Futebol

Jornalistas analisam o trabalho que Zé Ricardo terá no Vasco

Treinador retorna ao clube com a missão dlassificá-lo para a Série A de 2023.

Bem conhecido no Brasil, em especial no Rio, onde trabalhou em três dos quatro clubes considerados grandes, Zé Ricardo tem um desafio inédito neste retorno ao Vasco: montar um time (e um elenco) praticamente do zero. Na curta carreira, o técnico de 50 anos quase sempre assumiu times no meio da temporada com grupos fechados e, depois de boas arrancadas, os resultados minguaram até a demissão, em geral no começo do ano seguinte, ser consumada.

A diferença no contexto do 2022 que se avizinha, entretanto, é grande. Até o momento, o Vasco liberou nove atletas e não contratou nenhum. Não há sequer definição de qual dirigente comandará o departamento de futebol. Isso não significa necessariamente, no entender do clube, de pessoas próximas do treinador e de comentaristas ouvidos pelo ge, uma mudança no seu estilo. Com a marca de buscar sempre times equilibrados, Zé, a julgar pelo seu histórico, deve ter mais facilidade para melhorar o sistema defensivo do que a construção ofensiva, dois crônicos problemas do Vasco que fracassou na Série B em 2021.

- Ele sabe organizar bem, especialmente na defesa. São times seguros e sem problemas clamorosos na defesa, o que na Série B pode ser importante. Consegue mobilizar os times para competir, outro ponto interessante nesse contexto. O que ele teve problemas em algumas equipes foi ao ter de se organizar ofensivamente com o adversário totalmente esperando atrás. Então, os times tinham bom controle de bola e aproximações, mas com dificuldade de agredir. De transformar o volume em finalização. São marcas de trabalhos no Brasil, em geral, curtos, então, não pode ser rotulado. Acho que é uma boa escolha, ele pode fazer um time competitivo. Mas as interrogações são muitas: não sabemos o elenco e quem vai escolher esse elenco, afinal, ele foi anunciado antes de quem vai estar hierarquicamente acima dele - opinou Carlos Eduardo Mansur, jornalista do Sportv, do ge e do jornal O Globo.

De 2016, quando substituiu Muricy Ramalho no Flamengo, até fechar 2019 no Internacional, Zé mostrou uma preferência de montar seus times no 4-2-3-1. Chegou a ensaiar um 4-3-3 no Fortaleza. É um técnico que tem um estilo de defender com duas linhas de quatro clássicas, com o centroavante e o meia armador mais à frente - o que deixa o time no 4-4-2 sem a bola. Não são equipes que sufocam a marcação na frente, como recentemente Fernando Diniz tentou implementar no Vasco. Em entrevistas antigas, disse que tem uma forte influência do futebol italiano no jeito de montar as suas defesas e, após tirar a licença PRO de 2020 pela CBF, passou um tempo na Itália, onde fez intercâmbio em times como Lazio, Fiorentina e Milan.

- Acho que Zé Ricardo é um bom técnico, extremamente preparado, que alia estudo com gestão de elenco. Seus times normalmente possuem uma cara, uma identidade, ou seja, é possível ver o trabalho em pouco tempo. Talvez por uma questão de montagem de elenco, os trabalhos nos três cariocas foram mal quando viraram a temporada, e muitas vezes o time caía de rendimento. O Vasco em 2022 vai ser a primeira vez que o Zé irá pegar um time com carta branca para montar e remontar o elenco, um trabalho de reestruturação. Dentro dos nomes disponíveis e da realidade do Vasco, é um dos melhores nomes disponíveis e tem um diferencial que nem o Cabo, Lisca e Diniz tinham: já trabalhou diversas vezes no clube, conhece a política interna e isso pode pesar numa paciência maior, em especial durante o Estadual - complementou o jornalista Leonardo Miranda, do blog Painel Tático.

Em 2020, Zé Ricardo não trabalhou em nenhum clube. Em 2021, ficou apenas sete jogos no Qatar SC, o que torna qualquer análise complicada. Até então, embora tenha uma ideia clara, soube se adaptar às características do elenco que encontrou. O Flamengo tinha mais posse de bola, o Vasco, especialmente em 2017, jogava no contragolpe e o Botafogo e o Internacional atacavam também com bolas longas e velocidade pelos lados.

É comum ver suas equipes, na hora de atacar, usar a saída de bola com três jogadores , com um dos volantes recuando entre os zagueiros e e laterais espetados e abertos. Com isso, os atacantes de lado podem atuar pelo meio, abrindo espaço no corredor. Inversões de jogos e cruzamentos para trás são marcas características também.

- Normalmente, se pensa a fase ofensiva na parte final do campo. Mas para mim ela começa quando você retoma a bola. É quando começa a organização do time, de tomar a decisão de tirar a bola da zona de pressão, de fazer uma inversão de jogo... eu gosto do jogo posicional, sou adepto do jogo de posição. É criar espaços entre as linhas e ocupá-los para conseguir a finalização, que é a última ação. Então, você tem de atrair o adversário para criar os espaços principalmente nas costas dele. A partir dos espaços criados, você os ataca de forma coordenada - disse Zé, em março de 2020, ao participar de uma live do fut.4linhas.

Os números de Zé Ricardo

Flamengo

De 26 de maio de 2016 a 6 de agosto de 2017.

Demitido.

89 jogos: 47 vitórias, 25 empates e 17 derrotas.

Aproveitamento de 62,2%.

3º no Brasileiro 2016.

Eliminado na fase de grupos da Libertadores 2017.

Campeão carioca em 2017.

Vasco

De 23 de agosto de 2017 a 2 de junho de 2018.

Pediu demissão.

50 jogos: 22 vitórias, 13 empates e 15 derrotas.

Aproveitamento de 52,7%.

Assumiu o Vasco na 14ª colocação do Brasileiro de 2017 e terminou em 7º.

Com uma série invicta de 11 jogos, classificou o time para a Libertadores 2018.

Passou pela segunda e terceira fases, mas caiu na fase de grupos.

No Carioca de 2018, perdeu a final para o Botafogo nos pênaltis.

Botafogo

De 4 de agosto de 2018 a 12 de abril de 2019.

Demitido.

41 jogos: 17 vitórias, 11 empates e 13 derrotas.

Aproveitamento de 55,2%.

Assumiu o time em 12º lugar e terminou em 9º no Brasileirão 2018.

Eliminou Defensa y Justicia na primeira fase da Sul-Americana 2019.

Eliminado pelo Juventude na terceira fase da Copa do Brasil 2019.

Fortaleza

De 12 de agosto de 2019 a 27 de setembro de 2019.

Demitido.

Sete jogos: 4 derrotas, 2 empates e 1 vitória.

Aproveitamento de 23,8%.

Assumiu o time em 12º lugar e entregou em 15º no Brasileiro 2019.

Internacional

De 22 de outubro de 2019 a 8 de dezembro de 2019.

Contrato encerrou e não foi renovado.

11 jogos: 4 vitórias, 3 empates e 4 derrotas.

45% de aproveitamento.

Assumiu o time em sexto e entregou em sétimo no Brasileirão 2019.

Perdeu o clássico Gre-Nal.

Classificou o time para a Libertadores (segunda fase).

Fonte: Globo Esporte