Futebol

Jorginho, treinador do Figueirense, relembra a "Virada do Século"

O Jogo Aberto estreia uma nova seção, a J.A Entrevista. Vamos conversar com treinadores dos clubes brasileiros, falando sobre o processo de formação, as influências profissionais, um pouco das histórias que não aparecem nas entrevistas do dia-a-dia. Nosso primeiro convidado é Jorginho, atualmente no Figueirense, num papo com Maurício Neves. Boa leitura!

\"A meta é classificar para a Taça Libertadores\"

\"\"Jorginho começou a carreira no América e apareceu para o grande público coma seleção brasileira de juniores que conquistou o Mundial do México, em 1983. Ele era o lateral-esquerdo do time que ainda tinha Dunga e Bebeto. Onze anos depois, o trio repetiria o feito com a seleção principal. Em 1984, Jorginho trocou o Andaraí pela Gávea e o lado esquerdo do campo pelo direito. Com os joelhos de Leandro já desgastados, Jorginho assumiu a camisa 2 rubro-negra enquanto o lateral-direito campeão mundial foi desfilar seu talento na zaga central. Pelo Flamengo, Jorginho foi campeão carioca e brasileiro e jogou ao lado de seu ídolo Zico, até partir para o exterior. Bayer Leverkusen, Bayern de Munique, Kashima Antlers. Voltou ao Brasil para jogar uma temporada no São Paulo, duas no Vasco e três meses no Fluminense, onde pendurou as chuteiras. A aposentadoria não durou muito. Um pouco da história de Jorginho como jogador, e como se deu a sua formação como treinador, você confere abaixo.

Qual a sua conquista mais marcante como jogador de futebol, pelos clubes?

A Copa União de 1987 pelo Flamengo. Tiveram outras marcantes, como o Brasileiro e Mercosul de 2000 pelo Vasco, esta por ser uma virada inacreditável. Também me marcou ter sido campeão pelo Bayern de Munique metendo um gol na final, que eu comemorei homenageando o Ayrton Senna, como se pilotasse um carro de Fórmula 1. Fui campeão no Japão também, mas nada como ser campeão no Brasil. A torcida brasileira é diferente. Mas o time de 1987 do Flamengo era sensacional. Só o Ailton não chegou à seleção principal, todos os outros chegaram. Um time tão bom que o Aldair era banco, não era mole, não.

Como você se tornou técnico de futebol?

Eu sempre fui um jogador interessado pela parte tática, conversava com os treinadores. Mas quando parei de jogar, em 2002, estava cansado daquela vida de concentrações, viagens, de não ter finais de semana. Fiquei três anos curtindo muito a minha família, até que comecei a sentir saudade daquela adrenalina, da rotina do futebol. Coincidentemente, nessa mesma época, o presidente do América, o Reginaldo Mathias me convidou para o projeto do clube. Foi muito marcante, porque foi o lugar onde comecei a jogar futebol, e marcou o meu começo como treinador.

E um começo que reconduziu o América a uma posição de destaque…

Foi muito legal, poder decidir uma Taça Guanabara. Pena que fomos prejudicados, mas de qualquer modo foi um resgate, ver a torcida do América de novo no Maracanã, os torcedores dos outros times apoiando. A gente merecia aquele título.

Quais treinadores foram marcantes na sua formação como treinador?

Fui treinado por grandes nomes que naturalmente me influenciaram, como Zagallo, Telê, Parreira, Beckenbauer. Mas outros, que não tiveram tanta projeção, talvez tenham até me influenciado mais. Jair Pereira, Carlinhos, caras muito importantes taticamente pra mim. E o João Carlos, que me treinou no Kashima, foi um grande professor. Até hoje uso treinamentos que ele me passava. Teve o Lazaroni, muito injustiçado, mas que introduziu o esquema 3-5-2 no Brasil. E o Edu Coimbra me passou uma coisa fundamental, de não se preocupar só com o jogador, com o lado da competição, mas também com o ser humano, com a vida extra-clube. O Edu era um pai pra mim, ele me manteve nos juniores do América quando estive para sair, depois me levou para o profissional, me indicou para a seleção de juniores. E também foi fundamental na minha ida para o Kashima, que foi o grande salto financeiro da minha carreira. Mas isso, de se preocupar com o lado humano, une e fortalece o grupo.

E isso foi posto em prática também na sua passagem pela seleção, como auxiliar do Dunga? Parecia um grupo bem unido.

Não tenha dúvida. Nós sabíamos de tudo o que se passava com os jogadores, os problemas de família, as aflições. Estamos juntos em todas as situações. Acabamos perdendo um jogo decisivo, mas era um grupo forte e unido. Como, aliás, era a seleção de 1994, só que naquele ano tivemos a felicidade de ganhar.

Qual o melhor jogador com quem você teve a oportunidade de jogar?

Zico, sem dúvida. O cara era completo. Além de ser indiscutível como jogador, tinha a questão do caráter, era respeitador, sabia conversar com os mais jovens, dava o exemplo. Nos treinamentos, era o primeiro a chegar e o último a sair. Tudo o que ele faz, faz bem feito. Em campo, foi perfeito em todos os fundamentos, um craque total. Uma coisa que marcou foi quando ele teve aquela lesão no joelho, ele saiu de casa um mês e se mudou para a concentração do Flamengo, para fazer tratamento direto.

Dos gols que você marcou, qual o mais bonito e qual o mais marcante?

O mais bonito também é o mais marcante, quando fui campeão alemão em 1994, contra o Schalke. Eu matei a bola e emendei um balaço de esquerda, entrou no ângulo. E em 1987 teve o gol de cabeça contra o Botafogo, que marcou a arrancada do Flamengo.

Por falar em gol, você está agora em Florianópolis, onde você fez um gol importante para a sua carreira, o seu primeiro pela seleção profissional.

Pô, é mesmo! Não lembrava que tinha sido o primeiro… Como foi mesmo?

Foi contra o Equador, na Ressacada, em 1987. O Romário tentou driblar um zagueiro, você pegou a sobra, entrou na área e tocou por cima do goleiro. Foi 4×1 para o Brasil.

Ah, lembrei! Pôxa, não tenho esse vídeo… Mas é um sinal de que Florianópolis tem uma energia boa pra mim (risos).

Qual a sua impressão do futebol catarinense?

Muito boa. A qualidade técnica das equipes, mesmo das menores, é muito boa. Os times são estruturados, o estado colocou dois times na Série A, um na Série B. É um grande momento.

O Figueirense tem uma gestão profissional de futebol. O que você acha disso? Qual a sua participação no planejamento? Isso pesou para você ir para o Figueirense?

Pesou, claro. Estou gostando muito de estar aqui. Aqui estão grandes profissionais, gente que conhece muito de futebol. Os diretores conhecem e compreendem o dia a dia do treinador, do jogador… Tem o Renan, que era do vôlei, que trabalha a parte de marketing… Teremos reuniões mensais para passar relatórios, analisar as metas, nós pensamos juntos nos projetos para o clube. É um modelo a ser seguido.

Qual a meta do Figueirense para 2011?

Além de conquistar o campeonato catarinense, queremos fazer uma grande campanha no Brasileirão. O nosso objetivo, a gente sabe que é difícil, é chegar até a Libertadores. Claro o objetivo mínimo é permanecer na Série A, mas o que projetamos com meta, e estamos trabalhando duro para isso, é classificar para a Taça Libertadores.

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