Leven Siano dá entrevista ao ge
Primeiro a lançar a candidatura, Leven Siano busca a presidência do Vasco pela primeira vez. O advogado, de 51 anos, é sócio do clube há apenas seis anos, fez carreira no meio marítimo e no futebol teve clientes como Edmundo e o atual vice de futebol José Luis Moreira. Ele diz ter investido cerca de R$ 3 milhões do próprio bolso no projeto “Somamos” e admite colocar seu patrimônio pessoal como garantia para dar o pontapé inicial, caso seja eleito.
- A construção das garantias necessárias passa pelo meu patrimônio também. Inclusive, as pessoas sacanearam muito a questão do Yaya Touré e tudo mais... mas ele só aceitou vir para o Vasco naquela situação que fechamos o contrato e depois ele deu para trás porque ele exige uma garantia. E quem deu a garantia fui eu, com o meu patrimônio. Então, não tenho problema em colocar isso em jogo novamente para ajudar o Vasco pelo menos nesse pontapé inicial – disse Leven.
Leven é o quarto entrevistado na série do ge com os candidatos à presidência do Vasco. De sexta a terça, será publicada uma por dia, sempre no início da manhã. As conversas também são gravadas em áudio.
O senhor se lançou há um ano e meio à presidência do Vasco. O que o levou a essa decisão e por ue fez esse anúncio tão cedo?
Em primeiro lugar, a decisão se dá por eu estar na posição de todos os vascaínos: sofrendo com os resultados esportivos que temos assistido e entendendo que nós temos como colaborar para construir uma política mais saudável e um Vasco com condição mais profissional em sua gestão. Me lancei antes exatamente porque as pessoas não conheciam a gente como político do clube.
Em segundo lugar, como tudo o que acredito na vida pessoal e profissional, é necessário ter planejamento. E planejamento estratégico demanda tempo para construir pois a primeira etapa se busca mapear os problemas existentes para, então, depois, em uma segunda etapa, oferecer soluções. A gente não acreditava ser possível construir um planejamento sério em dois ou três meses. Por isso, o tempo anterior para que as pessoas pudessem saber efetivamente que a gente estava participando dessa construção e efetivamente entregar o planejamento que nós entregamos ontem para todos os vascaínos.
Por que o senhor não vai para o Conselho Deliberativo caso a sua chapa fique em segundo lugar na eleição presidencial?
A minha mensagem para todos os vascaínos é que você não precisa de um cargo para ajudar o Vasco. Esse tem sido um grande problema da política do Vasco nos últimos tempos. As pessoas consideram mais importante ter um cargo e um crachá do que pensar no Vasco. Eu vou estar sempre disposto a ajudar o Vasco e não preciso de cargo para isso. Não é meu interesse participar dessa política do Vasco. Me lançar como candidato é uma tentativa de ajudar o clube a se recuperar. E não uma construção política.
Então, acho que isso tem uma mensagem muito significativa. Se você quer ajudar o Vasco, o Vasco tem de estar acima de ambições pessoais.
Na chapa do senhor, entre os 30 primeiros, estão diversos nomes do grupo político Fuzarca, ex-Casaca, além de outros do Identidade Vasco, que na última eleição eram contra o Eurico, mas depois se juntaram. Como será o eventual governo com essas diferenças? Qual a cara da gestão?
Cara de uma empresa. A nossa gestão não vai ser feita por pessoas que integram o Conselho. A nossa gestão vai ser feita por 12 executivos remunerados de mercado. Entre eles, um que foi diretor financeiro do Barcelona, outro que foi diretor executivo do Manchester City, outro que trabalhou no marketing como diretor de vendas das Casas Benfica, outro que é um grande empresário do futebol italiano e grandes empresários brasileiros. São executivos como Elton Simões, que dirigiu o SporTV por 10 anos, então, tem muita competência para desenvolver algo relacionado às mídias do Vasco.
Temos o Luis Paulo Rosemberg, um vitorioso diretor de marketing do Corinthians e um dos maiores economistas do país. Temos Augusto Tannure, que é diretor do Grupo Abril. Ele comprou, então, é diretor de várias revistas importantes que conhecemos e são lidas por quiçá milhões de brasileiros. E temos ainda o Nilton Maia, que já foi diretor de marketing do Botafogo, do Vitória e do Bahia. Foi também diretor financeiro do Flamengo.
Então, é preciso separar bastante a composição do Conselho, que é uma composição política para dar governabilidade à gestão da gestão propriamente dita, que será executada por executivos e não por políticos voluntários. Esse tipo de modelo já se comprovou não dar certo. Então, nesse tema particular, a gente terá uma gestão semelhante à do rival: executada por executivos remunerados que têm competência comprovada no mundo do futebol.
Tenho que que dizer ainda que a nossa composição no Conselho é a mais democrática de todas. Nós temos um Conselho formado por 11 grupos políticos que aceitaram colocar um projeto para o Vasco acima das suas ambições de grupos. Nenhuma outra chapa tem uma composição formada por 11 grupos políticos. Além disso, temos um sem número de vascaínos que não pertenciam a grupo nenhum. O que também é uma novidade na nossa chapa, que tem ainda o maior número de negros. A gente abriu essa condição de diversidade para que a gente pudesse ter efetivamente um discurso político aliado à realidade de que somos um clube que luta contra o preconceito. O projeto Somamos quer dar uma cara de inclusão social e diversidade ao clube.
Como o senhor vai planejar os custos desses executivos todos? Muitos deles são de fora do país...
Olha, 35% a 40% desse custo o Vasco tem hoje com consultorias jurídicas e financeiras que não demonstraram resultado eficiente. Ou seja, uma parte desse custo o Vasco já tem em um outro formado. E 2/3 desses custos equivaleria a dois jogadores medianos. No futebol, a gente se acostumou a ver jogadores altamente remunerados e uma despreocupação em você remunerar bem a sua equipe de gestão. Isso faz com que a bola não entre. A gente quer dar um equilíbrio maior entre a área do futebol e os atletas, que evidentemente são o carro chefe, mas a gente pode investir em gestão também. Isso dá equilíbrio para ter o backstage funcionando bem. A gente não acredita que um clube de futebol consiga superar os seus desafios, como o Vasco tem, sem uma equipe competente e dedicada.
Nenhuma das outras chapas, na verdade, apresenta uma equipe. As outras chapas trabalham no modelo obsoleto e ultrapassado que o Vasco vive há décadas. Ou seja, de apostar que pessoas voluntárias, por melhor que sejam, mas sem exclusividade de tempo e dedicação, poderão dar jeito no Vasco. Isso já de comprovou que não dá certo. A gente tem de parar de achar que pessoas que não têm tempo, que não estão no ápice da sua vida produtiva, que vão usar o Vasco como roda e segundo emprego vão dar jeito no clube. A gente não acha que isso é possível. O Vasco precisa de dedicação. E a dedicação tem de ser no mais alto nível da gestão. Gente remunerada se dedicando ao clube. Nenhuma outra chapa tem isso. Somos a única chapa que apresentou nomes de executivos para efetivamente estarem dentro do clube tocando a governança.
O senhor, então, também se dedicaria exclusivamente ao Vasco?
Eu já estou fixo há dois anos. Na verdade, o ano que vem não será o primeiro ano da minha gestão. Será uma continuidade. Já me dedico exclusivamente ao Vasco há dois anos para a construção deste planejamento estratégico. Eu tenho disponibilidade financeira e, inclusive, apresentei meu IR, que está aberto para quem quiser conhecê-lo. Duvido que os outros candidatos o façam. Eu tenho condição financeira, ganho muito bem a remuneração em termos de pro-labore. É bastante alta para os padrões brasileiros. Eu vou continuar a ter essa remuneração e não preciso de nenhum centavo do clube. Vou continuar me dedicando exclusivamente.
Fuzarca, grupo de apoio a Eurico Miranda, e Identidade Vasco, de Roberto Monteiro, integram a composição da sua chapa e têm rejeição da torcida. Como se faz para o novo vencer o velho dentro de uma composição como essa?
Essa ideia é equivocada. O novo não tem de vencer o velho, o novo tem de se harmonizar com o velho. A gente quer um Vasco moderno, mas que respeite as suas tradições. Essas pessoas estarão no Vasco ganhe quem quiser. A maior parte das pessoas que têm rejeição são beneméritos, estarão lá de forma vitalícia. Não adianta vencer a eleição com discurso de antagonismo. Esse antagonismo te cobra a conta na governabilidade. Então, a gente precisa de uma governança que seja capaz de implementar um projeto.
Para isso, convidamos não só os grupos que você citou, mas todos. Tanto é que na nossa base de apoio temos 11 grupos políticos. Ninguém tem isso, nenhuma outra chapa conseguiu reunir isso. A Sempre Vasco estaria na minha chapa pois ela foi convidada. A Mais Vasco também. Aqueles que quiseram conhecer o projeto e entenderam que era o momento de dar uma trégua para se implementar um projeto acima de interesses de grupos, vieram. Aqueles que entenderam que os grupos políticos são mais importantes do que um projeto para o Vasco, não vieram. O convite foi feito para todos.
Então, a gente está seguro de que a gente tem condição não só de vencer a eleição e principalmente ter condição de implementar um projeto de mudança do Vasco. O objetivo maior não é ganhar a eleição, é implementar o projeto. E isso a gente só consegue harmonizando o novo com o velho.
Essas pessoas estarão lá, esses grupos estarão lá. Eu prefiro tê-los empenhados em ajudar do que em sabotar. Quem tem discurso de antagonismo dificilmente conseguirá sair desse ciclo. Ele vale para os dois lados. Se antagoniza hoje, será antagonizado quando entrar. E aí o Vasco não sai da crise política. É estratégico fazer uma mudança de equilíbrio e de pacificação.
A passagem da Identidade Vasco pela atual gestão durou quatro meses, e o presidente Campello também tinha um discurso de aglutinar forças. Como o presidente do clube evita eventuais saídas precoces que podem afetar a governabilidade?
A diferença é que, no passado, as composições foram meramente políticas. A composição que eu propus a todos foi em torno de um projeto para o Vasco. Essa é a grande diferença da nossa candidatura. Nós temos um projeto real. Um projeto que foi testado e viabilizado matematicamente através de uma série de análises de viabilidade financeira e econômica. Então, nós temos um projeto consistente, e as pessoas estão aliadas a esse projeto. Meu compromisso com elas é que elas seriam conselheiras desde que elas estivessem dispostas a cumprir a implementação do projeto.
Se eu, o presidente, me afastar dos ditames desse projeto, elas deveriam votar contra mim. Então, a aliança não é política. Ela é pragmaticamente construída em cima de uma ideologia, digamos assim, muito prática de implementação de um projeto que é conhecido por todos anteriormente, o que é coisa inédita no Vasco.
A aliança, é claro que do ponto de vista do Conselho, não se pode dizer que não é política. É uma política comprometida com o projeto conhecido por todos. Esse é o compromisso que uniu todos. Por isso, tivemos capilaridade com grupos tão diferentes. Os opositores estão muito apegados à questão da Identidade Vasco e do Fuzarca, mas eles não falam do MUV (Movimento Unido Vascaíno). Eles não falam que temos na nossa base de apoio diversos ex-vices do Campello. Então, nós conseguimos um fato inédito: colocar nas nossas fileiras simpatizantes do Eurico, da Era do Roberto e da gestão do Campello.
Nós conseguimos fazer uma construção inédita na política do Vasco. Colocamos nas mesmas fileiras pessoas que eram altamente anti-Eurico como o senhor Hercules Figueiredo e o Luis Manuel, que é conhecido da base do Eurico. Então, nós conseguimos fazer esse movimento para tentar diminuir esse tumulto político que mais atrapalha do que ajuda.
O senhor anunciou três executivos estrangeiros, Fabio Cordella, Francisco Lopez e João Guimarães Rodrigues. Eles virão para o Brasil ou trabalharão à distância? Como familiarizá-los com um clube que pouco conhecem até então?
Vou te responder em duas etapas. Com relação à questão individual de cada um, cada um tem uma missão. A missão do João Rodrigues, que vem do Benfica, é de estruturar os projetos da Casa Vasco. Isso faz com que ele tenha aqui um parceiro, que é o Sergio Lira, que eu também anunciei. Ele é um grande especialista em estruturação de franquias, o cara, por exemplo, estruturou franquias para 15grandes empresas no Brasil, entre elas a WalMart. Foi ele quem trouxe para o Brasil. Então, a gente vai juntar a expertise do Lira no mercado interno com a do João Rodrigues, que construiu 248 Casas Benfica. Ele vem para ficar, está vendo endereço, tem salário acertado. Ele se muda para o Brasil, pelo menos, na estruturação do projeto, que deve levar de um a dois anos. Vai estar aqui para gente.
O italiano, o Fabio Cordella, vem para ser um assessor internacional do nosso diretor de futebol. Ele não é o nosso diretor de futebol. O nosso diretor de futebol é uma pessoa muito importante do cenário do futebol mundial, que nós não podemos anunciar ainda por uma questão de compromissos estratégicos. Sim, está certo e fechado, mas eu não posso dizer quem é esse grande nome. Se eu falar muita coisa, vocês vão descobrir. Vocês são malandros, espertos. É um grande nome que abre porta no mundo todo. Fabio vem para fazer as pontes, ele tem várias. Ele trouxe recentemente o Roberto Mancini para nos dar um alô na campanha. Fabio vai trabalhar no viés internacional, de buscar oportunidades de jogadores europeus no Vasco, de vender nossos jogadores. É um cara de transição. Vai estar aqui uma ou duas semanas, aí volta para a Itália. Depois volta. É a natureza do trabalho dele.
O Francisco vem para fazer uma grande inauguração. Quando você tem um novo grande hotel, você pega os melhores gestores do mundo e coloca em uma equipe de inauguração. O Francisco tem três missões, na verdade. A primeira é ele ser um grande conselheiro da nossa equipe de gestão. Ou seja, ele vem aqui inaugurar a gestão, deve ficar aqui um tempo razoável de alguns meses implementando. E depois ele tem duas missões a cumprir: desenvolver o Vasco International, que é de internacionalização da marca Vasco, a sede será em Londres, e desbravar mercados na China para o Vasco. Então, isso poderá fazer com que ele esteja mais em Londres do que no Rio em função da natureza do trabalho.
Com relação à questão de não conhecerem os detalhes do Vasco, os outros executivos também não conhecem. Então, para isso, eu defini, o formato da gestão é híbrido. A gente não vai pular do voluntariado total para o profissionalismo total. O nosso desenho, está no projeto Somamos, é só acessar o site www.projetosomamos.com.br, baixar e ler. Tem um capítulo dedicado ao organograma funcional. Nele, a gente coloca a equipe executiva de um lado e a equipe voluntária, com os vices, de outro.
Não há hierarquia. Isso é importante: o executivo não está subordinado ao vice-presidente. Há uma linha pontilhada, de comunicação, justamente para o vice conseguir fazer o executivo entender as histórias, as tradições, as emoções, os meandros, as dificuldades. Então, o vice terá esse papel de fazer o cara aterrissar na realidade vascaína. Aquilo que a gente quer construir é um Vasco diferente do que tentaram fazer os nossos opositores. É antagonizar.
A gente não quer fazer como o Julio fez de meter o pé na porta do Conselho e sair atirando para todos os lados. A gente quer dizer que as pessoas têm de ter consciência de que o Vasco precisa de uma mudança. Mas essa mudança será feita também com a ajuda dessas pessoas aos executivos a entender um pouco melhor do que é o Vasco. Dentro disso, entendemos que o melhor modelo possível de transição é o híbrido, no qual você não tem hierarquia, mas tem uma cadeia de comunicação com os vices. O organograma está bem desenhado.
São 179 páginas de projeto e, por toda essa grandiosidade, sua campanha acaba por ser muito falada. Algumas pessoas acham que está fora da realidade. Por favor, comente isso.
O homem é do tamanho do seu sonho. Quando eu tinha, 16 anos dormia no chão de um conjugado da minha avó que ficava no Centro da cidade. Rodeado de baratas e ratos. Estudava para o Vestibular no corredor do prédio pois ela não conseguia pagar a luz. Jamais poderia imaginar que iria me tornar milionário através do meu trabalho e dos meus estudos. Acredito que a gente enxerga o horizonte que nos compete.
Acho que o vascaíno se apequenou e achou que o Vasco é pequeno. O Vasco não é pequeno. Qualquer instituição que consegue conectar 20 milhões de pessoas com o mesmo interesse é gigante. Ela só precisa ser organizada. Tudo o que estamos falando é possível e validado por executivos milionários e com credibilidade fora do comum. Não há o que se falar deles. Todos têm experiência e sucesso comprovados nas suas vidas profissionais. Eles jamais estariam colocando a cara se o projeto não fosse viável. Infelizmente, o vascaíno, ou melhor, uma parte do vascaíno faz esse tipo de crítica. Isso foi mais lá atrás. Hoje, a percepção que a gente tem é de ter a esmagadora maioria da torcida com a gente.
No canal no YouTube, em 40 dias, temos 21 mil inscritos. As nossas lives têm batido 3,2 mil, 3,5 mil ou 3,8 mil pessoas assistindo simultaneamente. O nosso adversário Julio fez uma transmissão (na quinta) e tinham 200. Mais de dez vezes menos do que a gente tem. O canal deles está há anos no ar e eles têm menos da metade de inscritos. Se você pegar a Mais Vasco, então, é uma piada a popularidade deles. Eles não devem ter 2 mil inscritos no canal deles.
Há dois aspectos aí. Houve um período de desconfiança, no qual se falava que não era possível ser verdade. E à medida que nós fomos trazendo os executivos e fomos dando materialidade aos projetos, que grandes firmas de arquitetura do Brasil e do mundo foram apresentadas... Você pode ver que em todas as lives que a gente fez, a gente não trouxe um gerente. A gente trouxe o CEO das empresas. Quando faz a apresentação da Populus, é o CEO. Da Scenick, é com o CEO. Nenhuma outra chapa trouxe isso.
A Sempre Vasco diz que conseguiu uma parceria com a Media Pro. Aí vem um executivo do Brasil, que é a filial da filial. A terceira categoria da empresa. A gente traz o número 1 de todas as empresas para colocar a cara. Com a materialidade, caiu a ficha das pessoas. Cacete, eles passaram a ver que era verdade. Isso é possível. A gente foi ganhando a confiança do vascaíno. Ainda têm os que não acreditam no potencial do Vasco por pura ignorância ou por sofrimento dos últimos anos. Isso dificulta a visão no final do túnel. E tem ainda quem tem interesse no caos. É nele que se vende um jogador abaixo do mercado e tem boa desculpa, você pode pegar empréstimo com juros acima do mercado e ter uma boa desculpa. O caos interessa a quem tem vontade de fazer diferente de uma conduta ilibada.
Vice de futebol tem nome já? Pode revelar?
Tenho algumas opções, mas é um quadro difícil dentro do Vasco. O que posso dizer com certeza absoluta é que não será o Euriquinho.
Seu programa chama atenção pela grandiosidade em um clube em situação financeira precária como o Vasco. Adversários falam em pirotecnia, por exemplo. Como achar os recursos para colocar tudo isso em prática?
Em primeiro lugar, a ideia não é minha. É do Ferran Soriano. Foi isso que eles fizeram no Barcelona. Em 2003, eles viviam a mesma situação que o Vasco vive. E o Barcelona teve uma discussão interna se deveria fazer o que eles chamaram lá de revolução ou evolução. Isso está no livro “A bola não entra por acaso”. O Francisco Lopes, por acaso, era o CFO, o diretor financeiro. Eles entenderam que uma marca como o Barcelona não poderia passar mais 10 ou 20 anos para se recuperar sob pena de perder popularidade e mercado.
É a mesma percepção com o Vasco. O Vasco não é uma empresa, onde cabem dentro de um setor várias outras e se pode pensar em uma evolução mais demorada, com austeridade. Agora, um clube como o Vasco, com torcedores que são o cliente. Qual a finalidade do Vasco? Para o que ele existe? É satisfazer os seus clientes.
O vascaíno não quer comemorar superávit. Pergunte a ele. Ele quer título. A gente tem de encontrar um formato com austeridade, mas dentro de uma viabilidade de atrair investimentos capazes de entregar a demanda do cliente. A demanda do nosso cliente é um Vasco campeão.
O torcedor quer um clube organizado, claro, mas ele quer ver esse clube disputar título. A verdadeira solução não é disputar para não cair e aí arrumar a casa. Esse discurso, com todo o respeito, é igual aos últimos 20 anos. Quando o Salgado diz que daqui a três anos vai dobrar a receita, isso foi dito pelo Campello também. Que também foi dito pelo Eurico e que também foi dito pelo Roberto. E a gente está há 20 anos na merda, entendeu? Então, a gente precisava encontrar a solução estratégica e financeira.
Repito: se fosse pirotecnia não estaria validado por um Augusto Tannure. Não existe um profissional no Brasil mais capaz do que ele em termos de reestruturação financeira. A especialidade da empresa dele é comprar empresas que tiveram estresse financeiro, dar uma gestão profissional e vender elas recuperando seus ativos. Eles já compraram Americanas, Casa&Video, Leader e agora recentemente a Editora Abril. Um profissional como ele não estaria validando esse projeto se ele não entendesse ser possível.
Não tem nada de pirotecnia. O que tem é captação de recurso no Exterior. Ninguém levanta a bunda da cadeira para fazer o que eu fiz: viajar por 40 dias ao Exterior para buscar soluções para o Vasco. Nenhum desses políticos do Vasco, desses candidatos que estão aí, colocou a mão no bolso como eu fiz para construir projetos para o Vasco. Eu gastei nesses projetos R$ 3 milhões para construir algo palpável para o Vasco. Nada vem de graça. É muito fácil falar que não tem jeito, sem botar a mão no bolso. Sem sair do conforto da casa e viajar para buscar soluções. Como a gente fez isso tudo e a gente trouxe os parceiros, a gente não acha. A gente tem certeza absoluta que vai realizar o Vasco muito forte.
A solução financeira a gente já encontrou: temos opções financeiras a um custo mais barato do que o Vasco tem feito. O Vasco toma empréstimos a 17% ao ano, a 22% ao ano. A gente encontrou opções financeiras ao Vasco que vão desde 0,5% a 6,75%. Por exemplo: a mais barata foi confirmada em uma live que fizemos com o CEO da Scenick através de um subsídio do governo sueco para exportação de serviços de construção civil. Eles têm lá uma espécie de BNDES que fornece subsídio a construção civil que tenham sustentabilidade ambiental e social. A gente encaixou o projeto de São Januário nessa pegada, o que seria muito mais barato do que qualquer financiamento a ser feito no Brasil.
Mas como captar recursos, então? O Vasco hoje tem apenas a 11ª maior arrecadação da Série A, com R$ 215 milhões. Por que o time com a quinta maior torcida do país está tão longe do seu potencial em arrecadação?
São duas coisas diferentes. A gente tem um projeto de crescimento de receita, mas isso não se faz da noite para o dia. Então, precisa de um financiamento para esse crescimento. O nosso modelo de negócio... A gente propõe uma ruptura nesse modelo obsoleto. Explico: a maior parte do futebol brasileiro ainda entende que dentro de um ecossistema de receita a principal tem de vir do futebol.
E não é só a venda de jogador, é a TV, material esportivo, patrocinador e tudo isso. A gente quer romper isso e passar a seguir a estreia das maiores empresas que dão certo hoje, as empresas mergulhadas na economia digital. Quando você olha para Facebook, Amazoon, Google, Ebay, Instagram, Microsoft... Essas empresas estão bombando. A pandemia intensificou isso ainda mais.
O modelo de negócio que vai dar certo para o Vasco é mergulhar esse clube na economia digital. A principal fonte de receita tem de ser entregas virtuais que a gente faça para os nossos torcedores. Esse é o pulo do gato que queremos fazer. Além de outros projetos, como os de revitalização das sedes, transformar São Januário para captar receita 365 dias por ano e não somente nas partidas. Há uma quantidade enorme de projetos para alavancar receitas em um período de 12 a 24 meses. Não é da noite para o dia.
Para investir na infraestrutura necessária para fazer essas entregas que aumentarão as nossas receitas, a gente precisa de um investimento inicial. O modelo de negócio que o Somamos projeta é ter um investimento inicial: reestruturar a dívida, criar fluxo de caixa, capital de giro e possibilitar investimento nesses novos negócios que gerarão novas receitas. É uma combinação de um esforço de crescimento.
Ninguém vai chegar lá com uma varinha e fazer a mágica de aumentar a receita. É um processo. A gente precisa do investimento inicial para mudar. Ele vem das captações que exigem uma série de posturas e documentos que o Vasco nunca teve. Existem US$ 15 trilhões no mundo disponíveis para projetos. Mas você tem de ter projeto. As pessoas querem conseguir dinheiro para o clube simplesmente batendo na porta sem ter nada para entregar. Então, a gente tem o projeto, mas precisa de outros documentos necessários. O investidor quer um plano de negócios, a gente tem. Ele quer que esse plano de negócios demonstre para que você quer o dinheiro. A gente tem. Ele quer que você comprove a sua capacidade de pagamento. A gente tem.
O investidor quer que demonstre matematicamente como vai pagar. E a gente tem. A gente trouxe o Nilton Leão para a equipe executiva. Com outros economistas, ele modelou financeiramente o Vasco desde 2016 até 2035. E, com isso, a gente conseguiu opções de soluções financeiras que estariam indisponíveis ao Vasco e qualquer outra instituição sem essa documentação. Tem um fundo americano, que estamos conversando, foi oferecido ao Vasco. Pergunta ao fundo se o Vasco conseguiu apresentar um projeto, um plano de negócios, comprovação de capacidade de pagamento e modelagem financeira. Só essa modelagem são 17 planilhas com milhares de linhas. Até 2035. Ninguém tem isso, a gente construiu isso no projeto Somamos.
Em seu programa, o senhor diz que com aproximadamente US$ 60 milhões voltados para o pagamento de dívidas, o Vasco poderá efetivamente emergir de sua atual crise de fluxo de caixa e administrar as necessidades futuras com o fluxo de caixa das operações. De onde vai tirar os 60 milhões de dólares? Como vai trabalhar para não atrasar salários? Quais planos na área financeira e de equacionamento da dívida?
O salário não está em dia pois o Vasco não tem giro. Quando o Vasco tiver capital de giro, o salário vai estar em dia. O salário é consequência de um problema, que é não ter fluxo de caixa. Então, esse dinheiro que vamos captar é para reestruturar a dívida. Não é pagar a dívida toda, mas trocar as dívidas de curto prazo, batem à porta e penhoram tudo por uma dívida de longo prazo. Com isso, libera o caixa. E, dentro do caixa, se paga a dívida e as obrigações mensais, entre elas o salário.
O Vasco não tem jeito hoje sem aporte inicial de dinheiro. Você precisa obrigatoriamente de conseguir esse dinheiro nacional. Ele pode vir de venda de capital, ou seja, você vende cotas para o mercado ou esse dinheiro vem de tomada de empréstimo e financiamento. A gente optou pela tomada de financiamento internacional porque o dólar está muito alto, tem muita opção lá fora. Eu consegui parceiros que vão estruturar as garantias para o Vasco. Os US$ 60 milhões vem de alguma opção que vamos fazer entre as várias que temos estudado. A garantia é sempre uma carta de crédito depositada no banco em favor de quem está dando o dinheiro. Os fundos são conservadores, eles não trabalham com jogadores de futebol. O que tem de apresentar ao investidor é uma SLBC (Standby letter of credit). Uma carata de crédito que ele possa executar a hora que ele qu.
Você diz que colocou R$ 3 milhões na campanha. Se você entrar no Vasco, no dia seguinte vai ter que lidar com salários atrasados. E essa captação que você se refere não é do dia para a noite. Como você resolveria isso? Você cogita fazer como Paulo Nobre fez, colocar dinheiro no clube?
A construção das garantias necessárias passa pelo meu patrimônio também. Inclusive, as pessoas sacanearam muito a questão do Yaya Toure e tudo mais... mas ele só aceitou vir para o Vasco naquela situação que fechamos o contrato e depois ele deu para trás porque ele exige uma garantia. E quem deu a garantia fui eu, com o meu patrimônio. Então, não tenho problema em colocar isso em jogo novamente para ajudar pelo menos nesse pontapé inicial.
O grande problema é o pontapé inicial. Vamos pegar os recursos fatiados. Não adianta pegar um mundo de dinheiro pois aí não se reestrutura a dívida com qualidade. Se o credor sabe que você tem muito, ele não te dá desconto. Se o credor sabe que você está em dificuldade, a chance de conseguir um desconto melhor é maior. Teremos um cronograma financeiro para isso.
O senhor faria algo diferente na negociação com o Yaya?
Faria. Acho que foi muito antecipado. Acho que o Fabio se empolgou. E também fui sacaneado. O Yaya... o caráter não está em todos. Uns tem, outros não. O cara usou a gente para melhorar a situação dele com o Botafogo, usou o Botafogo para melhorar a situação dele com a gente. E, no final das contas, não quis ninguém. É complicado, aí coloca na conta da mulher. Eu não faria de novo. Tem outros jogadores que estamos conversando, jogadores importantes e que eu não anuncio mais. Aprendi. Vamos ganhar a eleição, trazer os recursos e reforçar quando necessário.
Muitos o criticam por já ter "causado prejuízos" ao Vasco em ações representadas pelo senhor contra o clube. O que pensa disso?
Isso aí é brincadeira. Abre a Constituição da República. Lá, tem um dispositivo que diz que o advogado é indispensável na administração da Justiça. Eu não tenho ação nenhuma contra o Vasco. A Sempre Vasco coloca como conselheiro o Alan Belanciano, e ele tem ação de R$ 600 mil contra o Vasco. O Salgado é candidato e é credor do Vasco. Se ele ganha a eleição, ele está em um dilema no qual ele tem de assinar um cheque para ele mesmo. Qual o conflito que eu tenho?
Isso é uma coisa do passado. A última ação que eu tive foi de 2011. Eu virei sócio do Vasco em 2014 e me candidato em 2020. E as pessoas querem falar disso? Tem de falar para essas pessoas o quanto ganha um advogado marítimo. A minha remuneração é US$ 420 por hora. Então, não foi no futebol que eu consegui enriquecer. O futebol para mim foi um favor que fiz a alguns amigos que tinham problemas a serem resolvidos e representa 0,1% da minha vida produtiva. Não representa nada.
Eu convenci o Edmundo que tinha R$ 14 milhões a receber do Vasco. Ele aceitou R$ 2,4 milhões. E, dentro dessa proporcionalidade, eu tinha direito a 20%. Então, é só ver quanto eu trabalhei para o Vasco mesmo estando com o atleta. Vê os exemplos das outras chapas, o próprio Edmundo está lá na Sempre Vasco. Ele era o autor da ação, nunca tive ação contra o Vasco.
Na minha vida, sempre que pude ajudei o Vasco. Mesmo sendo advogado da parte contrária. Uma vez tive uma reunião com um desses grupos políticos que hoje me apoia, estava presente o Anibal Rouxinol, que tinha sido do Jurídico na época do Roberto, e ele atestou na frente de todo mundo quantas vezes ajudei o Vasco postergando prazos e dando descontos. Deixando de executar e penhorar. Então, a atuação do advogado precisa ser respeitada. Você está cobrando algo justo que não foi pago. O dinheiro não é do Vasco, é de quem trabalhou e não recebeu. E ele que me dava um percentual. Isso chega a ser ridículo.
Planos para CTs? São Januário e Maracanã?
O CT nós vamos terminar. Tudo que é bom deve ter continuidade, e isso foi algo bom do Campello.
São Januário: nós temos dois projetos. Um é espetacular em termos de design, que é se inspirando na caravela São Gabriel. Vamos ver se a gente consegue levar adiante e aproveitar o financiamento do governo sueco para realizar o grande sonho de entregar em 2024 um estádio em forma de caravela para homenagear os 500 anos da morte de Vasco da Gama.
Esse projeto prevê desapropriação?
Não, é tudo dentro do nosso terreno. Inclusive a Barreira está nos apoiando, nós vamos fazer entregas de oportunidades a eles. Educação, o colégio vai aumentar para 600 crianças, vamos dar oportunidade de renda.
Maracanã?
O Vasco precisa ter representatividade institucional. Se nós formos levar adiante a reforma de São Januário, vamos precisar do Maracanã por três anos. O governo tem de entender que somos Vasco.
Vamos ter condição boa de conversar com eles. No nosso projeto, o Luis Manuel é bom nisso. Foi coordenador na Copa. O Vasco não pode ficar fora do Maracanã porque o Flamengo e o Fluminense querem. Dá licença. O estádio é público, para todos. Enquanto eu estiver construindo, preciso do Maracanã. Depois, até por plano de fidelidade, a nossa obrigação é jogar em São Januário.
Programa de sócios com plano gratuito e por qual motivo e contrário ao voto online agora?
A adesão gratuita é no nível de entrada. Você traz para dentro e monetiza indiretamente a base de dados. Hoje a maior riqueza é a base de dados. A condição é desde que ele autorize o tratamento do dado. Se você tem base de dados de 500 mil a 1 milhão, você tem tesouro. Chega para uma casa de apostas, diz que tem 1 milhão de pessoas e oferece publicidade. Essa gratuidade para o cliente, mas para o Vasco é fonte de renda.
Sou totalmente a favor do voto online, mas não nessa situação na qual o eleitor não foi preparado. Nós temos 35% do nosso colégio eleitoral que não tem e-mail válido. O clube e o eleitor têm de ser preparados para isso. Tem gente que é sócio e é de comunidade, não tem smartfone e computador.
A gente está no Brasil, gente. No Brasil, 60 milhões de pessoas não têm conta corrente. O que dirá um computador. A gente tem de pensar em todos. Fazer online a ferro e fogo não amplia o colégio eleitoral, você restringe. Tem de ter essa construção com o tempo, com locais estratégicos para quem não tem a condição conseguir votar. Não se pode confundir ser a favor de votação online com tocar isso a ferro e fogo. A pandemia começou em março. Se o interesse do Mussa fosse esse, ele teria de ter começado a preparar todos lá em março. Aí, talvez desse tempo de fazer um reconhecimento facial, por biometria, certificação, estações de votação para quem não tem os equipamentos. Isso que ele está fazendo é um confronto a maior parte dos vascaínos. E exclusivamente por uma razão: sabem que vão perder a eleição. Então, mais uma vez, querem manipular.
Direito a voto do sócio-torcedor?
Totalmente a favor.
Reforma do estatuto?
A favor. Não tem como ir para frente sem reforma. Muita coisa que tinha ali era boa, mas pode melhorar.
Defina o senhor e seus concorrentes.
Leven Siano: Entregou.
Alexandre Campello: Tentou.
Jorge Salgado: Está parado no lugar errado.
Julio Brant: a maior mentira da história política do Vasco.
Sergio Frias: Teimoso.
Recado final ao torcedor?
Estamos emanados em fazer um Vasco grande. A gente precisa atender a vontade do nosso torcedor que é, sim, fazer o Vasco se recuperar financeiramente, mas entregando possibilidade de conquistar títulos. Esse é o Vasco que a gente acredita, que o torcedor vai abraçar.
Fonte: ge