Letra, origem e história da música do hino do Vasco
Dono da quinta maior torcida do Brasil, o Vasco acumula inúmeras glórias em seus mais de 100 anos de existência. A dimensão das conquistas domésticas e internacionais espalhou a paixão pelo Cruzmaltino no território nacional, fazendo com que seu hino se tornasse um dos mais famosos do país; conheça a história.
Veja a letra do hino do Vasco:
Vamos todos cantar de coração
A Cruz de Malta é o meu pendão
Tu tens o nome do heroico português
Vasco da Gama, a tua fama assim se fez
Tua imensa torcida é bem feliz
Norte-Sul, Norte-Sul deste Brasil
Tua estrela, na terra a brilhar
Ilumina o mar
No atletismo, és um braço
No remo, és imortal
No futebol, és um traço
De união Brasil-Portugal
Origem
Quem olha para os números tende a estranhar: o Vasco surgiu em 1898, mas seu hino foi composto somente na metade do século seguinte. Parece difícil acreditar que um dos clubes mais importantes do Brasil teria permanecido por cerca de cinco décadas sem um canto que representasse a instituição, mas não foi o que aconteceu.
Nesse período, o cruzmaltino contava com dois hinos oficiais. O primeiro a ecoar entre membros e fãs foi o “Hino Triunfal do Vasco da Gama”, composto por Joaquim Barros Ferreira da Silva, em 1918, data que marca o aniversário de 20 anos da entidade.
Cerca de 24 anos depois, nasceu o cântico “Meu Pavilhão”, resultado de uma colaboração entre João de Freitas e Ernani Corrêa para um concurso musical organizado conjuntamente pelo clube e a Legião da Vitória, uniformizada do Vasco daquele tempo.
Curiosamente, “Meu Pavilhão” não venceu o certame. A obra de Freitas e Corrêa ficou na segunda posição, mas isso foi suficiente para conseguir um dos lados do vinil gravado após o fim da competição e ela acabou ganhando mais adesão na comunidade vascaína do que a medalhista de ouro da disputa.
Nenhuma das canções, no entanto, conseguiu disputar com a composição de Lamartine Babo, ícone da música popular brasileira e uma das maiores referências quando se fala em marchinhas de Carnaval.
Em 1949, o artista criou o que era, naquele momento, a "Marcha do Vasco". A maioria das versões sobre o ocorrido indicam que a iniciativa surgiu a partir do Trem da Alegria, famoso programa de auditório da época no qual o carioca fazia parte do trio de apresentadores, ao lado do casal Héber de Bôscoli e Yara Salles.
De acordo com relatos, a dinâmica teria sido, na verdade, mais complexa do que escrever apenas para o cruzmaltino. Lalá — como era conhecido — precisaria compor para todos os clubes do Campeonato Carioca de 1949, exceto aqueles para os quais já o havia feito, isto é, Flamengo e América, seu time do coração.
No total, eram nove canções a serem desenvolvidas. Pode parecer muito para alguns, mas o escritor entregou todas elas dentro de alguns meses e teve resultado excelente no desafio, pois dessa leva de letras surgiram clássicos do esporte nacional.
Independente se a história sobre o ponto de partida para as criações de Babo procede ou não, fato é que elas foram aproveitadas pela gravadora Continental no ano seguinte. A empresa lançou, no contexto da Copa do Mundo de 1950, disputada no Brasil, a coletânea "Futebol".
A coleção, formada por seis discos diferentes, se tornou lendária para a história do esporte carioca. Naquele período, ela ajudou a emplacar, além da marcha do cruzmaltino, as canções dos rivais Fluminense e Botafogo como hinos populares.
História
É difícil apontar ao certo o motivo da marchinha de Lamartine Babo ter superado, no quesito popularidade, os outros cânticos cruzmaltinos. Fato é que ele tem diferenças importantes quando comparado aos dois.
Em relação a “Meu Pavilhão”, a canção de Lalá conta com um vocabulário mais simples, mais próximo ao linguajar popular. Já na comparação com “O Clangoroso”, a música de meados de 50 é muito menor e, consequentemente, mais fácil de lembrar. São apenas três estrofes diferentes na composição de Babo contra oito na de Joaquim Barros Ferreira da Silva.
Em termos de significados, o ponto de partida do curto e famoso hino do Vasco são as conexões do clube com Portugal, fazendo referência, na primeira estrofe, ao que são símbolos lusitanos eternizados no período das Grandes Navegações.
O primeiro deles é “Cruz de Malta”, que acabou se tornando um sinônimo da instituição nacionalmente. Sobre esse item, no entanto, é necessário esclarecer uma questão que perpassa diversas décadas: a cruz do Vasco é mesmo a "Cruz de Malta"?
De acordo com Walmer Peres, historiador e Coordenador do Centro de Memória do Vasco, a cruz que simboliza a entidade é a “Cruz de Cristo”, derivação da "Cruz da Ordem Militar de Cristo", muito comum nas caravelas portuguesas utilizadas no período das Grandes Navegações. Trata-se de uma versão do ícone religioso com os contornos preenchidos internamente.
No Brasil, essa figura era conhecida popularmente como “Cruz de Malta”. Por isso, o hino a nomeia de tal forma. Ao contrário do que muitos pensam, no entanto, nunca se tratou da “Cruz da Ordem de Malta”, que tem oito pontas. Foi apenas uma convenção social da época.
— A Cruz do Vasco, que os fundadores deram, é a “Cruz de Cristo”, toda encarnada, toda vermelha. Quando o Vasco foi fundado, era comum você ver a reprodução da “Cruz de Cristo” toda vermelha em períodos, quadros e produtos. Era marca do seu tempo. E era uma forma popular de se referir a essa cruz como a “Cruz de Malta”. Não é a “Cruz da Ordem de Malta” - afirmou.
Seguindo nas linhas iniciais, a composição de Babo cita Vasco da Gama, navegador português que dá nome à instituição que surgiu, originalmente, como clube de esporte marítimo, o remo.
O personagem histórico foi figura primordial no sucesso da nação lusitana, na expansão marítima, ao conseguir estabelecer a rota até a Índia a partir do contorno do continente africano, trajeto importante para a prosperidade do império. Na segunda estrofe, a música destaca o brilhantismo e a grandeza do clube, que extrapolou o estado do Rio de Janeiro e conquistou popularidade nacional.
Por fim, Babo exalta a presença da instituição em diferentes esportes, não se restringindo somente ao futebol. Inicialmente, lembra do atletismo, muito importante na história clube, sobretudo na primeira metade do século XX. À época, o cruzmaltino chegou a contar com medalhistas olímpicos como Adhemar Ferreira da Silva e José da Conceição.
Vegetti 🆚 Maxi Lopez 🆚 Cano (primeiros 16 jogos de Brasileiro pelo Vasco):
— EstudeVasco (@EstudeVasco) November 16, 2023
▪️titularidades: 15 - 15 - 16
▪️gols: 9 - 7 - 7
▪️assists: 1 - 4 - 0
▪️gols de pênalti: 2 - 4 - 1
▪️gols de vantagem*: 5 - 2 - 5
▪️gols de empate: 2 - 4 - 1
*gols que colocaram o time em vantagem no… pic.twitter.com/IePijeqW1y
Mas o remo é o grande destaque do trecho, colocado pela letra como “imortal”. A modalidade aquática foi a responsável pela fundação do Vasco, ou melhor, do Club de Regatas Vasco da Gama. Desde o ano seguinte ao nascimento, a agremiação figurou em competições do esporte e a chegada ao topo foi relativamente rápida. Em 1905, o cruzmaltino foi campeão carioca de remo pela primeira vez e ainda conseguiu emendar o bicampeonato no ano seguinte.
Entre as décadas de 1940 e 1950, a força do Vasco na modalidade atingiu um patamar sem precedentes, com 16 títulos cariocas consecutivos na modalidade. O período de glórias serviu para consolidar a instituição que, atualmente, conta com 46 conquistas regionais, e mais de uma dezena de triunfos no Campeonato Brasileiro, somando as participações masculinas e femininas.
Fonte: geMais lidas
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