Luís Manuel Fernandes comenta projetos para o Vasco
Embora a pandemia de Covid-19 ainda continue, a corrida presidencial no Vasco da Gama continua a todo vapor. A VAVEL Brasil conversou com Luís Manuel Fernandes, candidato ao cargo máximo de mandatário do clube carioca.
Por enquanto, as eleições no Vasco continuam marcadas para o fim do ano, mas sem uma data prevista por conta da pandemia do novo Coronavírus. Além de Luís Manuel, há outros candidatos na disputa. Leven Siano, Fred Lopes, Júlio Brant (ainda não confirmou) e Alexandre Campello (também não confirmou).
VAVEL Brasil: Para começar, gostaria que você se apresentasse ao torcedor vascaíno?
Luís Manuel Fernandes: Meu nome é Luís Manuel Rebelo Fernandes. Tenho 62 anos. Sou torcedor do Vasco, frequentador assíduo de São Januário e do Maracanã desde criança. Sou sócio do clube desde 1984. Fui responsável pela área que cuida do resgate e da preservação da memória social do clube, na primeira década deste século, e também Presidente do seu Conselho Deliberativo até o início de 2018.
Do ponto de vista profissional, sou professor do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio e da UFRJ. Tenho ampla experiência de gestão, tendo sido Secretário Executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, Diretor Científico da FAPERJ e Presidente de um banco público financiador da inovação - a FINEP. Fui, ainda, Secretário Executivo do Ministério do Esporte e coordenador executivo, pelo Governo Federal, da organização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.
Sou, acima de tudo, um torcedor apaixonado pelo Vasco, disposto a colocar toda a experiência e os relacionamentos que acumulei ao longo da vida a serviço do reerguimento do clube.
VAVEL Brasil: Quais são as suas propostas para resgatar o Vasco desta crise instaurada há 20 anos e quais as medidas que podem ser tomadas de imediato?
Luís Manuel Fernandes: Em primeiro lugar, superar o quadro de forte polarização e fragmentação política hoje existente no clube para criar um ambiente de estabilidade e solidez institucional que dê segurança para investidores dispostos a ser parceiros no seu processo de recuperação e modernização.
Quanto mais rápido avançarmos nessa pacificação interna, mais rápida ser a recuperação do clube e mais substantivos serão os investimentos captados. Será necessário estruturar e viabilizar um plano emergencial, articulado a um projeto estruturante, que recoloque o clube em patamar competitivo na primeira linha do esporte nacional, a partir do futebol.
A apresentação de um plano integrado de medidas será feita no momento adequado, quando o calendário eleitoral do clube for retomado. Não entendo que seja adequado desenvolver atividades de campanha durante a pandemia. Todo o nosso foco deve estar centrado no enfrentamento dessa gravíssima crise de saúde pública e na salvação de vidas.
VAVEL Brasil: Quais as medidas que serão tomadas para pacificar o ambiente político do time? Acredita que isso é um dos maiores problemas atualmente?
Luís Manuel Fernandes: Entendo que a pergunta se refira à pacificação do clube, abordada na resposta à pergunta anterior. Trata-se da chave para resolver tanto a crise financeira, quanto a crise técnica dela decorrente no plano esportivo. O principal é superar os posicionamentos movidos a ódio e preconceito que, infelizmente, ainda predominam em muitos grupos políticos atuantes no clube.
Acredito que o caminho seja o de construir um polo de convergência em torno de um projeto viável de recuperação e modernização institucional, através do diálogo franco e aberto. O grau de unidade e convergência alcançado na discussão de temas da reforma do Estatuto do clube - quando colocadas de lado falsas polarizações movidas exclusivamente por cálculos eleitorais - indica que esse caminho é possível. Mais do que possível, eu diria que ele é necessário. Quem quiser se somar, é muito bem-vindo.
VAVEL Brasil: O seu rival Leven Siano prometeu trazer grandes craques como Balotelli e Ibrahimovic, além de fazer o Vasco em seis anos, conseguir R$ 2 bilhões de renda, entre outras promessas.
Você pensa que isso seria viável, considerando que o clube vive dificuldades com os salários de jogadores e funcionários?
Luís Manuel Fernandes: Não classificaria o Leven Siano como um "rival". Ele é um sócio do Vasco que colocou o seu nome à disposição para apreciação do quadro social nas próximas eleições. Meu propósito de pacificar e unificar o clube, evidentemente, o inclui também. Não conheço em detalhes os projetos que ele está apresentando, então é difícil opinar.
Me coloquei à disposição para conversar com ele a respeito, já que o que buscamos são soluções institucionais, e não pessoais. Dito isso, não me parece que a geração de R$ 2 bilhões de renda em seis anos seja suficiente para recolocar o Vasco na primeira linha do futebol nacional, ainda mais se isso representar a centralização de todas as receitas. Para se ter uma ideia, o balanço de 2019 do Flamengo apresentou receitas superiores às do Vasco em R$ 740 milhões, apenas nesse ano.
O Vasco tem de captar investimentos muito mais substantivos e rápidos para se tornar efetivamente competitivo. Não descarto a adoção do formato de clube empresa para o futebol, dependendo da legislação que venha a ser aprovada, desde que o clube preserve o controle acionário da mesma e negocie o formato de gestão empresarial adequado.
Posso assegurar que há investidores interessados em parcerias desse tipo com o Vasco, embora o momento atual seja de cautela em função das incertezas geradas pela pandemia e das suas consequências no esporte. A aprovação dos avanços contidos na proposta de novo Estatuto, incluindo o capítulo que determina punições para a gestão temerária do clube, é um passo importante nessa direção.
VAVEL Brasil: O Vasco da Gama tem por tradição ser um clube formador de atletas, mas observamos que por várias vezes o atleta quando faz a transição para o profissional acaba não conseguindo demonstrar o mesmo potencial. Talvez por queimar etapas ou por ainda não estar preparado psicologicamente para atuar num clube grande. Podemos dizer que na tua gestão o time terá um forte investimento nas categorias de base?
Luís Manuel Fernandes: O trabalho de base é fundamental tanto para qualificar o plantel do clube, quanto para aumentar sua capacidade de geração de receitas. Para além da instabilidade no trabalho de base, nossa formação de atletas tem sido prejudicada pela necessidade de precipitar a venda de jovens promessas pouco tempo após a sua transição para o profissional em função da crise financeira do clube. Isso prejudica o próprio amadurecimento do atleta e a agregação de valor para o clube. Por isso, o investimento em sólido trabalho de base deve ser articulado com o equacionamento da crise financeira do clube.
VAVEL Brasil: O que o torcedor do Vasco pode esperar do senhor em uma futura eleição para presidente?
Luís Manuel Fernandes: Pode esperar uma gestão séria e responsável, de alguém que respeita e valoriza as tradições do clube, mas que entende que sua recuperação exige modernização. Um dirigente que investe na construção institucional para gerar soluções sustentáveis para o clube, já que alternativas personalistas são superficiais e efêmeras, e só alimentam a polarização doentia que tomou conta da vida política do clube.
Uma gestão aberta, participativa e de diálogo, para construir pontes e convergências em torno de um projeto estratégico de reerguimento do clube. Um presidente com amplo relacionamento no mundo esportivo, empresarial, científico, político e institucional - tanto nacional, quanto internacional - e que acionará todos esses canais para defender os interesses do clube e promover a sua recuperação. Enfim, um dirigente que fará de tudo para que o clube correspondia à grandeza da sua história e da sua torcida.
Fonte: Vavel.com