Futebol

Lopes pode poupar Morais no clássico contra o Flamengo

Em vez de cabeças confusas e músculos em ordem, o técnico Antônio Lopes encontrou o inverso em seu primeiro dia de trabalho, nesta sexta vez em que comanda o time do Vasco. Em sua apresentação, anteontem, Lopes chegou a dizer que a parte psicológica ia ser tão ou mais importante do que a tática. Mas, após o treinamento em regime de tempo integral, em que decidiu mudar o esquema para o 3-5-2, ele anunciou que Edmundo, muito desgastado, não enfrenta o Bragantino, amanhã, pela Copa do Brasil. E está inclinado a poupar Morais do clássico com o Flamengo, às 16h, no Maracanã. Ele tem dois cartões e, como a partida de domingo é mero amistoso, seria preservado para as semifinais da Taça Rio.

— Senti o time bem emocionalmente.

O Edmundo é que está esgotado. Não teve recuperação plena do desgaste do último jogo e não vai render o ideal. Por isso, fica fora na quinta-feira — disse Lopes, que quer ver Edmundo jogando recuado, como Evair em 1997. — Alan Kardec vai ser o Edmundo de 97 e Edmundo vai ser o Evair.
Edmundo adota elegância e ironia contra Alfredo Concordando que está desgastado, Edmundo considerou certa a teoria de Lopes de tirálo do jogo de amanhã. Só não encampou completamente a idéia de Lopes em relação à repetição do esquema que deu certo em 1997, afirmando que são épocas e equipes diferentes, com aspirações distintas.

— Ele só precisa achar o Edmundo... — concluiu, rindo, uma longa e concorrida entrevista coletiva no estacionamento de São Januário.

Nessa entrevista, Edmundo em alguns momentos foi ironico e respondeu com elegância algumas críticas feitas por Alfredo Sampaio, que botara em sua conta grande parte da responsabilidade por seu pedido de demissão anteontem.

Mostrando surpreendente autocontrole, ele repetiu que estava aprendendo a se conter em situações semelhantes.

— Estou aprendendo a não polemizar nem mesmo nos assuntos mais polêmicos. Agora, desejo o bem a quem me deseja o mal. Não guardo rancor, nem mágoa dele. Não fico remoendo sentimentos ruins. Só acho que essa era a grande oportunidade da vida dele e ele deixou escapar, pois estava dirigindo um time grande como o Vasco — comentou.

Dizendo que vive um momento de paz e que não se sente em condições de pedir muito da vida, Edmundo, que hoje completa 37 anos, era a imagem da tranqüilidade ao falar sobre os problemas que acabaram levando Sampaio a pedir demissão: — Não sei por que ele disparou a metralhadora em cima de mim e do Beto. Nós já estamos acostumados a ser vidraça.

Se ele falasse isso de jogadores de menor expressão, talvez não tivesse repercussão.

Como gerente de um grupo, ele tinha de ter cabeça fria para administrar um grupo com personalidades e pensamentos diferentes. Vou ser elegante, não tenho nada para falar dele. É um bom treinador.

Não estou preocupado com isso.

Minha preocupação é o crescimento do time.

Edmundo vem fazendo acompanhamento psicológico para conter seu temperamento explosivo, daí a razão de sua reação sóbria e tranqüila, apesar das críticas pesadas feitas por seu ex-treinador. Com franqueza, assumiu um dos defeitos apontados por Alfredo.

— Sou mesmo um cara muito complicado. Mas respeito a hierarquia e fiz uma história no futebol. Não subi pisando na cabeça de ninguém — disse Edmundo, que não gosta de ser chamado de Animal. — No começo, o apelido dado por Osmar Santos era positivo. Depois, aconteceram coisas ruins na minha vida e passou a ter conotação dúbia. O que me conforta é que minha família e meus amigos me amam.

Fonte: O Globo