marcação, defensivos. Agora aprendi. Só dá para treinar time grande se você participar da montagem do elenco.
Mas você chegou ao Vasco em dezembro do ano passado e assumiu o clube antes da pré-temporada.
É verdade, mas o elenco já estava montado. O clube já tinha 29 jogadores. Não participei da montagem. O combinado foi que o Vasco se reforçaria ao longo da temporada para o Campeonato Brasileiro.
E realmente se reforçou, após sua saída do clube.
Claro. Felipe, Zé Roberto e Éder Luís seriam grandes reforços para qualquer equipe do Brasil. Fazem a diferença.
O que, então, deu errado no Vasco?
O Vasco foi uma profunda decepção. O que foi assinado e combinado, não foi cumprido. O Rodrigo Caetano, que me conhecia do Grêmio, me levou para o clube. Não tive nenhum atrito com ele, que é um excelente profissional. Mas o Roberto Dinamite foi contra a minha contratação desde o início. No primeiro deslize do time, me demitiu. Houve um choque de ideias. O que não começa bem, não termina bem.
Você acha que no Rio de Janeiro existe preconceito com treinadores do futebol paulista?
Existe um pouco sim, mas isso não é regra. O Parreira fez muito sucesso em São Paulo, assim como o Muricy vem tendo sucesso no Fluminense. A rivalidade é grande, mas o que conta de verdade são os resultados. Às vezes, a imprensa tem mais paciência com o treinador local. O tempo de carência é maior.
Falando em Muricy Ramalho, o que você achou da recusa dele à Seleção Brasileira?
É difícil julgar. Cada um sabe o que faz. Tudo o que sei foi o que saiu na imprensa. Não sei se ele conseguiu tudo o que pediu à CBF para poder implantar seu trabalho na Seleção.
E as atitudes de Celso Roth, Carpegiani e PC Gusmão, que deixaram trabalhos no meio para aceitar a proposta de outros clubes?
Depende muito do momento de cada um. São treinadores que respeito muito. O Carpegiani, por exemplo, é um cara muito correto. Depende muito dos clubes também. Tem que ver se os dirigentes estão cumprindo o que foi combinado.
Você tem contrato com o Guarani até o fim de 2011 e já avisou que só treina clube grande se participar da montagem do elenco. Quais são seus planos?
Não digo que não aceitaria a proposta de um clube grande. Mas agora faltam somente nove rodadas para o fim do campeonato. Para assumir qualquer outro time, tenho que estar afinado com o planejamento e a montagem do elenco. Tenho contrato com o Guarani e a minha ideia e cumpri-lo. Queremos uma vaga na Sul-Americana.
O Guarani vai disputar a segunda divisão do Campeonato Paulista em 2011. Vai seguir na equipe?
2011 será o ano do centenário do Guarani. A ideia é montar uma equipe forte para subir para a Série A1 do Paulistão, e reforçar ainda mais o time para a disputa do Campeonato Brasileiro e da Sul-Americana.
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