Futebol

Jornalista elogia trabalho de Jorginho: "O Flamengo foi engolido"

Foi deselegante, desleal e desesperada. A corrida de Wallace ao sair do túnel, correr para o centro do gramado da Arena Manaus, e fincar a bandeira do Flamengo, foi representativa. O capitão, o homem que deveria representar Muricy Ramalho em campo, mostrava ao país como o treinador está sem rumo. A ponto de permitir essa bobagem.

O técnico se tornou escravo da expectativa, convivendo com o fracasso previsível do início do trabalho.

O treinador viveu apenas quatro dos 24 meses que assinou de contrato. Já está sendo profundamente questionado. A eliminação precoce do Campeonato Carioca, a derrota contra o sergipano Confiança e, principalmente, os fracassos contra o Vasco, acabaram com a aura de técnico inovador, moderno que chegou à Gávea.

Aliás, ele era um dos alvos prediletos dos cerca de 80 torcedores que esperavam o time no aeroporto do Galeão, ontem de madrugada. A Polícia tentou proteger o ônibus que levava a equipe. Mas, raivosos, os membros das organizadas chutaram, esmurram o ônibus. E xingaram. Principalmente Muricy.

A costumeira festiva imprensa carioca também se cansou das indefinições táticas do treinador. Ele assumiu prometendo implantar o que mais moderno viu da Europa. Sem falar, deixou claro as influências. Tocaria a bola com a paciência e objetividade do Barcelona. Teria contragolpes mortais, em velocidade, do Bayern. Guerrero teria calos nos dois pés e na cabeça de tanto marcar gols, atuando como Suárez, sendo o homem da definição.

Só que nada disso aconteceu até agora. O Flamengo é uma equipe lenta, vulnerável, sem poder de marcação, sem mínima coordenação, incapaz de marcar sob pressão os times mais fracos. Os jogadores cheiram insegurança ao entrar em campo. Os conceitos são passados, mas não são entendidos. E, pelo que demonstram em campo, muito mal treinados.

É incrível a desilusão com Muricy Ramalho. Ele está completamente perdido, engolido por um tsunami. Não conseguiu evoluir como treinador, a ponto de aplicar a intensidade, a versatilidade, o arsenal tático que disse quer aprendido na Europa.

E nem consegue mais impor seu 'Muricybol', termo que inimigos seus usavam no São Paulo. Tática que consistia em abusar das bolas aéreas para jogadores fortes, altos ganharem da defesa adversária. Time sem nenhum brilho tático, técnico. Adepto do futebol força, de muita marcação, e excesso de cruzamentos pelo alto. Nem isso.

A direção do Flamengo acreditou piamente no seu planejamento. Tratar de tornar decente, digno do Flamengo, seu centro de treinamento. Impor um método de trabalho nas categorias de base. Mas para ter calma de executar esses fundamentais passos, ele precisaria de paz. E ela viria com resultados. Principalmente no fraco Campeonato Carioca. Insignificante como todos os estaduais.

De nada adiantou ter a maior torcida do país. Os investimentos no elenco não se justificaram. Guerrero, contratação caríssima, se tornou uma débil caricatura do atacante decisivo que era no Corinthians. Os resultados medíocres, contra adversários fraquíssimos. E nos clássicos, vexames.

"Como eu falei antes, eu tento perder para o Flamengo, mas não consigo - disse Eurico, enumerando tudo o que fez para ver se “conseguia” perder o jogo.

"Tirei o jogo de São Januário, acabei com o bicho, mas não tem jeito. Eles não conseguem ganhar da gente."

Essa foi a reação debochada de Eurico Miranda, após a vitória do seu Vasco, ontem em Manaus, por 2 a 0. Seu clube decidirá o título contra o Botafogo, que despachou o Fluminense.

Acuado, Muricy era a imagem do fracasso após a eliminação do Flamengo do seu objetivo mais fácil do ano. Tinha de explicar porque não conseguira levar a equipe nem à decisão do Carioca.

"A diferença foi que as chances que tivemos não fizemos, e o Vasco aproveitou. O segundo tempo também começou com a gente bem. Depois do segundo gol, a superioridade do Vasco foi incontestável. Nós criamos oportunidades, e o Vasco, claro, foi muito melhor depois dos 2 a 0", disse, superficial.

De propósito ele não entrou nos aspectos táticos. De como Jorginho soube matar seu time, marcando forte. Dominando as intermediárias. Usando e abusando da péssima zaga flamenguista e muito mal protegida. O Flamengo foi engolido taticamente.

O presidente Eduardo Bandeira de Mello está chocado. Não esperava tão fracos resultados com Muricy. Por mais que não tenha conseguido dar excelentes jogadores. Mesmo com o dirigente entendendo tão pouco de futebol, sabe que o Flamengo segue sem padrão tático. Parece um grupo de jogadores que se conheceu ontem. Muricy fala em 4-3-3 e 4-4-2, quando na verdade, o que se vê é uma equipe estática, sem variações. Parece time de pebolim.

O treinador está pedindo desesperadamente zagueiros, laterais e dois meias talentosos. Sabe que o material que tem nas mãos é fraquíssimo. E ele não está mostrando capacidade para tirar nada de bom desse elenco. Muricy tem a plena noção que o Brasileiro será muito mais difícil. E que se não houver uma mudança significativa do rendimento do time, a ameaça do inédito rebaixamento pode ser real.

Fonte: Blog do Cosme Rimoli