Futebol

Lucas Crispim fala sobre dificuldade de se tornar atleta em Brasília

Berço de vários atletas consagrados do esporte nacional, Brasília costuma apresentar um dilema a quem quer avançar ao profissionalismo. Bons resultados normalmente levam o jovem esportista a ter que escolher entre as dificuldades conhecidas na cidade natal, como a falta de estrutura e de investimento, e as boas condições de trabalho oferecidas por clubes de fora da cidade. A dúvida comum aos candangos atordoa o nadador Marcelo Araújo. Com apenas 14 anos, ele tem que escolher pagar para ser atleta ou receber para treinar. Marcelo ainda não decidiu, mas conhece bem o histórico migratório dos atletas da capital.

Enquanto a família do nadador paga um salário mínimo — R$ 724 — à equipe técnica para treinos de segunda-feira a sábado na piscina da AABB (sem contar com o valor gasto com equipamentos, viagens e médicos), dois clubes cariocas apresentam propostas para levar o atleta ao Rio de Janeiro. Além da equipe profissional, Flamengo e Fluminense oferecem equipamentos, suplementação, viagens e salário fixo. “Eu prefiro ficar, mas hoje quem banca minha vida de atleta é meu pai. Lá, eu ganharia para ser profissional”, diz Marcelo, ainda esperançoso de conseguir um patrocínio para permanecer em Brasília. Por ano, a família investe cerca de R$ 30 mil na carreira do nadador.

Caso não consiga custeio para a carreira, ele provavelmente será o próximo a seguir o caminho traçado por tantos outros brasilienses. Há uma semana, a cidade perdeu o lutador de tae kwon do Guilherme Dias, bronze no Mundial da modalidade em 2013. Ele foi para o Centro de Treinamento Tojan Nippon, em Piracicaba (SP), local onde se preparou para o Grand Prix da China deste ano, no qual foi vice-campeão. “Todo atleta precisa buscar algum tipo de evolução, ainda mais no alto rendimento, quando uma pequena melhoria já faz grande diferença”, explica o atleta de 22 anos, que pretende ficar em solo paulista até os Jogos de 2016.

Vislumbrar o futuro no esporte quase nunca inclui a permanência em Brasília. Quando saiu da cidade aos 12 anos para fazer parte da categoria de base do Santos, Lucas Crispim tinha consciência de que estava deixando para trás o conforto e a segurança de casa, mas hoje reconhece que tomou a decisão certa. “Meus amigos e minha família ficaram, mas eu consegui me desenvolver de um jeito que jamais conseguiria se ficasse no DF. Hoje, só volto para Brasília nas férias”, conta o jogador de 20 anos, que desde o início do ano é titular do Vasco.

Falta apoio

No discurso de todos os desistentes, a falta de patrocínio é o maior problema. “Nenhuma empresa se interessa pelo esporte brasiliense. Nos meus 20 anos como técnico, vejo essa história se repetir e a cidade perder seus maiores atletas”, reclama o treinador de natação Hugo Lobo, responsável por revelar nomes como Leonardo de Deus, medalha de prata nesta quinta-feira no Pan-Pacífico de Natação, em Gold Coast, na Austrália. De fato, a cidade tem grandes atletas em Seleções — como Bruno Schmidt (vôlei de praia), Théo Lopes (vôlei), Kaká (futebol) e Ketleyn Quadros (judô) —, mas poucos permanecem na cidade, a exemplo de Hugo Parisi (saltos ornamentais) e Caio Sena (marcha atlética).

Os atletas que querem permanecer no cerrado têm a alternativa de defender equipes de outros estados, como explica o treinador Fabrício Costa. “Treino quatro atletas que nadam pelo Fluminense porque Brasília não oferece nenhum clube com política clara de competição. Eles recebem ajuda de custo lá do Rio e nas competições não carregam o nome de Brasília”, lamenta o técnico, que precisa alugar a piscina para dar aula no clube.

Fonte: Superesportes