Futebol

Lateral Diany, do feminino, pode ir para o São Paulo em 2013

RIO - Quando não há guerra, o que mais se assemelha a um confronto é o esporte, na ótica dos militares. Em tempos de paz, a ordem unida é marchar rumo a 2016. Sem inimigos, existem adversários a serem superados no projeto das Forças Armadas de investimento nas modalidades. Inicialmente, a iniciativa visava aos Jogos Militares-2011, no Rio, e às Olimpíadas de Londres-2012. No novo ciclo, o foco são os Jogos Militares-2015, na Coreia do Sul, e, em casa, a Rio-2016.

A delegação brasileira retornou das Olimpíadas de Londres com três ouros, cinco pratas e nove bronzes. Das 17 medalhas, cinco individuais foram de militares: o ouro da judoca Sarah Menezes, da Marinha; e os bronzes do judoca Felipe Kitadai, do Exército; da judoca Mayra Aguiar, da Marinha; do judoca Rafael Silva, do Exército; e da pentatleta Yane Marques, do Exército.

- Não tenho patrocínio e não conquistaria o bronze se não fosse o Exército - ressalta Yane, que, no Rio, treina no Centro de Capacitação em Educação Física do Exército, na Urca.

Há 130 no Exército e 200 na Marinha

O esporte militar no país é regido pela Comissão Desportiva Militar do Brasil (CDMB, comparável ao Comitê Olímpico Brasileiro), filiada ao Conselho Internacional do Esporte Militar (CISM, com 133 países). Além dos Jogos a cada quatro anos, há mundiais anualmente.

- O investimento militar no esporte começou em 2008. Hoje, há 130 atletas no Exército e 200 na Marinha. A Aeronáutica depende de mudanças internas - conta o general Fernando Azevedo e Silva, presidente da CDMB. - A ideia surgiu depois de observarmos que Alemanha, França e Itália haviam ganho 40% de suas medalhas com militares em Pequim-2008. No Brasil, o modelo foi implantado pela Marinha em 2008, e pelo Exército, em 2009.

Além de terem militares de carreira que se dedicam ao esporte, as Forças Armadas lançaram o Programa de Incorporação de Atletas de Alto Rendimento. São abertos editais relacionando as modalidades, e os atletas se inscrevem em seletivas. No Exército, depois da instrução militar, os atletas entram como sargentos, e na Marinha, como marinheiros. De acordo com o general de brigada José Eustáquio Nogueira Guimarães, diretor de Pesquisa e Estudos de Pessoal e presidente da Comissão de Desportos do Exército, no início do ano foi lançado o quarto edital e já está sendo elaborado o quinto para o início de 2013, com 20 vagas substituindo alguns atletas que se aposentaram no último ciclo olímpico.

Pela Constituição, os atletas incorporados ficam por até nove anos, mas caso sofram lesão que os torne incapazes, são reformados. Nos Jogos de 2011, com os incorporados, o Brasil foi líder em medalhas, com 114, sendo 45 ouros.

- O programa prossegue depois dos Jogos Militares-2011. A presidente Dilma Rousseff quer revelar talentos com o Forças no Esporte (quarteis abertos a crianças e jovens). Vamos nos preparar para os Jogos Militares-2015 e para a Rio-2016 - antecipa o general Azevedo e Silva. - Em Londres, tivemos na delegação brasileira 67 militares, sendo 51 atletas (a delegação incluía 402 pessoas, sendo 259 atletas).

Para 2016, ombro a ombro com alguns que já tiveram a experiência olímpica em Londres, deverão estar no Rio outros ansiosos para poderem pendurar uma medalha no peito.

No Centro de Educação Física Almirante Heleno Nunes (Cefan), da Marinha, na Avenida Brasil, a goleira Luana, de 23 anos, da seleção de futebol da Marinha, treina ao lado de estrelas que já foram às Olimpíadas. Criada em Campo Grande, Luana começou no time de Ítalo del Cima, em 2009, antes de ingressar nas Forças Armadas.

- Em 2011, fomos campeãs dos Jogos, e este ano, viajei para o exterior, pela primeira vez, para o Mundial da Alemanha, onde ficamos em terceiro. É inexplicável defender a seleção. Até hoje me emociono. Sempre quis me profissionalizar, e a Marinha está me dando esta chance - afirma. - Treino com meninas que eu via só pela TV, como a Maicon, minha maior amiga. A Rio-2016 é o meu maior objetivo.

As marinheiras defendem o Vasco no Estadual, graças a um convênio, e vão decidir a taça com o Duque de Caxias em duas partidas, a partir de sábado. Mas a realidade do feminino, no Rio, ainda é precária. Aos 22 anos, a lateral Diany está no time desde 2011:

- Não tinha apoio, mas, agora, combino Marinha, futebol e estudos. Em 2013, talvez vá para São Paulo. Sonho com 2016, e as Olimpíadas são o ápice.

O pódio em 2016 é o objetivo da judoca peso-médio Laísa Santana, de 25 anos. Na Marinha desde 2009, chegou à seleção principal em 2010. Agora, recupera-se de grave lesão de joelho.

- Quando nem eu acreditava em mim, a Marinha acreditou. Atleta machucado, ninguém dá valor, mas sou tão bem tratada quanto os medalhistas. Devo muito à Marinha e quero trazer essa medalha - ressalta, com lágrimas cintilando nos olhos.

Capitão do Alemão sonha com 2016

No gramado, no tatame ou no mar, há esperanças. Juliana Poncioni Mota, de 24 anos, é marinheira desde 2009 e vem com medalhas no iatismo, na J-24 e HPE. Quer fazer bonito na 49er FX.

- Estou muito empolgada, velejando com a Larrisa Juk, que se inscreveu no edital para ser marinheira. Temos estrutura, e, em 2016, quero lutar por medalha, alcançando antes objetivos a curto prazo.

Na Espanha para o Ibero-Americano, o tenente João Alberto Andrade, de 23 anos, e o capitão Leonardo Vagner Moreira, de 34, atiradores de carabina, são militares de carreira no Exército. Eles treinam no Centro Nacional de Tiro Esportivo, em Deodoro.

- Estamos à disposição da Comissão de Esportes do Exército, liberados de serviço para treinarmos sete horas por dia - diz o tenente João Alberto Andrade, que recebe as armas do Exército, mas gastou R$ 10 mil na roupa e na munição, importadas da Alemanha.

Leonardo Moreira esteve, antes dos Jogos, no evento-teste olímpico de Londres. Em janeiro, ele cumpriu missão pelo Exército no Morro do Alemão.

- Carioca, conhecendo a área, sabia o quanto era perigosa - recorda ele, no tiro esportivo há dois anos. - Em 2016, não é para participar, mas sim para conquistar medalha.

Fonte: Blog Jogo Extra - Extra