Léo Jabá recorda drama e se emociona com estreia pelo Vasco
Se o pai de Léo Jabá chorou quando soube que o filho defenderia o Vasco, a emoção foi ainda maior e geral na família do atacante vascaíno após a estreia, nos 2 a 1 sobre o Tombense, na última quarta-feira, em Minas Gerais. Seu Silvan foi às lágrimas de novo, Eduarda, a esposa, "se tremeu toda", e Dona Rosângela (mãe) e o irmão (Leandro) completaram a festa. Os oito minutos em campo, com direito a uma arrancada em alta velocidade, tiveram enorme significado para Jabá, que deixava um trauma para trás.
O atacante de 22 anos não jogava desde 11 de setembro de 2020, quando entrou aos 44 minutos da vitória por 1 a 0 do PAOK sobre o Larissa, pelo Campeonato Grego. Em fevereiro do ano em questão, vivera o momento mais delicado de sua vida. Estava em franca evolução no processo de recuperação de uma cirurgia no joelho direito, realizada em novembro de 2019.
Quando se preparava para iniciar a transição para o campo, em fevereiro, contraiu a bactéria staphylococcus aureus. Chamou atenção, porém, o fato de ela ter se manifestado somente dois meses após a operação.
- Alegria imensa, meu pai me mandou uma mensagem falando que chorou de me ver correndo. Foi muito difícil o que passei em fevereiro de 2020. Fiquei 10 noites deitado numa cama, eu não aguentava ver luz, não mexia em celular. Fiquei quatro ou cinco dias sem mexer porque não aguentava ver a luz. Isso por causa da bactéria. Eu não pedia nem para jogar bola, eu pedia para andar (leia mais sobre o problema nos tópicos da entrevista).
Além do drama que o deixou sem colocar o pé no chão por um mês e o fez ter até mesmo medo de morrer, Jabá teve de enfrentar outro obstáculo: a mudança do comando médico do PAOK. De acordo com o atleta, o responsável pelo departamento queria operá-lo mesmo sem ele apresentar qualquer incômodo. Procurou especialistas, obteve laudos que atestavam suas condições de jogar, mas ainda assim seguia impedido de atuar pelo clube grego. Daí partiu o desejo de procurar um novo destino.
- Aí tive que ir para Portugal para me consultar com o doutor Noronha, um especialista que trabalha com o Cristiano Ronaldo e com a seleção portuguesa. Ele disse: "Você não precisa operar, só tem que ganhar força e jogar futebol. Você vai ganhar força jogando e com a prática de treinos e jogos, que compõem a dinâmica".
- Em dezembro fui para o Brasil, e o doutor Joaquim Grava me deu a mesma resposta. Não precisa operar, tem que jogar e fazer o trabalho de força que todo atleta com lesão no joelho faz. Passei por outros dois médicos e tive quatro laudos afirmando que eu não precisava operar. Então desgastou muito a relação no PAOK. Por isso sempre falei que queria procurar um novo ar, um novo ambiente para jogar e conquistar minhas coisas de novo. E, graças a Deus, eu estou no Vasco.
Confira abaixo passo a passo de como foi o drama de Léo na Grécia e também veja o que ele falou sobre a alegria de estar defendendo a Cruz de Malta:
Significado da estreia
- Queria agradecer a Deus porque foram tempos bem difíceis, minha última partida foi em setembro. Cheguei a comentar com Alexandre Pássaro e com a minha família também que deu um frio na barriga pelo fato de estar há muito tempo sem ter a rotina que todo jogador tem.
- Fazia muito tempo que eu não vivenciava isso. Passou um filme na minha cabeça com várias coisas, como superação. Desde o primeiro dia em que cheguei ao Vasco fui muito bem recebido. Parece que eu sou criado na base do Vasco. Foram poucos minutos, mas foram minutos importantes. Para mim, foi como se fossem 90 minutos, até pela classificação, que foi muito importante para nós.
Início do drama: bactéria surge dois meses após a cirurgia
- Foi uma bactéria hospitalar, mas atacou em mim depois de dois meses. Eu operei no dia 21 de novembro (de 2019), cirurgia top, tranquila. A previsão de volta era de três meses. Em dois meses, eu já estava correndo na piscina sem dor e sem nada. A evolução estava top, e os caras falaram numa quarta que na segunda-feira seguinte começa a transição no campo.
Dores insuportáveis
- Na quinta-feira, eu acordei e, graças a Deus, eu tinha uma senhora que trabalhava na minha casa. Ela sabia de tudo. Nessa noite, ela ficou até tarde na casa. Dei boa noite, dormi e acordei no outro dia com muita dor.
- Então ela sabe. Cheguei no clube, e os caras perguntaram: "O que você fez? Você aprontou". Fiquei sexta, sábado e domingo dormindo à base de injeções. Eu nem gosto de lembrar isso daí porque chega a me dar arrepios. Fui para o hospital, com febre de 40 graus, e o negócio foi complicado.
Você estava sozinho na Grécia?
- Falei para a minha mãe que eu estava com muita dor, e ela ficou desesperada. No dia que liguei para ela, eu tive que abrir o joelho num procedimento para tirar 20 litros d' água para limpar a bactéria. Ela disse que saiu correndo com meu irmão para arrumar as malas e ir para a Grécia.
Ficou quanto tempo sem conseguir andar por conta da bactéria?
- Fiquei com a perna para o alto um mês. Perdi 7 kg no período. Minha mãe ficou comigo, foi logo no início da pandemia.
Problema pessoal no PAOK após se recuperar
- Minha última partida foi em setembro de 2020, e aí aconteceu uma coisa no PAOK que eles acabaram não me colocando mais. A partir daí comecei a querer sair por empréstimo para respirar novos ares e dar continuidade ao meu trabalho. Depois só fiquei treinando e jogando amistosos.
O que "coisa" é essa que você disse que aconteceu no PAOK?
- Eu me machuquei em novembro de 2019 e operei. Depois de dois meses teve a situação da bactéria, foi muito difícil para mim e fiquei no hospital. Acumulou a isso o fato de que estávamos numa pandemia.
- Então acabou se tornando um período muito longo, mas em maio voltei a treinar e fiz a minha primeira partida. Fiz a pré-temporada completa, joguei 90 minutos em amistoso. Estava me sentindo bem, não 100%, mas estava me superando e em processo de evolução que todo atleta tem quando se machuca.
- Depois participei do primeiro jogo contra o Besiktas, pela Champions. Ganhamos e foi minha primeira partida depois de oito meses. Na semana seguinte, teve o jogo do Campeonato Grego. Aí teve uma mudança de departamento médico, e o médico chegou e falou que precisava me operar.
- Do nada isso. Aí falei: "Meu, como você vai botar na minha cabeça? Como vai me operar se não tenho dor e não sinto nada no joelho". Então isso aí me deixou um pouco triste e começou a desgastar.
Especialistas contradizem médico do PAOK e negam necessidade de cirurgia
- Aí tive que ir para Portugal para me consultar com o doutor Noronha, um especialista que trabalha com o Cristiano Ronaldo e com a seleção portuguesa. Ele disse: "Você não precisa operar, só tem que ganhar força e jogar futebol. Você vai ganhar força jogando e com a prática de treinos e jogos, que compõem a dinâmica".
- Em dezembro fui para o Brasil, e o doutor Joaquim Grava me deu a mesma resposta. "Não precisa operar, tem que jogar e fazer o trabalho de força que todo atleta com lesão no joelho faz". Passei por outros dois médicos e tive quatro laudos afirmando que eu não precisava operar. Então desgastou muito a relação no PAOK.
Opção por voltar ao Brasil
- Se eu pensasse no lado financeiro, poderia ficar na Grécia muito bem porque o país é top, a cidade onde moro nem se fala, pagam em dia, mas eu nunca quis ficar sentado no meu contrato. Tenho contrato até 2023 e sempre procurei jogar futebol, que é a minha alegria.
- Por isso sempre falei que queria procurar um novo ar, um novo ambiente para jogar e conquistar minhas coisas de novo. E, graças a Deus, eu estou no Vasco.
Conversa com o pai depois da estreia
- Fazia muito tempo que eu não sentia esse gostinho de dar alegria. E por tudo que nós passamos. Acho que vocês sentem pelo pouquinho que contei a vocês. Imagine um pai e uma mãe ver o filho e não poder fazer nada. O dinheiro ou o que você quiser fazer não vão conseguir curar.
- Eu chorava para poder andar, e os meus pais não podiam fazer nada. Quando acabou o jogo, eu ajoelhei e agradeci a Deus porque foi muito difícil todo esse tempo. Falei com minha namorada, que já digo que é minha esposa porque está comigo há quatro meses e passando várias coisas. Me apoiando quando estou triste e quando estava na Grécia.
Emoção do pai vascaíno
- E meu pai, por tudo que passou... Teve essa brincadeira que ele tinha dois times, mas no Nordeste você sabe. Vi uma entrevista do Pepe (zagueiro do Porto), e ele disse que torce para o Flamengo e para o Palmeiras. O pessoal do Nordeste tem muito isso de dois times.
- E o meu pai até 18 anos sempre foi vascaíno. Quando foi para São Paulo trabalhar, ele acabou conhecendo o São Paulo. O pessoal não entende, gosta daquela brincadeira.
- Mas para o meu pai acho que foi uma realização não só de um sonho, mas de muitas coisas. De ver seu filho voltar a jogar, que é a coisa que eu mais gosto de fazer. Depois de me ver chorando e sofrendo. E me vendo com a camisa do Vasco, que é um gigante. E eu tive sorte.
- Minha namorada também estava se tremendo, minha mãe, meu irmão. Muitas pessoas me mandaram mensagens positivas, o pessoal que cuida da minha carreira, o meu coach. Você tem que trabalhar muito a mente porque passam várias coisas na cabeça, então é preciso estar forte. É uma sensação muito grande, sério, sério...
Você estava há muito tempo sem jogar. Quando acha que terá condições de suportar 90 minutos?
- Quero ir nesse pouco a pouco. Joguei oito minutos na estreia, o ideal é ir aos pouquinhos. Tenho me saído bem nos treinamentos. Fiz um trabalho intercalado de força com resistência na primeira semana. Estou me sentindo bem, que é o mais importante. Se o Cabo precisar vou no meu limite.
O próximo jogo do Vasco é contra o Flamengo, no Maracanã. Já está com a cabeça no clássico e como será jogar no Maracanã com a camisa do Vasco?
- É um clássico diferente. Não sou carioca, mas desde que cheguei ao Rio de Janeiro escuto o pessoal falando sobre essa rivalidade. Estamos há um tempo sem ganhar do Flamengo (desde 2016). Vai ser uma final para nós. Clássico temos que ganhar. Sabemos da qualidade do adversário, mas temos que focar no nosso. Vamos fazer uma preparação muito boa e chegar preparados. São 11 de cada lado. Vamos trabalhar e temos grandes chances de sair com a vitória.
E o Maracanã?
- É o sonho de todo jogador jogar no Maracanã. Eu ainda não tive essa oportunidade. Vai ser especial, ainda mais com a camisa do Vasco.
E como é pensar em um Flamengo x Vasco, usando a camisa 7 do Edmundo, um dos maiores carrascos do Flamengo?
- Eu sei da grandeza do número (7) e da camisa do Vasco. Passa muita coisa na cabeça. Lembro da música "Edmundo é Animal". É uma responsabilidade grande, e gosto disso. Se eu tiver oportunidade no clássico, quero guardar o meu. Sei que será importante para mim e para a equipe. Um gol no clássico muda tudo, mexe com o ambiente.
- Todo mundo sabe da grandeza e da importância do Edmundo para o Vasco. Sou jovem, não peguei o auge dele, mas sei da minha responsabilidade e da honra que é usar o número dele no Vasco.
Você falou que gosta de responsabilidade. Quando você tinha 18 anos, no Corinthians, deu uma entrevista e falou que a pressão de jogar diante de 30 mil pessoas não era tão grande quanto a de um pai de família que saia cedo de casa para trabalhar e não sabia se voltaria com comida para casa. Você já passou dificuldade?
- Eu, graças a Deus, nunca passei dificuldade. Sou uma pessoa simples, vim de baixo e tenho o exemplo do meu pai (Silvan). Ele foi marreteiro e trabalhou em trem na Bahia. Minha mãe (Rosângela) veio de Pernambuco. Me inspiro demais nos dois, são meus ídolos, minha mãe é uma mulher guerreira, assim como meu pai. Eu já trabalhei em barraca, ajudei meu pai.
- Essa entrevista, em 2017, foi algo natural. Quando cheguei em casa vi a repercussão. Não foi algo programado, foi algo que senti. É a realidade, a gente faz o que gosta. É claro que tem a pressão, mas vocês também têm pressão na profissão. É natural. Cada profissão tem sua pressão. Se vocês não derem o melhor, vai chegar outro e pegar seu lugar como repórter. Comigo é a mesma coisa. Se eu não der a vida na quarta-feira, outro pegará a minha vaga. É o que gostamos de fazer.
Qual é o seu maior sonho com a camisa do Vasco?
- Hoje é um momento de reconstrução. Sabemos da realidade, não podemos ser hipócritas. Hoje o meu desejo é colocar o Vasco na Série A. Meu contrato acaba em dezembro. Depois vai ser brigar com os gregos para me deixarem jogar a Série A pelo Vasco (risos). Meu sonho é esse.
- Também quero ter o Caldeirão a meu favor. Tive a oportunidade de jogar uma vez contra, em São Januário, em um Vasco x Corinthians (2017). A torcida é apaixonante, e eu quero ela a meu favor. Espero que essa pandemia acabe logo.
Recado final
- Queria agradecer a oportunidade, aos meus companheiros e ao Vasco. Esse meu reinício vai ficar marcado para sempre para mim. O Vasco sempre terá um carinho no meu coração. Foi o clube que confiou e abriu as portas para mim, nesse momento da minha vida. Vou ser grato pelo resto da minha vida. Meu pai já tinha um carinho muito grande pelo clube, agora comigo lá... Ele, minha mãe e minha esposa sofreram comigo e agora é trabalhar bastante para colocar o Vascão de volta na Série A.
Fonte: ge