Futebol

Jornalista comenta entrevista de Eurico à ESPN: 'Simbólica'

A entrevista de Eurico Miranda à ESPN foi simbólica.

Deixou claro, transparente porque o futebol brasileiro está estagnado.

Pode ter novas arenas, frutos da Copa do 2014, trazida pela corrupta administração da Fifa. Mundial que difundiu estádios e elefantes brancos superfaturados para agradar governantes promíscuos. Blatter, Valcke ainda levaram deste país R$ 4 bilhões livres de impostos.

Pode vender jogadores por valores mais caros.

Ter descoberto o poder dos patrocinadores.

Engatinha nos naming rights.

Aprende a lidar com sócios-torcedores.

Mas a gestão dos clubes segue atrasada.

Reacionária.

Com o poder centralizado na figura de um presidente.

Ele faz o que deseja com o clube.

Desde contratar um goleiro condenado a 22 anos de prisão.

Por sequestro, assassinato e ocultação de cadáver.

Até liberar organizadas para dar prensa em jogador.

Ou expulsar do estádio um dos maiores ídolos do clube.

E manter trancadas e escondidas as dívidas com uma arena.

Os presidentes dos clubes brasileiros tudo podem.

Mas a maioria é hipócrita.

Usam conselheiros, técnicos, jogadores, organizadas como escudo.

E não assumem a mão de ferro.

Só existe um que não teme a opinião pública.

Faz exatamente o que os outros fazem.

Sem disfarces.

Não precisa e nem quer desculpas.

Eurico Ângelo de Oliveira Miranda tem 72 anos. Neste ano completará 50 anos de Vasco da Gama. Ninguém conhece o importante clube como ele. E também tudo que cerca a rotina vascaína. Mantém e não esconde profunda relação com as torcidas organizadas.

Domina os conselheiros.

É tratado como um rei.

Colocou um filho para comandar a base.

E outro no profissional.

Trata o Vasco como seu.

Assume, sem medo de consequências.

"Aqui no Vasco mando eu. Di-ta-to-ri-al-men-te."

Saboreia cada sílaba.

Ainda mais depois do fracasso que foi Roberto Dinamite.

O maior ídolo do clube teve uma administração vergonhosa.

Na ESPN, Eurico revelou as entranhas do poder.

Como os clubes brasileiros seguem décadas atrasados.

E que se contentam em apenas ceder seus melhores jogadores.

Os atletas que ficam por aqui não têm condições de atuar na Europa.

Não nos grandes clubes.

E por isso que as modernosas arenas seguem deficitárias.

As equipes se dobram diante da CBF.

E com presidente investigado pelo FBI.

Que teme sair do Brasil.

Mesmo assim, com poder para dobrar os clubes.

Fazer com que aceitem um calendário esdrúxulo.

Que sabotam as equipes classificadas para a Libertadores.

Implodem iniciativas como a Primeira Liga.

Acumulam jogos fracos e sem retorno financeiro.

Que aumentam as dívidas.

Mas sustentam no poder presidentes de federações.

E o atraso se perpetua.

Eurico Miranda já havia assumido algumas barbaridades.

"Eu trouxe o Fluminense direto da Terceira Divisão para a Primeira. Trouxe o Grêmio, trouxe o Bahia... Essa história de que caiu dentro do campo não existe. Eu sou contra a queda de clube grande. Você prefere jogar contra o Arapiraca ou contra o Fluminense? Os 'caras' falam tanto em profissionalismo. Os clubes grandes tem de ser preservados. É preciso que mecanismos evitem a queda dos clubes grandes.

"Vocês (jornalistas) têm a mania de falar que evitar a queda do clube grande não é legal. Não é legal porque não é com o seu filho. Não é com a sua mãe. Não é com o teu pai. As pessoas estranham ter duas mil pessoas nos jogos. Alegam vários motivos. Segurança, horário das partidas. Mas o que leva torcedor a campo é motivação. E ela está nos jogos entre clubes grandes. Eles não podem ser rebaixados como são no Brasil.

Essas declarações ele deu à Fox Sports.

Na ESPN também caprichou.

"Uma vez eu entrei em campo no vasco x paraná e o juiz começou a expulsar um, dois, três... Eu entrei em cmapo porque estou vendo que vão invadir em campo. Falei, 'Professor, a responsabilidade e é sua pelo que pode acontecer aqui. Você resolva'. Todas as vezes que eu entrei tinha motivo. Não entrei para agredir juiz. E se precisar, entro mesmo."

"(Sobre a acusação de ter ficado com o dinheiro de um jogo do Vasco, em 1997)"Na época, o tesoureiro levava uma parte da renda. Era cerca de R$ 20 mil. Pediram para eu levar. Ao chegar em casa, fui assaltado. Se foi armado ou não, não sei. Pode ser que tenha sido armado. Mas é ridículo dizer que eu fiquei... A gente mexe com milhões. Eu vou ficar com 27 mil de renda?

(Sobre seus filhos trabalharem no clube)"O Vasco tem 600 funcionários. Não é nepotismo. Eles têm competência. Encontrei a base arrasada. Meu filho que trabalha lá já estava lá antes. Alguns jogadores passaram e foram formados com ele. Para mim, era o melhor. O problema não é levar para este lado, do negócio da família Miranda... Nepotismo não tem nada ver. Isso é só funções públicas. Em não-públicas. O Vasco é entidade privada. Não botei meu filho para ganhar (dinheiro).

('Euriquinho' no futebol seria uma maneira de perpetuar a família no poder)."Que poder? Ele é melhor que todos [oposição] porque aprendeu comigo. Se quiser aprender como se administra o clube, passa lá uma semana comigo."

"(Sobre o Campeonato Carioca, que tem público médio de 2.346 pessoas)."De 0 a 10, eu daria nota 11. Eu gosto. Eu recebo R$ 1,2 milhão por cada jogo. Não importa o adversário. A federação não arrecada mais do que a gente."

"Eu posso falar da minha contribuição ao futebol brasileiro. Criei a Copa do Brasil. ganhamos a Copa América depois de 40 anos. Classifiquei o Brasil para a Copa da Itália. Depois saí da CBF, onde fiquei seis meses, para cuidar do que eu gosto, que é o Vasco. Sobre Ricardo Teixeira, não sabia de nada, era genro do Havelange, então tudo bem. O Marin era mais chegado a política do que futebol, mas ele teve uma conduta sempre, pelo menos para nós no convívio, um cara que respeitava...Agora apareceram essas coisas que fizeram. O Marco Polo, a única deficiência que eu posso dizer, é que não enfrenta. Estou à vontade porque eu sou de enfrentar.

"(Rivalidade com o Flamengo)."Não é marketing. Não faço tipo. Tenho 50 anos disso e mais tempo no futebol. E eu cresci vendo uma coisa que era feita, que o Vasco era colocado em segundo plano. de repente estavam fazendo, os colunistas eram Fluminense e Flamengo. Queriam transformar o Fla-Flu em um grande clássico mundial. O vasco não tem que ter comparação, com todo respeito ao Fluminense, não tem termo de comparação. Vi uma necessidade de ver o vasco como ele era, no confronto direto com o Fla, como eu coloquei. Hoje só torço pelo Vasco e para o Flamengo perder. O campeão brasileiro de 1987 é o Sport, reconhecido pela Justiça

"Se eu fosse para a Sibéria, o Vasco fechava"...

Fonte: Blog do Cosme Rimoli