Lopes comenta superstição da camisa verde quando treinava o Vasco
Segundo tempo da partida entre Santa Cruz e Boa Esporte, na Arena Pernambuco, pela Série B do Campeonato Brasileiro. Tranquilo pela vantagem de três gols no placar, o técnico do Cobra Coral, Oliveira Canindé, alterna a mão entre o queixo e a cintura, pensa durante alguns instantes, aponta para os reservas e chama o lateral Nininho. Em poucos segundos, passa instruções sobre posicionamento e manda o atleta para campo no lugar de Tony. Com a substituição efetuada, Canindé quase consegue esboçar um sorriso. A satisfação, contudo, acaba substituída pelo susto no momento seguinte, quando a rotina cai por terra e dá lugar ao improvável.
- Pô, professor. Você tem que me avisar da substituição. Eu tenho que dar a corrida turbinada antes de o jogador entrar. É tradição – brada o massagista Catatau, espécie de amuleto do Santa Cruz.
Para os mais céticos, superstição não ganha jogo. Catatau, no entanto, não se encaixa nessa categoria. A cada partida do Santa Cruz em Pernambuco, no momento da substituição, o massagista dispara em tiros de aproximadamente 100 metros, entre o banco de reservas e o local onde os jogadores aquecem, com o único objetivo de tocar no escolhido pelo técnico para entrar em campo. A corrida turbinada virou um espetáculo à parte. E Catatau garante que ela tem um efeito prático que vai além da festa para o torcedor.
- Faço isso desde quando comecei a trabalhar no Santa Cruz. É um incentivo para os jogadores. Eu corro para passar energia para eles. Tem jogador que vem devagar, em ritmo lento para entrar no jogo. Eu corro, toco nele e o deixo ligado para entrar em campo – conta o massagista, que trabalha no Cobra Coral desde 1998.
- A corrida dá certo. Fiz no Caça Rato, no acesso do Santa Cruz para a Série B, no ano passado, e ele fez o gol. Passa energia. Não acho que seja superstição.
Inspirado na história de Catatau, o GloboEsporte.com reuniu alguns casos de superstição no futebol brasileiro, menos conhecidos que os já clássicos número 13 de Zagallo, o ônibus que não dá ré de Cuca ou o sapo enterrado no Parque São Jorge.
CUECAS E CAMISAS DA SORTE
Escolher uma roupa como amuleto da sorte é uma prática antiga. Diz a lenda que na Copa do Mundo de 1962, ano em que o Brasil conquistou o bi, todos os jornalistas e radialistas eram obrigados a trabalhar com a roupa utilizada no primeiro jogo da Seleção – uma vitória por 2 a 0 sobre o México. Se alguém decidisse ir ao jogo com uma peça diferente daquela que havia sido agraciada pelo destino, acabava impedido de entrar no estádio pelos colegas.
Real ou não, o episódio ganhou versões atuais em que a peça de roupa é quase tão importante quanto o esquema tático e o desempenho técnico dos jogadores. Treinador da Ponte Preta, Guto Ferreira não vai para as partidas da Macaca sem a sua camisa amarela. A roupa possui até estatística própria. Com ela, ele comandou a Ponte Preta na série invicta de 16 jogos no Paulistão de 2013, além de 13 vitórias em 17 jogos da Série B deste ano, campanha que colocou o time paulista na liderança.
- A camisa foi um presente da minha mulher no Natal de 2012. Ela queria algo que eu usasse nos jogos. Então pedi para ela comprar de uma cor que não confundisse tanto com outros clubes. Coincidiu com a campanha de 16 jogos invicto no Paulista. Mas na primeira partida, contra o Mogi Mirim, eu não estava com ela. Comecei a usar na segunda, contra o Corinthians, e vencemos. Depois, vencemos o dérbi contra o Guarani. Aí, o Marcus Vinícius (gerente de futebol da Ponte na época) virou e falou: "Essa camisa dá uma sorte danada, você não pode mais tirar." E aí continuamos a usar. Aquilo foi fortalecendo, a torcida começou a perceber a situação e falar nas redes sociais também. No nosso retorno, a torcida já começou nas redes sociais também: tem que voltar com a camisa amarela. E pedido de torcedor é uma ordem – contou o treinador.
A camisa que Guto Ferreira usa atualmente não é a mesma da série invicta do Paulista. No entanto, a mística segue intocável. Basta ser amarela que vale para dar sorte ao treinador.
- Aquela camisa de 2013 já não estava mais comigo. Passou para um membro da família que veio em dois jogos da Ponte com ela e nós vencemos (risos). Até tentei comprar outra, mas não achei. Então, peguei uma que eu já tinha em casa mesmo. É uma âncora. À medida que falam muito, gera energia positiva. Sempre que você pode contar com uma âncora positiva é válido. Pode ver que contra o Vasco, na minha estreia pela Copa do Brasil, que perdemos, e no empate depois com o Sampaio Corrêa não usei. Comecei a partir da vitória sobre o Bragantino. E agora vai até o fim, só em dias de jogos. Nas viagens, é lavada até no hotel.
O TÍTULO DA CAMISA VERDE
O caso mais célebre em que a roupa se tornou um amuleto talvez seja o de Antônio Lopes. O ex-treinador não se considera um supersticioso. Para ele, trabalho e competência dentro de campo são os principais ingredientes para conseguir bons resultados. Em 1997, contudo, ele abriu uma exceção. Contratado pelo Vasco, era de se esperar que ele utilizasse durante as partidas roupas pretas e brancas, cores tradicionais do clube carioca. Mas Lopes deixou que o verde dominasse o guarda-roupa de São Januário.
- A gente vinha de duas derrotas e um empate. Foi quando usei pela primeira vez a camisa de linho, manga comprida, de cor verde. Se não me falha a memória, foi contra o São Paulo. A gente venceu, e eu resolvi permanecer com a roupa para a partida seguinte. Claro que ela foi lavada (risos). Ganhamos os jogos e fomos tendo uma sequência de vitórias. Continuei usando a camisa e não tirei mais – relembra o ex-técnico, atual gerente de futebol do Atlético-PR.
A camisa de linho verde virou marca registrada de Antônio Lopes no Vasco. Em cada partida, mudavam as peças do time, o adversário, o estádio, o placar. O item de vestuário do treinador, contudo, seguia inalterado. Coincidência ou não, o Vasco chegou até a final do Brasileiro. E, por ironia do destino, Antônio Lopes e sua camisa verde conquistaram o título nacional justamente sobre o Palmeiras, clube conhecido como Verdão.
- A gente foi campeão. E eu com a camisa verde. Virou uma mística, não é?
O HOMEM QUE CHEIRA CHUTEIRAS
Os técnicos apostam no vestuário para ter sorte. O atacante Rafael Oliveira atrai a sorte com os calçados, com um hábito que para alguns pode soar como nojento. O jogador, que recentemente defendeu o Treze na Série C, cheira as próprias chuteiras momentos antes de cada partida.
– Isso é desde o Paysandu. Eu gosto de cheirar a chuteira antes do jogo e rezar um Pai Nosso pensando na minha família. Essa é minha superstição para dar sorte no jogo - revelou o atleta.
Apesar da superstição, Rafael Oliveira não conseguiu atrair boa sorte para o Treze. O time de Campina Grande acabou rebaixado da Série C e precisará disputar a quarta divisão nacional na próxima temporada.
A MANDINGA DAS MOEDAS ALEMÃS
Campeã em cima da Argentina, a Alemanha treinada por Joachim Löw foi para uns o time dos craques Schweinsteiger, Kroos, Müller e Neuer. Para outros, foi o time da simpatia, em que jogadores dançaram com os índios em Santa Cruz Cabrália, aprenderam o “Lepo Lepo” e passearam livremente pelas ruas vestidos com a camisa do Bahia. Poucos sabem, no entanto, que a Alemanha deixou algo além de sorrisos e bom futebol no Brasil. Para ter sucesso na Copa, a equipe europeia apostou na mandinga das moedas, aplicada justamente na terra de Todos os Santos.
Antes da primeira partida pela Copa, contra Portugal, em Salvador, membros da comissão técnica visitaram a Arena Fonte Nova para um reconhecimento de gramado. Apenas voluntários do Mundial estavam no local, e poucos presenciaram a superstição ser colocada em prática. Sete moedas cunhadas em 1954, ano do primeiro título alemão, foram enterradas no campo. A influência da mandinga no desempenho da seleção nunca será comprovada. Fato é que o número 7 dificilmente será esquecido pela Alemanha. E pelo Brasil também.
- Não podemos negar que alguma coisa deu certo - diz o voluntário Adriano Dias, que, logo após a saída dos alemães da Fonte Nova, pegou para si uma das moedas enterradas no gramado do estádio.
Seis permanecem escondidas no campo da Fonte Nova, estádio que, por sorte ou não, foi o palco de várias goleadas durante a Copa do Mundo.
O CLÁSSICO SAL GROSSO
Na lista de mandingas do esporte, usar o sal grosso para afastar o mau-olhado é um clássico. Personagens surgem em crises com o saquinho em mãos e as pedras salgadas atiradas no campo, vestiário ou nas traves. Foi assim no Morumbi, na temporada passada. O São Paulo acumulava 12 jogos sem vencer e ocupava a penúltima colocação na Série A. O poço parecia cada vez mais fundo, até que dois torcedores apareceram para jogar sal grosso na saída do vestiário paulista. Após a simpatia, o Tricolor venceu o Fluminense por 2 a 1, encerrou o incômodo jejum e viu os ventos da sorte soprarem em outra direção.
O sal chegou a permanecer na escadaria do Morumbi por alguns dias. Pessoas do clube afirmaram que a ideia, na época, foi muito bem aceita pelo presidente Juvenal Juvêncio. O técnico Paulo Autuori, entretanto, se mostrou um pouco contrariado.
- Eu, particularmente, não sou supersticioso. Mas o jogador, como ser humano, é suscetível a isso. Mesmo que ele também não acredite, pelo menos vai ver que alguém fez aquilo pensando no bem dele e passará a ter mais confiança em si – disse o advogado Luiz Guilherme, um dos autores da mandinga, dias após a vitória do São Paulo sobre o Fluminense.
Em 2012, o Palmeiras também apelou para o sal grosso. O material foi jogado nas traves do Estádio da Fonte Luminosa, em Araraquara, e o Verdão venceu o Cruzeiro por 2 a 0. O efeito, contudo, não se repetiu nas rodadas seguintes, e o time caiu para a segunda divisão do Brasileirão.
- O Palmeiras fez errado. Jogou na trave, mas no segundo tempo é o outro time que joga ali, não pode. Aqui, foi só no vestiário do São Paulo, e lá fora eu não deixei nenhum torcedor do Fluminense encostar no sal grosso – argumentou Flávio Padovani, outro autor da mandinga do Morumbi.
NÃO É SÓ NO BRASIL
As superstições no futebol não se restringem apenas ao Brasil. Hábitos diferentes costumam ser colocados em prática para atrair a boa sorte em outros países. John Terry, do Chelsea, é um exemplo de atleta extremamente supersticioso. O zagueiro inglês sempre fica no mesmo assento no ônibus, escuta o mesmo CD e estaciona no mesmo lugar no Stamford Bridge. Ele costumava ainda usar a mesma caneleira em todas as partidas, mas perdeu o objeto em um jogo da Liga dos Campeões, em 2005.
- Usei as caneleiras por tanto tempo que pensei "pronto, acabou". Mas Lamps (Frank Lampard) me emprestou uma das suas, e por sorte vencemos (a final da Carling Cup contra o Liverpool em 2005). Agora elas ficaram comigo e são o meu novo amuleto - contou o jogador ao site da Fifa, após perder o item da sorte.
O inglês Gary Lineker é outro com costumes fora do comum. O ex-jogador nunca chutava a bola na direção do gol durante o aquecimento para "não gastar os bons chutes". Se não conseguisse marcar gols no primeiro tempo, ele trocava de camisa para a segunda etapa da partida. Em situações extremas, quando o jejum de gols durava muito tempo, ele apelava para um corte de cabelo na tentativa de atrair a boa sorte.
Em número e estranheza, poucos superam o argentino Carlos Bilardo. O técnico campeão do mundo com seu país em 1986 não permitia que os jogadores comessem carne de galinha por considerar que dava azar, via nos atletas recém-casados a chave do sucesso de suas equipes; e entrava em campo com uma estátua da Virgem Maria. Durante um jogo da fase de grupos da Copa de 1986, o ônibus da delegação quebrou, e os jogadores foram para o estádio de táxi. A Argentina venceu e, desde então, os jogadores passaram a viajar de táxi em todas as partidas até a final. Na Copa de 1990, um casamento foi celebrado no hotel em que a seleção argentina estava hospedada. Os jogadores foram obrigados pelo técnico a interromper a festa e cumprimentar o casal, já que Bilardo acreditava que as noivas davam sorte. No dia seguinte, os argentinos venceram o Brasil.
Outro episódio com Bilardo ocorreu em um passado não tão distante. Em 2003, quando o argentino treinava o Estudiantes, uma mulher brasileira lhe desejou boa sorte antes de um jogo importante. Depois de vencer por 4 a 1, o argentino passou a pedir para dirigentes do clube procurarem a mulher antes de cada jogo. O técnico costumava ligar para a brasileira para garantir que teria sorte.
Com uma longa carreira internacional, o ex-jogador Juninho Pernambucano confirma que o brasileiro não é o único a tentar atrair a sorte antes de cada partida. Juninho conta que não é supersticioso, mas encontrou vários casos em que atletas e técnicos acreditavam que a vitória dentro de campo estava diretamente atrelada a um hábito fora do comum.
- O francês é muito supersticioso. Eu não tinha nenhuma superstição, mas os franceses têm várias. Acreditam que, se fizerem algo de diferente antes da partida, podem perder. Que venceram por causa daquilo que fizeram antes da partida. Gostam de usar o mesmo uniforme de uma vitória, fazer as mesmas coisas que eles acham que atraem boa sorte - disse o ex-jogador, que passou nove anos no Lyon.
Na França, dois hábitos incomuns estiveram presentes na campanha do título mundial de 1998. O capitão Laurent Blanc sempre beijava a careca do goleiro Fabien Barthez por acreditar que atraía sorte nas partidas. O grupo ainda tinha como ritual ouvir a música "I will survive", de Gloria Gaynor, no vestiário, antes de cada partida.
Fonte: geMais lidas
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