Jornalista espanhol defende um Maracanã "popular"
Atento observador do Brasil nos últimos 15 anos, o jornalista Juan Arias é otimista em relação ao desfecho das manifestações que têm enchido as ruas do país de pessoas, revoltadas com os escândalos de corrupção e serviços públicos ruins. O espanhol, que escreve para o El País, acredita que a mobilização pode ajudar a fazer do novo Maracanã um estádio aberto a todas as classes sociais, apesar do processo de privatização envolto em polêmicas e do padrão internacional obtido com a reforma. Seria um destino diferente ao que recebeu o Sambódromo do Rio, palco dos desfiles de escolas de samba do Carnaval carioca, na análise de Arias.
- Espero que o Maracanã não vire um Sambódromo, só para os turistas. O Maracanã é um símbolo dos cariocas, é deles. Faz parte da cultura popular do Rio de Janeiro. Se fica elitista, perde muito - provocou o convidado do \"Redação SporTV\".
Construído em 1950, o Maracanã sempre foi marcado na cultura carioca como um local de reunião das massas. Uma de suas áreas emblemáticas era a antiga \"geral\", desprovida de assentos e cujo ingresso já chegou a custar R$ 1. Reformado para a Copa do Mundo de 2014, em gastos que alcançaram mais de R$ 1 bilhão, o estádio viu o setor acabar e foi repassado à iniciativa privada, através de uma licitação, pelos próximos 35 anos.
- Com todos esses protestos, terá de se ficar mais atento para ver como se gastou esse dinheiro. Se esses estádios ficarem para as pessoas mais ricas, e não para o povo, vai criar problemas. É negativo para o futebol. É inútil. Um jogo com caviar e champanhe não dá. O futebol é cerveja e pipoca. Perde muito o Brasil e o futebol - disse o espanhol.
Privatização sim, má gestão não
O jornalista José Eduardo de Carvalho, um dos autores do blog \"500 dias antes da Copa\", no jornal Estado de São Paulo, defende a gestão do Maracanã por uma empresa privada. Para ele, a concessão, se bem administrada, pode permitir um serviço melhor e o aproveitamento aberto a toda a população.
- A privatização, a princípio, pode ser boa. É uma questão de gestão. Se a privatização for melhor que a gestão pública talvez tenha a sensibilidade de permitir o acesso a um público que não seja elitizado. Isso não tem acontecido muito. Estamos muito desconfiados. O processo foi um pouco complicado, não foi transparente. Depende muito, agora, de como vai ser a gestão do Maracanã. Pode ser transparente e abrir para a \"não elitização\" - opinou.
Carvalho acredita estar em curso um processo a nível mundial de elitização do futebol. Uma tendência de preços mais caros, como nos ingressos, que não se resume ao esporte, mas a toda economia, afetando preços de hotéis, restaurantes e serviços.
- Na Europa também está elitizado. Começou na Inglaterra, na época da Margaret Thatcher (primeira-ministra entre 1979 e 1990). Qualquer estádio do primeiro mundo é caríssimo. Tentei ver um jogo no campo do Chelsea (Stamford Bridge, em Londres, na Inglaterra) e custava 120 libras (cerca de R$ 415). Preços proibitivos - disse.
O Maracanã deve voltar a sediar os jogos do Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil após o fim da Copa das Confederações, que acontece no dia 30 de junho. O edital de licitação obriga a empresa vencedora a assinar um contrato para a disputa de partidas no local de pelo menos dois times cariocas. No momento, Botafogo, Fluminense e Flamengo negociam mandos de campo com o administrador.